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Estado de Minas AUDIOVISUAL

A épica restauração de 'Napoleão', clássico do cinema mudo, daria um filme

Desde 2008, a reconstituição da obra-prima do diretor Abel Gance é realizada na França, com investimento de 2,5 milhões de euros


19/05/2021 04:00 - atualizado 19/05/2021 07:13

Albert Dieudonné (C) vive o imperador francês no filme mudo
Albert Dieudonné (C) vive o imperador francês no filme mudo "Napoleão", cuja reconstituição é realizada desde 2008 (foto: Telecineplay/reprodução)

Uma restauração titânica para um filme épico. Nos últimos 12 anos, nas profundezas de um forte do século 19, o renascimento de uma obra-prima do cinema mudo toma forma: “Napoleão”, de Abel Gance.

“É uma loucura”, resume Georges Mourier, responsável pelo projeto da reconstituição, orçada em 2,5 milhões de euros, na pequena sala abobadada que compartilha com sua editora, Laure Marchaut, desde 2008.

Sob a liderança da Cinémathèque Française, eles dão os últimos retoques na restauração desse importante e inclassificável patrimônio cinematográfico venerado por cinéfilos e diretores, entre os quais Francis Ford Coppola. Uma tarefa homérica que a dupla espera concluir até o final do ano.

SETE HORAS 
Relatando a juventude de Napoleão até o início da campanha italiana, o filme, exibido pela primeira vez em 1927, em versão de sete horas, é carregado por um sopro épico recheado de inovações visuais e narrativas (incluindo o famoso tríptico final, em três telas simultaneamente).

“Abel Gance é muito ousado para a sua época. Mistura o sublime e o trash, a luta na lama e a luta com sabre”, sintetiza Georges Mourier sobre a fita, que chama de “última superprodução” da era do cinema mudo. “Cada sequência é uma revolução cinematográfica”, garante.

Varridos pelo boom do cinema falado e esquecidos por anos, os rolos desta obra única e abundante se espalharam pelo mundo. Alguns foram perdidos ou destruídos.

“Gance não tinha noção de herança”, diz. Ele usava filmes anteriores para criar novamente. Há entre 19 e 22 versões de seu “Napoleão”. Resultado: os arquivos de Abel Gance formam um acervo disperso e “incrivelmente opaco”, explica o restaurador.

“Napoleão” foi restaurado várias vezes. Originalmente, Mourier e Marchaut pensaram em se limitar à missão de três meses para estabelecer alguma ordem nos arquivos da Cinémathèque. Finalmente, dedicaram uma década à tarefa, indo de surpresa em surpresa.

Rapidamente, Georges Mourier intuiu que trabalhos anteriores não conseguiram restaurar a obra de Abel Gance em sua forma original, a “versão grande”, de sete horas, apresentada em 1927, com alguns planos totalmente diferentes.

“É um filme Frankenstein”, cujas bobinas “se espalharam por todo o mundo”, comenta. Por vezes, elas são encontradas por milagre, sobretudo nas profundezas da Córsega, e recompostas pelos vários restauradores, explica Mourier.

Para entender como Abel Gance havia construído a cena em que Napoleão ouve a “Marselhesa”, o restaurador teve que traçar um plano com uma cópia encontrada em Roma e a seguinte em Copenhague, na Dinamarca.

“Mais do que costurar, fazíamos renda: tínhamos que desfazer os nós das antecessoras, sem romper a linha, e voltar a tecer na direção certa”, descreve.

Às vezes trabalhando imagem por imagem, a equipe analisou 100 mil metros de filme, alguns muito danificados ou extremamente inflamáveis.

Laure Marchaut jamais tira as luvas para manusear o filme. E se lembra do “cheiro forte de vinagre” que emanava da caixa dentro da qual a fita havia mofado.

ALMA 
Para preservar “a alma e a matéria” do longa e evitar o “efeito lifting” dos tratamentos digitais, a restauração das imagens exigiu processos químicos antes de scans de alta definição.

“Uma coisa é certa: o espectador nunca saberá de onde começamos”, garante Mourier. Porém, antes disso será necessário encontrar um local de projeção à altura.

Este filme “é feito para a comunhão do público”, afirma o pesquisador, que imagina uma projeção “para milhares de pessoas, com orquestra no palco”. (AFP)

EM CARTAZ NO BRASIL
O catálogo da plataforma Telecineplay disponibiliza uma das “versões” do filme “Napoleão”, de Abel Gance (1889-1981), cujo elenco reúne Albert Dieudonné, Vladimir Roudenko e Gina Manes. A cópia foi relançada pelo cineasta Francis Coppola em 1981. Tem 223min, está colorizada e traz trilha sonora assinada por Carmine Coppola, pai de Francis. A reconstituição ficou a cargo do historiador Kevin Brownlow. Informações: www.telecineplay.com.br




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