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Estado de Minas MÚSICA

Zezé Motta interpreta a obra de Caetano Veloso no show "Coração vagabundo"

Cantora e atriz fará a reestreia do projeto Uma Voz, Um Instrumento em BH, no próximo sábado (16/7), acompanhada do pianista Ricardo Mac Cord


12/07/2022 04:00 - atualizado 12/07/2022 09:55

Com vestido de listras em tomara que caia, Zezé Motta olha para cima e sorri, em foto P&B
Zezé Motta diz que "houve avanços, mas temos muita luta pela frente, porque o racismo estrutural está aí, firme e forte" (foto: Jardiel Carvalho/Divulgação)

Criado em 2016 pelo gestor cultural e diretor artístico Pedrinho Alves Madeira, o projeto Uma Voz, Um Instrumento está de volta à cena, e quem marca a abertura da nova temporada é Zezé Motta, com o show em que interpreta a obra de Caetano Veloso. Acompanhada pelo pianista Ricardo Mac Cord, ela ocupa o palco do teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas no próximo sábado (16/7).

O formato intimista, em que o artista se apresenta sozinho ou acompanhado apenas por um instrumentista, é uma premissa do projeto, como o próprio nome entrega. Batizado “Coração vagabundo – Zezé canta Caetano”, o show estreou em 1990 e, volta e meia, vem à baila. Neste ano em que o cantor e compositor baiano completa oito décadas de vida, a apresentação emerge muito apropriadamente.

Zezé Motta diz que, com o passar dos anos, tanto a estrutura quanto o roteiro musical de “Coração vagabundo” sofreram alterações. Ela conta que, quando estreou, o show contava com as presenças de um violoncelista e um baixista, além de um pianista.

“Eu era acompanhada por um trio, mas, de uns tempos para cá, tenho apresentado esse show no formato piano e voz, para baixar os custos. Mas o importante é que fica bonito de qualquer forma”, ressalta.

"Coração vagabundo"

Ela conta que é com esse espetáculo que tem circulado desde que a melhora da situação epidemiológica permitiu a retomada das atividades presenciais. Além de prestar tributo a Caetano por seu aniversário de 80 anos, “Coração vagabundo” preenche a lacuna que a chegada da pandemia criou na agenda de divulgação do mais recente álbum da cantora e atriz, “O samba mandou me chamar”, que veio à luz em 2018.



“A gente tinha um cronograma de lançamento, mas, infelizmente, acabei só fazendo um show no Rio de Janeiro e um em São Paulo. Quando ia começar a rodar o país, chegou a pandemia. Foi um trabalho que fiz de forma independente e, agora, com a retomada das atividades, chegamos à conclusão de que circular com ‘O samba mandou me chamar’ sem patrocínio seria inviável. O ‘Coração vagabundo’ tem essa estrutura mais simples, que nos permite viajar mais”, diz.

Mexida no repertório

Diante da vastidão e riqueza da obra de Caetano, ela destaca que sempre dá uma mexida no repertório. “Sempre coloco uma música aqui, outra ali, substituo uma acolá”, diz. Zezé cita como exemplo “O ciúme”, que entrou a partir da retomada do show – que também foi apresentado de forma remota durante o período mais severo da pandemia. “É uma música pela qual estou apaixonada e que eu ainda não tinha descoberto, não tinha me atentado para ela”, aponta.

A cantora diz que o roteiro da apresentação traz outras novidades em relação ao que o público já tinha visto e ouvido anteriormente. “Alguém cantando” é outra “descoberta” recente de Zezé, que acabou incluída meio a fórceps no repertório, num lugar que, afinal, acabou conferindo um destaque extra à música.

“Quando resolvi que queria cantar, já estávamos com um roteiro redondinho e ficamos meio sem saber como encaixar. Eu já estava cantarolando no camarim e veio a ideia de deixar como música de abertura, que eu carrego na voz dos bastidores até o palco, o que tem tudo a ver com a letra”, diz Zezé, entoando a música: “Alguém cantando longe / alguém cantando muito / alguém cantando bem / alguém cantando é bom de se ouvir”.

“Sampa” é outra música incluída na atual versão do show. Zezé lembra que a canção, originalmente, estaria no roteiro, mas acabou ficando de fora porque ela não conseguia decorar a letra. “Agora estou lendo mesmo, então ela está lá. É uma música de muito peso no repertório de Caetano, não dava para ficar de fora”, pontua.

"O telefone tocou, eu atendi e era nada mais nada menos que Caetano Veloso. A gente se encontrava nos eventos, mas daí a ele me ligar em casa tinha uma distância. Ele se apresentou e perguntou se eu topava gravar essa música ("Miragem de carnaval") que ele tinha feito para o filme ("Tieta")

Zezé Motta, cantora e atriz

Roteiro musical

A cantora e atriz explica que, na hora de pensar o roteiro musical de uma apresentação, se deixa guiar por seu próprio gosto e intuição, mas também pensa no que o público gostaria de ouvir. Zezé aponta que não pode deixar de cantar, por exemplo, “Pecado original”, que registrou com grande êxito em seu primeiro álbum, lançado em 1978, ou “Tigresa”, que Caetano compôs pensando nela.

“Eu achava que essa história de ele ter feito ‘Tigresa’ para mim era invenção do povo, mas numa entrevista que deu há uns três anos, o próprio Caetano disse que, sim, tinha feito para mim. E na época eu tinha esse visual mesmo, usava esmalte preto, batom preto, era bem exótica, extravagante, sei lá”, diz, orgulhosa.

O público que for ao teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas poderá conferir, ainda, temas como “Luz do sol”, “Odara”, “Esse cara” e “Miragem de carnaval”, que Zezé gravou para a trilha sonora do filme “Tieta”, a convite de Caetano. 

“O telefone tocou, eu atendi e era nada mais nada menos que Caetano Veloso. A gente se encontrava nos eventos, mas daí a ele me ligar em casa tinha uma distância. Ele se apresentou e perguntou se eu topava gravar essa música que ele tinha feito para o filme”, conta.

Tamanho do mundo

Ela não esconde sua admiração pelo homenageado e diz que Caetano tem, para a história da música popular brasileira, “uma importância do tamanho do mundo”. Zezé diz que pretende continuar circulando com “Coração vagabundo” ao longo deste ano e que, dependendo das condições, pode, em algum momento, retomar o show de “O samba mandou me chamar”, abortado em virtude da pandemia.

A propósito, ela diz que, no período mais rigoroso de isolamento social, quando não podia fazer shows, sobreviveu de campanhas publicitárias – algo até então raro na sua trajetória. “Quando eu era jovem, eu não fazia propaganda. Agora, depois de menina idosa, é que eu tenho feito muitas, e estou achando muito legal”, diz, do alto de seus 78 anos.

Preconceito racial

O fato de ter estrelado apenas duas campanhas publicitárias entre os 30 e os 60 anos, no auge da carreira, Zezé atribui ao preconceito racial, que já foi bem mais enraizado em alguns meios, como o da propaganda. “Depois de idosa, me descobriram como garota-propaganda. Quando jovem, lembro-me de que só fiz comercial uma única vez, e nem foi ao ar. Achavam que pelo fato de eu ser negra, o produto ficaria encalhado, não venderia”, publicou recentemente em sua conta no Twitter.

“Dizer que não tivemos avanços no que diz respeito ao combate ao racismo no Brasil seria um absurdo, mas diariamente a gente ainda vê atitudes e recebe notícias de fatos que mais parecem indicar um retrocesso. Isso é muito triste. Houve avanços, mas temos muita luta pela frente, porque o racismo estrutural está aí, firme e forte”, observa.

Ela vincula esses indícios de retrocesso ao atual panorama político do país. “Estar sob um governo que naturaliza a homofobia e o racismo dificulta muito a nossa luta. A sensação que tenho é de que, depois de avançar nessas questões, estamos dando milhares de passos atrás, com um governante que usa o espaço que tem na mídia para fazer apologia da arma de fogo, da homofobia e do preconceito generalizado. É muito triste.”

Esperança Garcia

Além dos shows, que ainda estão engrenando um ritmo mais regular, e da publicidade, com que continua envolvida, Zezé também acaba de gravar um documentário, rodado no Piauí. Trata-se de “A carta de Esperança Garcia”, do cineasta Douglas Machado.

O filme é baseado na história de Esperança Garcia, uma mulher do século 18, negra, mãe, escravizada, que, em 1770, escreveu uma carta endereçada ao governador da capitania do Piauí denunciando as situações de violência que ela, seus filhos, outras mulheres e homens negros sofriam na Fazenda de Algodões, região próxima a Oeiras, a 300 quilômetros da futura capital, Teresina.

De acordo com juristas e historiadores brasileiros, o documento histórico pode ser considerado uma petição, pois apresenta elementos jurídicos importantes, como endereçamento, identificação, narrativa dos fatos, fundamento no direito e um pedido para que ela e os companheiros de senzala fossem resgatados.

Em 2017, a Comissão da Verdade da Escravidão Negra da Ordem dos Advogados do Brasil no Piauí (OAB-PI) publicou uma pesquisa intitulada “Dossiê Esperança Garcia: Símbolo de resistência na luta pelo direito”. No mesmo ano, dois séculos após a escritura da carta, a OAB-PI reconheceu Esperança Garcia como a primeira mulher advogada piauiense.

“Ainda não se sabe quase nada sobre ela, só que era escrava e sabia ler e escrever muito bem. Não é uma história conhecida. Sabe-se que Esperança Garcia existiu apenas por causa dessa carta”, conta Zezé, detalhando sua participação no documentário. “Visitamos a fazenda onde ela nasceu e a fazenda onde trabalhou como escrava, comigo entrevistando pessoas, gente que tem interesse e pesquisa essa história. Também faço a narração”, diz.

PRÓXIMAS VOZES

Confira a programação da temporada 2022 do projeto Uma Voz, Um Instrumento

19 de agosto
Zé Manoel (voz/piano) & Alexandre Rodrigues (sax), com o show “Do meu coração nu”, em que executa músicas dos discos “Canção e silêncio” e “Do meu coração nu” (indicado ao Grammy Latino em 2021)

1º de setembro
Zé Renato (voz/violão) & Paulino Dias (percussão), com o show “O amor é um segredo – Zé Renato canta Paulinho da Viola”

6 de outubro
Vânia Bastos (voz) & Ronaldo Rayol (violão), com o show “Superbacana”, em que ela canta músicas de Arrigo Barnabé, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Itamar Assumpção, Milton Nascimento 
e Paulinho da Viola, entre outros

“CORAÇÃO VAGABUNDO – ZEZÉ CANTA CAETANO”
Show de Zezé Motta pelo projeto Uma Voz, Um Instrumento, no próximo sábado (16/7), no Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes, 31. 3516-1360). Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia), à venda na bilheteria do teatro e no site Eventim


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