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Estado de Minas CINEMA

"Não tenho esse delírio de 'viver' o personagem", diz ator francês

Gilles Lellouche veio ao Brasil para divulgar três filmes rodados durante a pandemia, que integram a seleção do Festival Varilux de Cinema Francês


26/06/2022 04:00 - atualizado 26/06/2022 08:15

O ator Gilles Lellouche em joalheria cercado de oficiais nazistas em cena de 'O destino de Haffman'
Em "O destino de Haffman", ambientado na França ocupada, personagem de Gilles Lellouche é empregado que assume o negócio do patrão judeu (foto: Julien Panié/Divulgação)


Rio de Janeiro – Você deve ser o ator que mais trabalhou na França durante a pandemia, não? Gilles Lellouche dá uma risada antes de responder: “De fato, trabalhei muito, mas isso não quer dizer que não houve inconvenientes. Foi muito difícil filmar nas condições que tivemos”. O francês veio ao Brasil para lançar três filmes, todos rodados entre 2020 e 2021.

Astro da 13ª edição do Festival Varilux de Cinema Francês, Lellouche, que completa 50 anos no próximo dia 5 de julho, é o único ator na comitiva de diretores que veio ao país para promover o evento. Com 17 filmes inéditos, o Festival Varilux segue até 6 de julho em 50 cidades – em Minas Gerais, as sessões estão ocorrendo em Belo Horizonte, Juiz de Fora e Ouro Preto.  

Os trabalhos recentes de Lellouche apresentados no festival são três narrativas dramáticas. Cada uma, direta ou indiretamente, conversa com os tempos atuais. “O destino de Haffman”, dirigido por Fred Cavayé, é uma adaptação de um texto teatral. Ambientado na Segunda Guerra, durante a ocupação nazista na França, o filme é alicerçado nas performances do trio de protagonistas: Daniel Auteuil, Sara Giraudeau e Lellouche.

O ator interpreta François Mercier, um homem simples, que, por puxar da perna, foi dispensado da guerra, o que lhe causa frustração. Apaixonado pela mulher, Blanche (Giraudeau), ressente-se também por não conseguir dar um filho a ela. Recém-contratado como assistente do joalheiro judeu Joseph Haffman (Auteuil), recebe dele uma proposta irrecusável.

"Não sou o tipo de ator que leva o trabalho para casa. Deixo sempre meus personagens no set, não tenho esse delírio de 'viver' o personagem"

Gilles Lellouche, ator francês


Negócio

Haffman vai lhe fazer uma venda de fachada de sua joalheria. De quebra, Mercier ainda poderá se mudar para o apartamento no andar superior da loja. Quando a guerra acabar, o joalheiro volta para o antigo negócio – mas o empregado ficará com os dividendos do período.  

Mas o joalheiro só consegue retirar do país sua família. Impedido de deixar Paris, volta para a própria casa. Porém, em outras condições: vivendo confinado no porão e com medo dos nazistas que estão, literalmente, batendo à sua porta. Mercier se tornou o joalheiro preferido de um alto oficial alemão e seu status social mudou. O outrora submisso assistente revela um lado autoritário, violento e sem nenhuma preocupação ética.   

A troca de papéis vai num jogo de espelhos até o final da narrativa. Para Lellouche, o processo foi complicado. “O destino de Haffman” estava sendo rodado quando houve o primeiro lockdown em Paris – as filmagens voltaram somente dois meses mais tarde, e adaptações tiveram que ser feitas no longa em decorrência das restrições do período.

Veja trailer de "O destino de Haffman":
 
 

“Não sou o tipo de ator que leva o trabalho para casa. Deixo sempre meus personagens no set, não tenho esse delírio de ‘viver’ o personagem. Só que, como houve essa interrupção, isto acabou pesando muito. Mercier é um sujeito desagradável, limitado e ainda carregava aquele bigode que é um estereótipo francês. Eu sentia como se ele estivesse sempre ao meu lado,  como uma lembrança ruim”, afirma.

Desagradáveis os dois protagonistas dos outros filmes não são – mas ambos passam por situações complicadíssimas, para dizer o mínimo. “É terrível a violência pela qual o personagem de ‘Krompromat’ passou, e é tudo verdade. Um cara totalmente inocente foi para a cadeia porque mexeu com um oligarca. Isto não é uma realidade só da Rússia, mas de outros lugares na Europa”, comenta Lellouche.

O ator gilles lellouche encara ator jeróme salle enquanto é algemado por ator interpretando um guarda em cena do filme Kompromat
"Kompromat": homem às voltas com esquema de acusações falsas (foto: Mares Filmes/Divulgação)

Tática

Em bom português, kompromat é uma antiga tática da KGB de chantagem a partir de informações. Em muitos casos, falsas. É o que ocorre com o diretor da Aliança Francesa em Iskutsk, na Sibéria. Mathieu (Lellouche) deixou a França com a mulher e a filha para assumir o posto no filme “Kompromat”, de Jérôme Salle, baseado em uma história real.

Sua vida se torna um pesadelo quando ele é acusado, falsamente, de pedofilia. Vira um alvo da FSB, o serviço federal de segurança da Rússia, quando consegue fugir da prisão. Seu próprio governo dá as costas para o personagem, que em dado momento afirma para o embaixador de seu país que entendia porque os russos consideravam os franceses covardes. 

Conta unicamente com a ajuda de Svetlana (a polonesa Joanna Kulig, do filme “Guerra fria”), casada com o filho de um integrante da própria FSB. Rodado na Lituânia, o thriller vai deixando o teor político e se tornando uma jornada pela sobrevivência de um homem, se aproximando dos filmes de ação de Liam Neeson.

Com camisa branca, calça e gravata pretas, segurando pasta em uma das mãos, gilles lellouche fala ao celular em cena do filme golias
"Golias": advogado luta contra megaempresa do setor de agroquímica (foto: Bonfilm/Divulgação)

Mocinho

Com boa recepção do público francês – fez 680 mil espectadores quando estreou, em março passado, um ótimo número para uma produção independente no cenário da pós-pandemia –, “Golias”, de Frédéric Tellier, coloca Lellouche do lado dos mocinhos.        

Ficção inspirada em escândalos de saúde pública dos últimos anos, “Golias” acompanha a luta de France (Emmanuelle Bercot), professora secundária e ativista ambiental que faz campanha contra o uso de agrotóxicos. Ela cruzará o caminho de Patrick (Lellouche), advogado outsider que está lutando contra um gigante agroquímico, Phytosanis, cujo herbicida, Tetrazine, teria matado uma cliente. 

A luta é dura contra um grupo de lobistas, em especial o ambicioso Matthias (Pierre Niney), pronto para fazer qualquer coisa para defender os interesses da Phytosanis. O longa acompanha, na primeira metade, as trajetórias individuais dos três personagens, que vão acabar se cruzando.

“Naturalmente, todo ator quer fazer o máximo possível de papéis”, afirma Lellouche que, até 2010, pautou-se por papéis em filmes mais ligeiros. “Fico feliz em ter tido uma evolução na carreira, principalmente por ter trabalhado com diretores que me colocaram em personagens que nunca me imaginaria fazendo. Foi um risco e ainda bem que deu certo. Agora, mesmo que estes filmes sejam dramáticos, também tenho feito comédias. Acabei de fazer Obélix”, comenta.
 

Recentemente ele interpretou o impagável personagem dos quadrinhos em “Astérix & Obélix: L’Empire du Milieu”, que tem previsão de chegar aos cinemas no ano que vem. Dirigido por seu grande amigo Guillaume Canet, com quem já dividiu a cena várias vezes, o filme traz ainda Marion Cottillard (aqui em seu quinto longa com Lellouche) e Vincent Cassel.

Lellouche, por sinal, vem seguindo os passos de Canet, outro ator que enveredou na direção. Seu segundo longa como diretor, “Um banho de vida” (2018), foi um sucesso tanto na França quanto fora. 

Um grupo de homens por volta dos 40 anos, todos em crise, se reúnem em uma equipe de nado sincronizado e partem em busca de uma competição na qual eles têm chances reais de saírem derrotados. Lellouche reuniu um time de grandes colegas para a comédia dramática: Canet, Mathieu Amalric e Jean-Hughes Anglade, entre outros.

“Minha intenção, com este filme, foi mostrar certa melancolia que atinge os homens em uma determinada faixa etária (que é a dele próprio). Acho que um lado mais feminino dos homens é pouco exposto no cinema”, acrescenta ele, que já tem a história de seu terceiro filme. “Será uma comédia romântica com muita música e ultraviolenta.”

A história será uma adaptação do romance “Jackie loves Johnser ok?”, publicada no final dos anos 1990 pelo escritor irlandês Neville Thompson. Dois jovens de uma gangue de Dublin se apaixonam, mas acabam separados e se reencontram muitos anos mais tarde, já com várias cicatrizes de uma vida à margem. 

Quando a leu, há muitos anos, Lellouche sentiu que a história falava de sua própria geração. E sonha alto com a adaptação, que terá três horas e será rodada no Norte da França.

*A repórter viajou a convite da Bonfilm

TRÊS VEZES 

GILLES LELLOUCHE


Confira onde ver filmes com o ator na programação do festival em BH

»  “O DESTINO DE HAFFMANN”
(2022, 116min., de Fred Cavayé, com Daniel Auteuil, Gilles Lellouche e Sara Giraudeau)
•Centro Cultural Unimed-BH Minas (segunda, 27/6, às 20h)
•Pátio (quarta, 29/6, às 16h40)
•Ponteio (sexta, 1/7, às 18h25; segunda, 4/7, às 21h10)
•UNA Cine Belas Artes (neste domingo, 26/6, às 16h10; quarta, 29/6, às 14h)
 
»  “GOLIAS” 
(2022, 122min., de Frédéric Tellier, com Gilles Lellouche, Pierre Niney e Emmanuelle Bercot)

•Centro Cultural Unimed-BH Minas (sábado, 2/7, às 17h50; terça, 5/7, às 16h)
•Pátio (segunda, 27/6, às 16h15)
•Ponteio (quarta, 29/6, às 16h30; sexta, 1/7, às 20h50)
•UNA Cine Belas Artes (quarta, 29/6, às 16h20)

»  “KOMPROMAT”
(2022, 127min., de Jérôme Salle, com Gilles Lellouche e Joanna Kulig)

•Centro Cultural Unimed-BH Minas (neste domingo, 26/6, às 19h50; quarta, 29/6, às 16h; sexta, 1/7, às 17h35)
•Pátio (neste domingo, 26/6, às 20h55; quarta, 29/6, às 14h)
•Ponteio (domingo, 3/7, às 21h05; quarta, 6/7, às 16h30)
•UNA Cine Belas Artes (terça, 28/6, às 14h)


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