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Estado de Minas MÚSICA

Em clipe polêmico, Lil Nas X faz 'pacto' com diabo para atacar homofobia

'Montero (Call me by your name)' tem dança erótica no inferno, fruto proibido, referências bíblicas e tênis de Satã que acabou na Justiça


05/04/2021 04:00 - atualizado 05/04/2021 09:12

Lil Nas X no clipe %u201CMontero (Call me by your name)%u201D, que virou hit no aplicativo TikTok(foto: fotos: Youtube/reprodução)
Lil Nas X no clipe %u201CMontero (Call me by your name)%u201D, que virou hit no aplicativo TikTok (foto: fotos: Youtube/reprodução)


Muito embora o boom do TikTok tenha ocorrido em 2020, o aplicativo já produzia virais em 2019. Um deles impulsionou a carreira do rapper americano Lil Nas X, cujo single de estreia, “Old town road”, caiu no gosto dos usuários da rede social e repercutiu positivamente fora da plataforma. A canção quebrou o recorde de permanência no topo da parada Hot 100 da Billboard – foram 17 semanas consecutivas – e rendeu ao artista dois prêmios Grammy.
 
Agora, Nas X volta a chamar a atenção com o clipe da música “Montero (Call me by your name)”. A produção, assinada por ele em parceria com o diretor ucraniano Tanu Muino, usa referências cristãs como metáfora para contar uma história de amor e submissão vivida pelo rapper.

POLE DANCE Em uma das cenas mais emblemáticas, ele desce até o inferno em pole dance. Na sequência seguinte, faz uma dança erótica no colo do diabo. Antes disso, experimenta o “fruto proibido” num Jardim do Éden lisérgico e é apedrejado em uma arena por várias cópias de si mesmo.
No início do clipe, a narração diz: “Na vida, nós escondemos as partes de nós mesmos que não queremos mostrar para o mundo. Nós as escondemos; nós dizemos 'não' a elas; nós as banimos. Mas aqui não fazemos isso. Bem-vindo a Montero.”
 
O texto prova que, por trás da superprodução, cheia de intervenções gráficas, há uma mensagem. Assumidamente gay, Lil Nas X enviou por meio das redes sociais, em 26 de março, dia do lançamento do clipe, uma carta para si mesmo aos 14 anos.
 
“Caro Montero de 14 anos, compus uma música com nosso nome. É sobre um cara que conheci no verão passado. Sei que prometemos nunca revelar publicamente, sei que prometemos nunca ser ‘aquele’ tipo de gay, sei que prometemos morrer com o segredo, mas isso abrirá portas para muitas outras pessoas queer simplesmente existirem”, escreveu Nas X.
 
“Isso é muito assustador para mim, as pessoas vão ficar com raiva, vão dizer que estou forçando uma agenda. Mas a verdade é que estou. A agenda para fazer as pessoas ficarem longe das vidas de outras pessoas e pararem de impor quem elas devem ser. Mando meu amor do futuro para você”, completou.
 
“Montero (Call me by your name)” faz referência tanto ao nome de batismo do rapper, Montero Lamar Hill, quanto ao filme “Me chame pelo seu nome” (2018), de Luca Guadagnino, sobre um adolescente que se apaixona por um homem mais velho.
 
Desde o lançamento, a música virou hit no TikTok, caiu no gosto dos fãs do rapper e conquistou quem ainda não tinha esbarrado com o trabalho dele, mas também gerou controvérsia.

DEBOCHE O cantor de 21 anos, conhecido por sua presença nas redes sociais, usou o Twitter para responder a alguns detratores. Depois de debochar da polêmica criada em torno do vídeo, declarou o quão pessoal a produção é. “Preparei esse lançamento por nove meses. Vocês não vão ganhar”, avisa.
 
Ao ser perguntado se homens deveriam “se vestir de maneira andrógina e dormir com satã”, como mostra o vídeo, Lil Nas X responde: “Sim”. Em outro tuíte, afirma: “Vocês adoram dizer que vamos para o inferno, mas ficam chateados quando eu realmente vou pra lá”.
 
Depois disso, o rapper comemorou que a polêmica tenha chegado ao Facebook, compartilhando um post da rede social em que é chamado de “um novo nível de demoníaco”.
 
Nos últimos dias, Nil tem voltado às redes sociais para mandar recados aos descontentes com o lançamento. “Passei toda a minha adolescência me odiando por causa da merda que vocês pregaram que aconteceria comigo porque sou gay”, escreveu. “Então, eu espero que vocês estejam muito bravos, continuem bravos, sintam a mesma raiva que vocês nos ensinaram a ter de nós mesmos.”
 
Nascido no subúrbio de Atlanta, Sul dos Estados Unidos, Lil Nas X não só é contemporâneo de Billie Eilish, como surgiu na mesma onda que trouxe à tona a cantora e compositora de 19 anos. Os dois são de uma geração que nasceu conectada, para a qual o laboratório de criação pode muito bem ser o quarto onde cresceram, na casa dos pais.
 
A popularidade de Lil Nas X nas redes sociais veio antes de ele virar fenômeno musical. Mais jovem, ficou conhecido através de uma conta dedicada à rapper Nicki Minaj. Por causa disso, tentou cursar computação, mas desistiu.

COUNTRY Pouco tempo depois, compôs “Old town road”, cuja primeira versão foi lançada no início de 2019. Depois de viralizar no TikTok, a música ganhou remix com a voz de Billy Ray Cyrus – cantor country e pai da jovem estrela americana Miley Cyrus, cantora e atriz.
 
Aparentemente inusitada, a parceria Nas X-Cyrus selou ainda mais a mistura entre rap e country que a música propõe. Com mais de 700 milhões de visualizações, o clipe certificou o sucesso da empreitada. Nele, Nas X, caracterizado de cowboy, desfila a cavalo pela rua de um subúrbio qualquer nos Estados Unidos.
 
Apesar do êxito, o rapper não chegou a lançar um disco cheio – e talvez não faça isso tão cedo. O trabalho mais consolidado de sua enxuta discografia é “7 EP” (2019), com oito faixas, sendo que duas são “Old town road”. Outra música que alcançou relativo reconhecimento foi “Panini”.
Desde então, o rapper lançou o single natalino “Holiday”, em dezembro de 2020, e agora “Montero (Call me by your name)”.
 
Apesar disso, Lil Nas X é um dos artistas mais presentes nas redes sociais. Tem 6,1 milhões de seguidores no Twitter. No Instagram, são 7,1 milhões. No TikTok, 12,4 milhões.
 
Em todas elas, o rapper compartilha conteúdos criados por fãs com base no trabalho dele, provando que o melhor remédio é rir de si mesmo.
 
Satan shoes, criado pelo coletivo de arte MSCHF, foi vendido a R$ 5,8 mil(foto: Youtube/reprodução)
Satan shoes, criado pelo coletivo de arte MSCHF, foi vendido a R$ 5,8 mil (foto: Youtube/reprodução)
 
 
Tênis de Satã foi parar na Justiça
 
Para acompanhar a chegada do clipe de “Montero (Call me by your name)”, Lil Nas X lançou um tênis customizado em parceria com o coletivo de arte MSCHF. Os Satan shoes (sapatos de Satã, em tradução livre) são uma versão modificada de um tênis da Nike, que processou o coletivo por “violação de marca registrada”.
 
Na quinta-feira (1º/4), um juiz federal dos Estados Unidos emitiu ordem de restrição temporária contra os criadores dos Satan shoes. A fabricante alega não ter autorizado o uso da marca e pede a proibição da venda do modelo.
 
Em 29 de março, o coletivo MSCHF, sediado no Brooklyn, em Nova York, lançou 666 pares, cujo preço chegou a US$ 1.018 (R$ 5,8 mil). O Nike Air Max 97S ganhou uma cruz invertida, um pentagrama e as palavras “Lucas 10:18”. Além disso, o tênis contém uma gota de sangue humano real nas solas.
De acordo com a revista americana Hollywood Reporter, a Nike alega que os tênis mancharam a reputação da empresa.
 
Advogados do MSCHF montaram a defesa com base na Primeira Emenda da Constituição norte-americana, que assegura a liberdade de expressão. Alegam que se trata de uma obra de arte, comprada por colecionadores.
 
De acordo com o coletivo, todos os pares produzidos, menos um, já foram enviados aos compradores. O grupo alega que a ordem de restrição é “desnecessária”, pois não há planos de fabricar outros exemplares dos Satan shoes. (GA) 


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