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Estado de Minas TELEVISÃO

Série 'Independências' desconstrói a história oficial do 7 de Setembro

Criada por Luiz Fernando Carvalho e Luis Alberto de Abreu, produção da TV Cultura destaca importância de mulheres, negros e indígenas para autonomia do Brasil


04/09/2022 04:00 - atualizado 04/09/2022 07:45

Atriz negra Verônica Mucúna grita com o braço levantado em cena da série Independências
Verônica Mucúna faz o papel de Maria Felipa de Oliveira, baiana que resistiu à ofensiva de portugueses em Itaparica mobilizando negros e índios (foto: Leandro Pagliaro/Divulgação)
Que a história oficial da Independência do Brasil não é lá muito verdadeira, grande parte dos brasileiros já sabe – haja vista os distúrbios intestinais de Pedro I que o impediram de protagonizar a cena parecida com aquela pintada por Pedro Américo na tela “Independência ou morte”.


É o caso dos escravizados que articularam um levante no Sul de Minas Gerais, em 1821. O episódio se mantém vivo apenas devido à tradição oral, em algumas cidades da região. Conta-se que 20 mil negros exigiram a independência do Brasil, a instalação da Constituinte e a abolição da escravatura.

Os revoltosos se inspiravam na Revolução do Porto – movimento português de 1820, que pressionou D. João VI a implantar a monarquia constitucional. Não se sabe como os ecos do Porto chegaram às senzalas do interior de Minas.

Deitados, o ator Daniel de Oliveira, caracterizado como Pedro I, e a atriz Louisa Sexton, como Dona Leopoldina, se beijam na boca
Pedro I (Daniel de Oliveira) virou herói graças ao empenho de Leopoldina (Louisa Sexton) para tornar o Brasil independente (foto: Leandro Pagliaro/Divulgação)

Cansanção põe portugueses em retirada

Pouco se ouviu falar da bravura da ex-escravizada Maria Felipa de Oliveira na guerra da Independência da Bahia, em 1823. De acordo com relatos orais, quando os portugueses chegaram para atacar Itaparica, ela arregimentou indígenas, negros livres, escravizados e moradores para dar uma surra de cansanção nos invasores e incendiar as embarcações. Esta arma “de combate” é uma planta urticante que causa coceira infernal.

Outro personagem da história mal contada é o padre José Maurício, músico negro alçado a maestro da corte por seu enorme talento. Sua trajetória é comparada à de Mozart. Assim como o austríaco, que morreu na miséria, foi preterido pelo imperador e viu o principal rival, Salieri, escolhido para compor uma ópera real, o carioca perdeu o lugar para o operista Marcus Portugal e se viu à míngua ao final da vida.

Contudo, quando ainda colhia os louros de seu trabalho, padre José Maurício foi considerado o principal representante da estética musical brasileira, justamente no momento em que se consolidava a identidade nacional da ex-colônia portuguesa.

Essas e outras histórias serão contadas ao longo dos 16 episódios de “Independências”, série da TV Cultura que estreia no feriado de 7 de setembro e vai ao ar às quartas-feiras, às 22h.

Criada por Luis Alberto de Abreu e dirigida por Luiz Fernando Carvalho – dupla responsável por “Hoje é dia de Maria”, “Capitu” e “A Pedra do Reino”, produções da Globo que se tornaram destaques da TV brasileira –, a nova série resgata personagens e fatos históricos relegados ao segundo plano. Assinam o roteiro Alex Moletta, Paulo Garfunkel e Melina Dalboni, com base na pesquisa realizada pelo jornalista José Antônio Severo.
 
Atores Antônio Fagundes, de cenho franzido, e Ilana Kaplan, olhando para o lado, como D. João VI e Carlota Joaquina na série Independências
Antônio Fagundes e Ilana Kaplan interpretam D. João VI e Carlota Joaquina (foto: Leandro Pagliaro/Divulgação)
 

O elenco reúne Antônio Fagundes (D. João VI), Maria Fernanda Cândido (Maria Graham), Daniel de Oliveira (D. Pedro I), Gabriel Leone (D. Miguel) e Louisa Sexton (Leopoldina). As cantoras Fafá de Belém e Margareth Menezes fizeram participações especiais.

“Minha única condição para escrever a série foi não contar a história oficial. A historiografia que temos hoje é aquela elitista, concebida sob a ótica de Portugal. A minha proposta foi fazer um contraponto a essa narrativa”, afirma o dramaturgo Luis Alberto de Abreu.

Além do resgate de fatos e personagens pouco ou nada conhecidos, “Independências” aprofunda a abordagem sobre atores fundamentais daquele momento, que não foram tratados pela história oficial como mereciam. É o caso da imperatriz D. Leopoldina, primeira mulher de Pedro I, e José Bonifácio de Andrada e Silva.

'A historiografia que temos hoje é aquela elitista, concebida sob a ótica de Portugal. A minha proposta foi fazer um contraponto a essa narrativa'

Luis Alberto de Abreu, dramaturgo


José Bonifácio: abolicionista visionário

Ainda que Bonifácio tenha papel relevante na história oficial, os brasileiros se esquecem de que ele defendeu a abolição da escravatura, a reintegração dos indígenas na sociedade, o ensino profissionalizante universal e a reforma agrária. Os planos de Bonifácio foram frustrados por D. Pedro I, que, inclusive, decidiu expulsá-lo do Brasil.

“A série se dá quando os Andrada e Silva vão embora do Brasil. Esse é o fio condutor da produção”, explica Luis Alberto de Abreu.

O dramaturgo deixa claro que não se prestou a transformar a Independência em melodrama. “Independências” se preocupa em mostrar o que ocorreu para que o público reflita sobre as semelhanças entre o Brasil de hoje e o recém-fundado Império Brasileiro.

“Passados 200 anos, vemos que nenhuma das questões levantadas por Bonifácio foram resolvidas. Tivemos muitos avanços, mas os problemas são os mesmos. Mesmo assim, acredito que estamos vivendo um momento em que o futuro está aberto, de modo que muitas mudanças podem acontecer. Basta os brasileiros quererem essas mudanças”, afirma Luis Alberto de Abreu.

“INDEPENDÊNCIAS”

Série com 16 episódios. Direção: Luiz Fernando Carvalho. Criação: Luis Alberto de Abreu. Roteiro: Alex Moletta, Paulo Garfunkel e Melina Dalboni. Com Antônio Fagundes, Ilana Kaplan, Daniel de Oliveira, Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Louisa Sexton, Walderez de Barros, Isabél Zuaa, Alana Ayoka e Cassio Scapin. Estreia na quarta-feira (7/9), às 22h, na TV Cultura.

Ator Cauã Reymond caracterizado como Pedro I num navio do século 19
Cauã Reymond interpreta um imperador atormentado no filme 'A viagem de Pedro' (foto: Fábio Braga/Divulgação)

AGENDA DO BICENTENÁRIO

» FILME
Na quinta-feira (1º/9), estreou “A viagem de Pedro”, filme de Laís Bodanzky estrelado por Cauã Reymond e Luise Heyer. A cineasta buscou traçar um retrato íntimo de Pedro I, tomando como base a viagem de volta do ex-imperador a Portugal, após abdicar do trono brasileiro em favor do filho, que se tornaria D. Pedro II. O longa está em cartaz no Centro Cultural Unimed BH-Minas, às 18h15, e no UNA Cine Belas Artes, às 14h e 18h30.

» CORAIS
Adotando o tema “Liberdade”, o Festival Internacional de Corais (FIC) abre seu programa de comemorações do bicentenário da Independência, na quarta-feira (7/9). Ao longo de um mês, estão previstas 50 apresentações gratuitas em Belo Horizonte e cidades mineiras. A abertura ocorrerá em 7 de setembro, às 19h, na Igreja de Santa Teresa (Praça Duque de Caxias, 200, Santa Tereza), com Coral de Mil Vozes, Orquestra Sinfônica da Polícia Militar de Minas Gerais, Toninho Horta, Tadeu Franco, Murilo Antunes, Telo Borges, Ian Guedes, Rodrigo Borges, Mariana Brant e Beto Lopes.

» CONCERTOS
O Conservatório UFMG preparou programação especial para o bicentenário da Independência. Onze apresentações com entrada franca vão destacar artistas e obras de diferentes períodos e estilos da música brasileira nos últimos 200 anos. A abertura ocorrerá em 13 de setembro, às 19h30, com o show “O choro como patrimônio”, reunindo o grupo Flor de Abacate, Silvério Pontes e Ausier Vinícius.


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