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Estado de Minas MÚSICA

Da kombi para a internet: projeto coloca o jazz em circulação na periferia

Iniciativa de produtores paulistanos tem o objetivo de levar o ritmo para a 'quebrada'. Quarta edição do festival Favela Jazz começa neste sábado


31/03/2021 04:00 - atualizado 31/03/2021 07:39

Um trio de produtores culturais criou em 2014 o Jazz na Kombi, com o objetivo de
Um trio de produtores culturais criou em 2014 o Jazz na Kombi, com o objetivo de "des-elitizar" o consumo do jazz (foto: Will Cavagnolli/Divulgação)
Divulgar o ritmo do jazz nas periferias paulistas era o objetivo original do Favela Jazz Festival, projeto derivado da iniciativa Jazz na Kombi. Com o impedimento à realização de eventos presenciais em virtude da pandemia do novo coronavírus, o festival migrou para o ambiente virtual e agora tem o potencial de atingir muito mais “quebradas” brasileiras, a partir do próximo sábado (3/4).

As transmissões de shows e palestras serão realizadas até 25 de abril, via YouTube. Os quatro shows que compõem a programação foram gravados em uma pedreira desativada usada hoje como local recreativo por crianças do bairro Jardim Boa Vista, na Zona Oeste da capital paulista. A escolha do local é simbólica. Foi nesse mesmo bairro onde o festival nasceu, como um dos palcos do Vielada Cultural.

''O Vielada é um evento que aborda várias linguagens culturais, entre elas o jazz, que tem um palco só para esse gênero. Desde 2015, esse palco ganhou um evento exclusivo, que circula por outros lugares de São Paulo'', conta Caru Laet, idealizadora do Jazz na Kombi, ao lado de Giovani Baffô e Thiago Calle.

Criado há seis anos, o festival não tem a regularidade de uma edição a cada ano. Neste 2021, o evento faz sua quarta edição. Para montar o Favela Jazz Festival em formato virtual, a organização pensou estratégias para engajar o público, que agora está em qualquer lugar com acesso à internet. O evento se estende ao longo de cinco dias, mas, com exceção deste sábado (3/4) e domingo (4/4), essas datas não são consecutivas. Os outros três dias de evento são: 11, 18 e 25 de abril.

'Apesar de ter nascido no gueto, o jazz sofreu uma elitização muito forte, que passou a ser tomada como uma de suas principais características. Mas isso não é verdade. O jazz é universal'

Caru Laet,  idealizadora do Favela Jazz Festival


''Ninguém aguenta ficar o dia inteiro na frente do computador. Então, pensamos em diluir a programação em dias diferentes e afastados. Para não ficar muito pesado e concentrado'', explica Caru.

Um dos desafios enfrentados foi na gravação do show que o maestro Letieres Leite realizaria. Para gravá-lo, a produção se deslocou até Salvador, onde ele vive. No entanto, quando chegaram, encontraram a capital baiana em lockdown. Resultado: não conseguiram voltar de lá com o material gravado.

AULA 

''A gente conseguiu articular com ele uma participação nas atividades formativas. Vai ser uma aula muito rica para quem quer entender mais sobre o jazz brasileiro'', diz a idealizadora do evento.

Intitulada O universo percussivo bai- ano, a aula será realizada no último dia do evento, 25 de abril, às 16h. O maestro pretende apresentar um método que busca ensinar a música popular brasileira a partir da consciência de um conceito estrutural rítmico ligado às matrizes negras.

O festival será aberto com a exibição do o documentário de curta-metragem ''Jazz na Kombi Zoociedade'', dirigido por Peu Pereira, às 16h30 deste sábado (3/4). Em seguida, às 17h, entra no ar o show do Bocato Sexteto.

A programação musical terá ainda shows dos grupos Conde Favela Sexteto, Átrio Jazz com Joy Sales e LOQÜAZZ.

Além da aula com Letieres Leite, o Favela Jazz Festival promove duas palestras. Uma delas, A história social do jazz, conduzida por Edson Ikê, será dividida em duas partes: no domingo (4/4) e em 11 de abril, sempre às 16h.

Já "O jazz como trilha sonora", com Rob Ashtoffen, ocorre no dia 18, no mesmo horário. Nela, o músico irá destacar a ligação entre música e cinema.

Diferentemente da aula "O universo percussivo baiano," gravada previamente, os outros dois acontecerão ao vivo, o que permitirá a interação com o público.

Em 25 de abril, às 17h, o filme ''Flos & Donal Val'', de Peu Pereira, encerra o festival. A produção presta homenagem póstuma a duas personalidades importantes para a quarta edição do evento: o artista e produtor cultural baiano Flávio Oliveira e Dona Val, uma das fundadoras da comunidade onde o Favela Jazz ocorre.

''É um vídeo que reúne os clipes das músicas 'Patinete rami rami', do Letieres Leite Quinteto, e 'Sabiá', de Luiz Gonzaga, interpretada por Lilian Estrela e Banda. É a forma singela que a gente encontrou de homenagear duas pessoas muito importantes para a nossa história'', afirma Caru Laet.

A intenção do Jazz na Kombi, projeto que originou o festival, era fazer “des-elitizar” o gênero e levá-lo para lugares onde seria raro ouvi-lo. ''Sempre priorizamos lugares da periferia, quebradas mesmo. E nossos eventos são sempre abertos, em praças e ruas. E gratuitos'', observa Caru.

''Apesar de ter nascido no gueto, o jazz sofreu uma elitização muito forte, que passou a ser tomada como uma de suas principais características. Mas isso não é verdade. O jazz é universal'', diz ela.

Após sete anos na estrada, ela acredita que ainda há muito a ser feito na tentativa de levar o jazz a quem tem pouca familiaridade com ele. ''Em geral, os shows do gênero acontecem em casas de shows onde a entrada não é barata. Consumir dentro desses espaços também não é acessível'', aponta.

Segundo ela, ir até os bairros da periferia é a maneira mais adequada de acessar um público que, muitas vezes, não tem condições de se deslocar dentro dos centros urbanos.

''Um festival como esse, além de ampliar o repertório cultural de quem mora lá, também incentiva a autoestima dessas pessoas. Nós sempre promovemos oficinas, então acaba que esse público se torna um produtor de cultura também. É um movimento de reconhecimento de um território muito importante dentro das cidades'', afirma. 

DIA A DIA 

Confira a agenda do evento

SÁBADO (3/4)
• 16h – Exibição do documentário ''Jazz na Kombi Zoociedade'', de Peu Pereira
• 17h – Show do grupo Bocato Sexteto

DOMINGO (4/4)
• 16h – Palestra: A história social do jazz (parte 1), com Edson Ikê
• 17h – Show do grupo Conde Favela Sexteto, com participação de Sintia Piccin

DOMINGO (11/4)
• 16h – Palestra: A história social do jazz (parte 2), com Edson Ikê
• 17h – Show do grupo Átrio Jazz, com Joy Sales

DOMINGO (18/4)
• 16h – Palestra: O jazz como trilha sonora, com Rob Ashtoffen
• 17h – Show do grupo LOQÜAZZ

DOMINGO (25/4)
• 17h – Palestra: O universo percussivo baiano, com Letieres Leite
• 18h – Exibição do clipe''Flos & Dona Val'', de Peu Ferreira


FAVELA JAZZ FESTIVAL 
Deste sábado (3/4) a 25 de abril. Eventos serão transmitidos no canal do YouTube do Jazz na Kombi . Gratuito. Mais informações no site do evento. 


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