Maitê Proença está no palco, descalça e de calça comprida, atrás de cortina de voal

Tela de voal e projeções acentuam o intimismo do monólogo "Pior de mim", escrito e interpretado pela atriz Maitê Proença

Dalton Valério/Divulgação

“Maitê, conta da Catarina!” O meme que viralizou quando a conexão de Maitê Proença falhou durante live com a socialite Narcisa Tamborindeguy não foi a única participação da atriz na internet durante a pandemia. Pelo contrário. Maitê desenvolveu e apresentou o monólogo “Pior de mim”, que depois de passar pelos formatos on-line e híbrido desembarca em BH com sua versão 100% presencial.

A travessia do on-line para o presencial demandou ensaios com o diretor Rodrigo Portella, diretamente de Barcelona. E houve mudanças no palco. A tela de voal recebe projeções gravadas ao vivo, que substituem a câmera de celular com a qual Maitê interagia na versão on-line.
 
Manter a câmera acabou sendo imposição do formato digital, mas de forma a fazer sentido no espetáculo presencial. O operador é um ator com quem Maitê interage ao longo da peça.

“Ele é silencioso, mas está no palco interagindo comigo. Tem toda uma riqueza visual agora” conta Maitê, que apresentará “Pior de mim” neste sábado (3/9) à noite, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH.

"As pessoas não gostam de nós porque somos maravilhosos, as pessoas gostam da gente pelas fragilidades"

Maitê Proença, atriz e escritora



Com suas histórias, ela quer estimular a reflexão. “Não conto histórias para que saibam de mim. A minha vida não interessa, nunca quis falar da minha vida. Sempre tentei manter a minha intimidade, mas certo dia, num programa de TV de domingo à tarde, parte da minha história escondida foi trazida a público. A partir daí, me vi obrigada a dar a minha versão”, diz ela.

“Fui para o lugar que nós todos temos, o lugar de tudo o que está escondido. Todo mundo tem esse lugar escondido. Você faz personas para uso público, acha que vai agradar mais caso se mostre de uma determinada forma”, comenta.

“É uma bobeira que a gente faz quando é mais jovem, porque você quer seduzir o mundo. Só que a gente não sabe nada do mundo. As pessoas não gostam de nós porque somos maravilhosos, as pessoas gostam da gente pelas fragilidades.”

Derrota aproxima as pessoas

De acordo com ela, a identificação entre as pessoas se dá por meio de frustrações, falhas, erros, inseguranças e fragilidades. “É na derrota que a gente se identifica”, sentencia.

A montagem, entretanto, é só vitória. Maitê Proença foi indicada ao Prêmio Cesgranrio de melhor texto. Em 2020, a versão digital ficou entre as melhores da modalidade na seleção feita pelo jornal O Globo e portal Observatório do Teatro.

Nestes tempos em que influenciadores das redes sociais posam como pessoas perfeitas, Maitê Proença mostra o lado oculto do ser humano. De acordo com ela, ignorar essa faceta é um processo doentio. “São doenças que fazem com que você esteja o tempo inteiro performando para fora, sem entrar em contato real com quem é, porque nem você gosta de você, nem você se aceita. Você mente para você. De tanto interpretar o imaginário alheio, a gente, às vezes, se faz aquela pessoa”, afirma.

Por esse motivo as pessoas adoecem, se apegam a remédios, sofrem de ansiedade. “Desempenhar 24 horas por dia tem um custo muito alto. Se fizer o contrário, você vai ao encontro de você mesmo”, ela acredita.

A peça é um mergulho interior compartilhado com o público. Volta e meia, a atriz posta vídeos da plateia eufórica ao final do espetáculo. Há um lampejo de libertação ali. Maitê Proença credita boa parte da atual fragilidade psicológica das pessoas a tragédias como a pandemia e a guerra na Ucrânia. A peça seria uma espécie de “unguento” para amenizar sofrimentos.

Os mineiros e Maitê

O livro que derivou do espetáculo tem capa desenhada pelo estilista belo-horizontino Ronaldo Fraga. Rodrigo Portella, o diretor, também é de Minas.

“O Rodrigo é da geração jovem de diretores. É o melhor deles, o mais premiado. Muito mineiro, fala do jeitinho que vocês falam, essa coisinha assim que dá vontade de descansar”, brinca. “E eu fiz Dona Beija, né? Ela era de Araxá e depois vai morar em Contagem, então visitei muito Minas por conta da revolução que foi a novela. Foi um negócio arrebatador no Brasil. A gente fez 42 pontos de audiência numa época em que as pessoas precisavam se levantar do sofá, ir mexer lá na televisão e tirar da Globo”, diz.

Depois de BH, Maitê iniciará a temporada paulistana de “Pior de mim”. “Escolhemos lugares pinçados a dedo para fazer um pouquinho antes de São Paulo”, conta. “Gosto da coisa meio misteriosa do mineiro. Quando você está conversando com mineiro, você sabe que tem mais alguma coisa, que ele não está entregando o ouro. Você vai para a Bahia, parece que o cara entrega o ouro rápido. No Rio de Janeiro também. Mas em Minas, você sabe que não. O mineiro só vai te dar se você merecer. O público também é assim”, garante.

* Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

“PIOR DE MIM”

Texto e atuação: Maitê Proença. Direção: Rodrigo Portella. Centro Cultural Unimed BH-Minas. Rua da Bahia, 2.244, Lourdes. Neste sábado (3/9), às 20h. Inteira: R$ 100 e R$ 120. Meia-entrada na forma da lei. Ingressos à venda na bilheteria do teatro e no site Eventim

Ilustração com mulher de costas e cactus na capa do livro O pior de mim

Ilustração com mulher de costas e cactus na capa do livro O pior de mim

Agir/Reprodução

“O PIOR DE MIM/UMA VIDA INVENTADA”

• De Maitê Proença
• Editora Agir
• 272 páginas
• R$ 40,90