(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas TEATRO

Jorge Furtado e Guel Arraes discutem o bolsonarismo na peça 'O debate'

Roteiristas abordam o impasse da política brasileira com base no confronto entre Lula e Collor, em 1989. Hoje, a dupla participa do programa 'Roda viva'


20/09/2021 04:00 - atualizado 20/09/2021 07:44

Peça de Jorge Furtado e Guel Arraes aborda o bolsonarismo, relembrando o debate de Collor e Lula, em 1989
Peça de Jorge Furtado e Guel Arraes aborda o bolsonarismo, relembrando o debate de Collor e Lula, em 1989 (foto: TV Globo/divulgação )

Dois dos mais importantes roteiristas e diretores brasileiros, o pernambucano Guel Arraes e o gaúcho Jorge Furtado , trabalham juntos em projetos há 30 anos, desde a estreia do “Programa legal” (Globo), em 1991. E não é só a ficção que dá rumo à parceria – eles acompanham atentamente e trocam ideias sobre a movimentação política e social do Brasil, angustiados com as explosivas notícias que surgem quase a cada dia. Mas a realidade passou a ser um assunto de maior interesse depois de dois fatos.

“Relembrando com minha filha Julia o famoso debate entre Lula e Fernando Collor , em 1989, que foi decisivo para a eleição desse último, ela me perguntou: ‘O noticiário sobre o debate foi editado e vocês não fizeram nada?’”, conta Furtado, que comentou o caso com Arraes.

“Quando ouvimos um comentário do sociólogo e escritor José Almino, de que Machado de Assis, apesar de grande autor, quase não escreveu sobre a condição do negro, Guel e eu decidimos que precisávamos deixar um legado sobre esse momento atual, algo que apresentássemos aos filhos e netos quando, no futuro, eles perguntarem o que fizemos durante o governo Bolsonaro”, diz o roteirista gaúcho.

Livro 

A resposta é a peça “ O debate ”, cujo texto acaba de ser lançado em livro pela Editora Cobogó. Trata-se de uma história ficcional, mas com base na realidade. A ação se passa em outubro de 2022, no dia em que Lula e Bolsonaro vão participar de um decisivo debate imaginário no segundo turno das eleições presidenciais.

Os políticos, porém, não são personagens, mas Marcos e Paula, jornalistas que já formaram um casal e agora trabalham juntos no evento.

Marcos, de 60 anos, é o diretor do telejornal apresentado por Paula, de 42, que comandará o debate. Ambos não escondem que são antibolsonaristas, mas enquanto ela é favorável à divulgação de uma pesquisa pouco confiável que aponta o favoritismo de Lula, ele se apoia na ética profissional, que impede noticiar fato não comprovado.

“Enquanto discutem, Paula e Marcos provocam um debate sobre o debate”, comenta Arraes, justificando o fato de os personagens serem jornalistas. “Não queríamos recontar aquele debate de 1989, mas, para retratar eticamente aquele fato, era necessária a presença de repórteres. A discussão entre eles nasce da dúvida sobre qual é a melhor forma de enfrentar Bolsonaro.”

As conversas entre Marcos e Paula ocorrem nas raras pausas da transmissão, regadas a café e cigarros. Desse embate particular despontam questões importantes – entre elas, liberação do aborto, acesso da população a armas de fogo e retirada dos radares de velocidade nas estradas, além da corrupção.

O fim da relação amorosa (o casal se separou depois de 20 anos) inflama e contagia os argumentos políticos. “Para Paula, é chegado o momento de ruptura em todos os sentidos, pessoal e social”, comenta Furtado. “Nossa função foi mostrar que ambos tinham sua razão”, observa.

“Como fazem os bons jornalistas, ouvimos os dois lados”, completa Guel Arraes, para quem Paula atingiu o momento de ruptura necessário para sobreviver. “O Brasil sempre foi um país violento e racista, com alto percentual de machismo e elitismo, e é essa truculência diária que também inflama o debate dela com Marcos.”

GURU 

O argumento da peça, originalmente pensado como telefilme, foi enriquecido com todos os tipos de expe- riência. “Até me lembrei da primeira vez em que ouvi o Olavo de Carvalho, o guru dos bolsonaristas”, conta Furtado. “Como (o filósofo alemão Arthur) Schopenhauer, ele usa argumentos falaciosos para vencer um debate.”

Para Jorge Furtado, que já criou uma série sobre o jornalismo, a base da democracia é a imprensa livre. “Atualmente, é o escudo contra as ações de Bolsonaro”, afirma.  

None
(foto: COBOGÓ/REPRODUÇÃO)

“O DEBATE”
De Guel Arraes e Jorge Furtado
Cobogó
80 páginas
R$ 36

“RODA VIVA”
Guel Arraes e Jorge Furtado serão entrevistados nesta segunda-feira (20/09), às 22h, no programa “Roda viva”, da TV Cultura de São Paulo, com retransmissão na Rede Minas. A dupla vai falar de seu livro “O debate” e do panorama político do Brasil.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)