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Estado de Minas ARTES VISUAIS

Telas dos artistas da Semana de 22 estão em mostra em cartaz em Ouro Preto

"Modernistas 1922-2022" tem também obras de 28 artistas contemporâneos produzidas em diálogo com o legado modernista


09/05/2022 04:00 - atualizado 08/05/2022 17:29

Vista geral da Casa dos Contos, em Ouro Preto, com obras expostas na mostra 'Modernistas 1922-2022'
A Casa dos Contos, em Ouro Preto, abriga as obras produzidas recentemente e telas dos modernistas originais, pertencentes à coleção de Carlos Eduardo Leal (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

As comemorações pelo centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 reverberam também em Outro Preto, com uma exposição que propõe para a efeméride um arco histórico. Com um olho no passado e outro no presente, a mostra “Modernistas 1922-2022 do Triângulo das Artes”, em cartaz no Museu Casa dos Contos até o próximo dia 23, põe lado a lado obras originais de nomes como Anita Malfatti, Alfredo Volpi, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, do acervo do colecionador Carlos Eduardo Leal, e as criações de um grupo de 28 artistas contemporâneos atuantes no eixo Rio-Minas.

A exposição é uma iniciativa do Triângulo das Artes, um consórcio entre a Casa Alphonsus Arte & Galeria, de Ouro Preto, a Arte4 Galeria de Arte, com sede em Búzios (RJ), e a Contemporâneos Galeria de Arte, que, no ambiente virtual, agrega artistas de sua base, no Rio de Janeiro, e também de Minas Gerais e de Málaga, na Espanha. 
 
O objetivo, segundo Lu Valença, criadora da Contemporâneos e curadora geral da mostra em cartaz na cidade histórica mineira, é promover o intercâmbio cultural entre os três polos artísticos, desenvolvendo ações virtuais e físicas nas três cidades.
 
Há seis anos à frente da Casa Alphonsus Arte & Galeria, onde mantém seu acervo fotográfico em exposição permanente, Eduardo Tropia também responde pela curadoria da mostra no Museu Casa dos Contos. Ele diz que “Modernistas 1922-2022” é resultado direto da criação, no início da pandemia, do Triângulo das Artes.
 
Obras na parede expostas na Casa dos Contos, em Ouro Preto, na mostra Modernistas 1922-2022
A visitação em Ouro Preto fica aberta até o próximo dia 23. A curadoria tem a intenção de levar a mostra a outras cidades do país (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)


“Naquele movimento de ficar em casa e das interações virtuais, acabei fazendo contato com a Lu Valença, que já me conhecia por meio de um trabalho que faço sobre a influência da China no barroco mineiro. Ela me convidou para participar da Contemporâneos e, a partir daí, a gente começou a pensar num seminário juntando as três galerias. Dessa iniciativa surgiu o Triângulo das Artes”, relata, acrescentando que o consórcio já realizou dois seminários e um evento presencial em Búzios.
 
Ele conta que, depois da ação no balneário fluminense, surgiu a ideia de levar os artistas ligados às três galerias para Ouro Preto. Tropia conseguiu reservar um período no Museu Casa dos Contos e propôs para seus parceiros do Triângulo das Artes a ideia de homenagear os modernistas com uma exposição. “O centenário da Semana de 22 é um assunto que ainda não tinha sido falado aqui em Ouro Preto”, pontua.
 
No grupo de 28 artistas que expõem suas obras na cidade histórica, a maioria é ligada às galerias do Triângulo das Artes, mas também há alguns convidados, como Carlos Bracher, Gê Fortes e Jorge Fonseca. Outro nome externo a esse grupo que foi convidado é o ator e artista visual Jonas Bloch, que atualmente mora em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto. Seu trabalho está em exposição na Casa Alphonsus.
 

A gente trabalhou no sentido de resgatar o orgulho de ser brasileiro e de "valorizar nossa própria cultura. Somos artistas que estamos produzindo em meio à pandemia em um país onde há um desmonte da cultura. Tudo isso teve um significado importante, até no sentido do nosso bem-estar psicológico"

Lu Valença, curadora da exposição

 
 
Tropia destaca que “Modernistas 1922-2022” ganhou um importante reforço com a adesão de Carlos Eduardo Leal, que ofereceu obras de seu acervo para integrar a mostra. Lu Valença, que é amiga e trabalha já há algum tempo com o artista e colecionador, conta que foi à casa onde ele mantém as obras, em Teresópolis (RJ), para fazer a seleção do que iria para Ouro Preto.

Rosto de homem negro em escultura em pedra, que integra a mostra 'Modernistas 1922-2022'
Entre as obras expostas, que têm distintos suportes e formatos, há também esculturas (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
Foi um trabalho difícil e, ao mesmo tempo, uma honra ter de escolher entre duas obras de Anita Malfatti, por exemplo. À medida em que Carlos Eduardo ia abrindo as embalagens com as obras, eu me emocionava cada vez mais. É impossível não se emocionar lidando com um acervo como esse”, diz a artista e galerista, acrescentando que procurou fazer uma montagem mais intimista, com obras que permitem uma maior aproximação do público. “É possível ver a pincelada do artista”, aponta.
 
Ela diz que o formato da mostra “Modernistas 1922-2022” serve como uma plataforma para os novos talentos e, ao mesmo tempo, oferece ao público a possibilidade da fruição de obras a que ele normalmente não teria acesso. 
 

"Buscamos seguir as proposições modernistas de você olhar para dentro do Brasil, ver seu povo com um olhar generoso e registrar todo o movimento social do seu tempo. Foi o que procuramos fazer. Estamos mostrando o que acontece no Brasil hoje e o que é preciso ser revisto e repensado"

Lu Valença, curadora da exposição

 
 
“Foi muito gratificante para mim poder juntar uma coleção tão expressiva e valiosa como essa do Carlos Eduardo Leal, de obras dos modernistas originais, com o trabalho de um artista que está começando agora ou de um que tem mais estrada, mas ainda não havia tido oportunidade de apresentar o trabalho”, comenta.
 
Ela diz que este é, precisamente, um dos principais objetivos do Triângulo das Artes, e é nesse sentido que se dá a maior parte das curadorias que assina. “É uma questão de misturar, renovar e promover o cenário das artes em toda a sua extensão”, sublinha. Ela observa que “Modernistas 1922-2022” é resultado de um esforço coletivo empreendido por todos os artistas envolvidos.
 
“Nós não tivemos nenhum incentivo governamental, não entramos em nenhuma lei, porque não havia tempo hábil, então os próprios artistas é que estão patrocinando essa exposição. Tivemos alguns apoios culturais, permutas com comerciantes de Ouro Preto, mas foi só. Nós, mais diretamente ligados à produção da mostra, desempenhamos várias funções. Eu fiz até o release. Mas valeu todo o trabalho que a gente teve”, destaca.

FORMATOS

Os 28 artistas ligados ao Triângulo das Artes ou convidados comparecem na mostra com diferentes tipos de obras. Quadros, esculturas em bronze, em cimento e em cerâmica, instalações de diversos tipos, desde as suspensas até as têxteis, e fotografias ocupam o espaço expositivo do Museu Casa dos Contos.
 
Lu Valença explica que os trabalhos apresentados estabelecem, de diferentes formas, diálogos com a produção modernista original. “Esse grupo de artistas se preparou durante um ano. Fizemos grupos de estudos e pesquisamos a fundo o movimento modernista. Com esses trabalhos em exposição, atualizamos os questionamentos e a temática modernista. Não temos releituras, mas sim obras fundamentadas no modernismo”, ressalta.
 
Ela diz que o período preparatório para a mostra foi atravessado pelo desejo e pelo sentimento de resgatar os símbolos do Brasil. A curadora considera a valorização da cultura autóctone, a propósito, o principal legado modernista.
 
“A gente trabalhou no sentido de resgatar o orgulho de ser brasileiro e de valorizar nossa própria cultura. Somos artistas que estamos produzindo em meio à pandemia em um país onde há um desmonte da cultura. Tudo isso teve um significado importante, até no sentido do nosso bem-estar psicológico”, diz.
 
Ela observa que as obras, no geral, têm uma intenção “não de provocar, mas de convidar à reflexão”. “Buscamos seguir as proposições modernistas de você olhar para dentro do Brasil, ver seu povo com um olhar generoso e registrar todo o movimento social do seu tempo. Foi o que procuramos fazer. Estamos mostrando o que acontece no Brasil hoje e o que é preciso ser revisto e repensado”, salienta.

OBRAS

Os organizadores da mostra também comparecem com suas próprias obras. Lu Valença diz que está presente com uma colagem digital impressa em canvas, batizada “Devastação”. “Escolhi dois temas para abordar: o meio ambiente e o racismo. Consegui fazer essa junção porque acredito que somos uma coisa só. O ser humano não está dissociado do meio ambiente”, argumenta.
 
Eduardo Tropia, por sua vez, participa com uma fotografia fine-art intitulada “Murus/Flor”, feita originalmente em 2013 para uma exposição que realizou no Museu da Inconfidência. Além de abrir o canal com o Museu Casa dos Contos, ele cuidou de toda a logística da produção local. “Não foi fácil, porque não pudemos contar com o apoio da prefeitura. Ouro Preto só está retomando agora o fluxo turístico. Tive que correr atrás de parceiros”, diz.
 
Ele celebra o sucesso que “Modernistas 1922-2022” tem feito desde sua abertura, no último dia 21 de abril. Para Tropia, a própria ocupação do Museu Casa dos Contos neste momento de retomada de uma certa normalidade pós-pandemia já é motivo de comemoração. 
 
“Em menos de 10 dias tivemos as assinaturas de mais de 2 mil pessoas. A mostra está repercutindo, tem um nível bom de visitação e os trabalhos, como um todo, estão sendo muito elogiados”, comenta.
 
Lu Valença diz que o Triângulo das Artes projeta levar “Modernistas 1922-2022” para o Rio de Janeiro,ao término da temporada em Ouro Preto. “Estamos na fase de fazer contatos para seguir com essa pauta.”
 
Ela acrescenta que o consórcio artístico mira diversas outras ações no horizonte. “Queremos fazer um terceiro seminário este ano. Os dois anteriores deram muito certo. Convidamos, em média, 10 palestrantes do círculo das artes visuais e também de outras áreas, como a psicanálise, para fundamentar algumas questões. Tivemos aulas e oficinas totalmente gratuitas nos seminários que realizamos”, diz.


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