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Estado de Minas LITERATURA

Nilton Bonder diz que pandemia ensina o ser humano a viver

Crise aguçou sentimentos e estimulou a valorização do relacionamento com o outro, diz o escritor, que lança o livro 'Cabala e a arte de apreciação do afeto'


27/02/2022 04:00 - atualizado 26/02/2022 22:45

Nilton Bonder
Nilton Bonder usa elementos da cabala para discutir o viver e existir neste momento de crise (foto: Leo Martins/divulgação )

"Se por um lado a existência ficou muito fragilizada e limitada, pois não podíamos sair de casa, encontrar pessoas e até o sustento para alguns ficou muito difícil, do ponto de vista dos afetos aconteceu o contrário. O ser humano passou a ter outra valorização para experiências da vida"

Nilton Bonder, rabino e escritor


Viver e existir, eis a questão? Bem, depende. Vivemos e existimos, não necessariamente nesta ordem, como explica o rabino e escritor Nilton Bonder.

“A dimensão da existência é a da sobrevivência. É quando a gente está sempre preocupado em garantir o sustento, ter saúde, são aspectos muito perceptíveis a todos. Agora, nem só de pão vive o ser humano. Há outra categoria tão importante que é o que chamo viver: é a maneira pela qual impacto o mundo e o mundo me impacta. Tem a ver com projetos e expectativas que, muitas vezes, não existem no mundo concreto.”

É a partir desta reflexão que Bonder dá início a seu novo livro. Com lançamento nesta segunda (28/2) pela editora Rocco, “Cabala e a arte de apreciação do afeto” é o quinto título dos sete previstos para a coleção “Reflexos e refrações”. É também seu 26º livro desde a estreia, em 1989, com “A dieta do rabino: A cabala da comida”.

“Me vejo muito misturado com os dois (o rabino e o escritor). Mas neste momento da vida, tenho propositalmente buscado menos a rotina do rabino, que tive por muitas décadas, e me colocado mais no trabalho da escrita da arte e da cultura”, diz Bonder, de 64 anos, 35 deles dedicados ao rabinato.

Gaúcho radicado no Rio de Janeiro, ele está à frente da Congregação Judaica do Brasil. É conhecido pelo pensamento progressista e pela intensa atividade no meio cultural.

Bonder já foi premiado com o Jabuti na categoria religião e tem volumes lançados na Holanda, Itália, Alemanha, China, Rússia, Coreia do Sul, Espanha, República Tcheca e nos Estados Unidos.
 

NO TEATRO COM CLARICE

A adaptação teatral de “A alma imoral”, com Clarice Niskier, é apresentada há 15 anos – em setembro de 2021, a atriz, comemorando 40 anos de carreira, fez uma sessão do monólogo no Cine-Theatro Brasil Vallourec, em BH. O livro acabou gerando um documentário e uma série homônima, com cinco episódios, lançados em 2018 pelo Canal Curta! – ambos dirigidos pelo cineasta Silvio Tendler.

A atriz Clarice Niskier está no palco, sentada numa cadeira, de frente para a plateia, durante a peça A alma imoral
A atriz Clarice Niskier durante a peça 'A alma imoral' (foto: Julia Lanari/divulgação)


Mais recentemente, Bonder trabalhou com a coreógrafa Deborah Colker. É dele a dramaturgia do espetáculo “Cura”, da Cia. de Dança Deborah Colker. A montagem, que estreou no segundo semestre do ano passado, será apresentada no Sesc Palladium, em 30 de abril e 1º de maio, e no Centro Cultural Usiminas, em Ipatinga, em 4 e 5 de maio.

Voltando ao tema que abre seu novo livro, ele diz que a pandemia deu uma mexida com o viver e o existir. “Se por um lado a existência ficou muito fragilizada e limitada, pois não podíamos sair de casa, encontrar pessoas e até o sustento para alguns ficou muito difícil, do ponto de vista dos afetos aconteceu o contrário. O ser humano passou a ter outra valorização para experiências da vida, como a gente se relaciona com o outro, já que tudo em nossos sentimentos foi amplificado. Durante um período, tivemos mais oportunidade de viver, já que ficou muito difícil existir.”

A crise sanitária, por sinal, permeia a coleção “Reflexos e refrações”. Todos os livros abordam aspectos fundamentais da experiência humana: risco, alegria, cura, sexo, afeto, poder e tempo, o tema do volume que encerra o projeto.

“Houve essa sintonia com a pandemia. O livro sobre a cura obviamente teve diferentes sentidos. O texto sobre a alegria foi também um desafio, assim como o do afeto”, afirma.

Em outubro de 2019, Bonder propôs o projeto à Rocco, sua editora desde a década de 1990, quando se tornou autor best-seller com “A alma imoral” (1998). “Era um compromisso absurdo, pois eu nunca tinha feito uma série com sete livros. Seria um trabalho de muita concentração e paciência. Poucos meses depois que comecei, teve início a pandemia. (Escrever os livros) Foi quase que uma terapia ocupacional para os últimos dois anos”, acrescenta ele, que já entregou à editora o sexto volume, que terá como tema o poder.

SISTEMA DA VIDA

A cabala, diz Bonder, atua como um sistema. “Sistema é uma maneira de ver alguma coisa em suas particularidades. As estações do ano, por exemplo: primavera, verão, outono, inverno, são algo que inventamos, nossa maneira de criar um sistema.”

Com a cabala, explica Bonder, não é muito diferente. “Ela é como uma plataforma com elementos para que você olhe o mundo por vários filtros. Nenhum deles é absoluto, fazem parte do sistema da vida.”

No filtro do afeto, tema do livro, ele apresenta sua análise por meio de quatro dimensões: desejo, percepção, motivações e desejo físico. “Tento no livro fazer um recorte para você pensar sobre você mesmo. O olhar do afeto é muito importante. Todos os animais são afetados, têm emoções, mas somente o ser humano tem apreciação.”

Há aspectos positivos e negativos. “A apreciação dos afetos nos dá qualidade, nos oferece uma amplitude maior de viver a vida. O que chamo de afetação é diferente do afeto. As afetações vêm do desejo de controle que o ser humano desenvolve. Apego é outra afetação emocional, assim como a arrogância. Então, há dois caminhos: você pode apreciar os afetos e ir para um lugar mais poderoso, ou você produzir aspectos negativos.”

SABEDORIA 

Bonder faz esse caminho da forma palatável e direta. “Não é um livro de psicanálise ou do mundo religioso. É simplesmente uma leitura em que uso de sabedoria antiga para tentar mostrar quem a gente é, o que são nossos desejos, emoções e pensamentos. Na verdade, conhecemos muito pouco sobre as características dos elementos que compõem a nossa experiência.”

Todos os volumes da série são curtos, não ultrapassam 150 páginas. “Confesso que houve leitores que passaram sufoco (para acompanhar a leitura). Tenho como propósito para meus livros trazer um olhar realmente profundo, que não é só o olhar direto. São livros para refletir, estudar, e todos têm muitas quebras. Se no primeiro você pode estranhar um pouco, à medida que vai conhecendo os outros entende a estrutura. A partir dos vários filtros que compõem a série, talvez façamos um avanço para compreender a realidade em que estamos inseridos”, finaliza.

Desenhos de folhas sobre o fundo amarelo na capa do livro Cabala e a arte de apreciação do afeto, de Nilton Bonder
(foto: Rocco/reprodução)

“CABALA E A ARTE DE APRECIAÇÃO DO AFETO”

De Nilton Bonder
Rocco
144 páginas
R$ 44,90
Nas livrarias a partir desta segunda-feira (28/2)
 
 
 
 
 
 

COLEÇÃO REFLEXOS E REFRAÇÕES

>> “Cabala e a arte de manutenção da carroça” (2019)
>>“Cabala e a arte do tratamento da cura” (2019)
>>“Cabala e a arte de manutenção da alegria” (2020)
>>“Cabala e a arte de apropriação do sexo” (2021)


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