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Estado de Minas LITERATURA

'Liberdade' analisa as novas formas de nascer, viver e morrer

Livro é uma coletânea de ensaios da pensadora Rosiska Darcy de Oliveira, que analisa o ressurgimento do autoritarismo


10/03/2021 04:00 - atualizado 10/03/2021 07:46

(foto: Rocco/Divulgação)
(foto: Rocco/Divulgação)

"Escrevi o livro como um voto de esperança. Olhei de perto para todos os lugares em que a fênix da liberdade ressuscita, e isso acontece quando menos se espera. O obscurantismo é uma resposta brutal e violenta ao crescimento da liberdade, uma reação de medo. Por isso o obscurantismo homofóbico, contra as mulheres, a ciência, o movimento negro. É contra todos os movimentos da sociedade que vinham se afirmando"

Rosiska Darcy de Oliveira, escritora


Rosiska Darcy de Oliveira colocou um ponto final no livro “Liberdade” no último dia de 2019. Mal sabia que poucos meses mais tarde estariam ela, e todo o mundo, confinados em decorrência de um vírus. Mas a série de ensaios que compõem o recém-lançado “Liberdade” (Rocco) não tem relação direta com o ato cotidiano de ir e vir.

“É um ato de resistência”, afirma a jornalista e escritora carioca de 76 anos (77, no próximo dia 27), ocupante da cadeira 10 da Academia Brasileira de Letras. Referência na luta pelos direitos da mulher no Brasil, é figura atuante nos movimentos feministas e pela volta da democracia – passou a década de 1970 exilada na Suíça e só retornou ao país no início dos anos 1980, com a anistia.

“Escrevi o livro como um voto de esperança. Olhei de perto para todos os lugares em que a fênix da liberdade ressuscita, e isso acontece quando menos se espera. O obscurantismo é uma resposta brutal e violenta ao crescimento da liberdade, uma reação de medo. Por isso o obscurantismo homofóbico, contra as mulheres, a ciência, o movimento negro. É contra todos os movimentos da sociedade que vinham se afirmando”, diz.

O volume reúne oito ensaios sobre o tema, a partir do viés do corpo, do nascimento da vida, da literatura (por meio da obra de Clarice Lispector), do mito (na figura de Antígona). 

A autora exemplifica: “As fases da vida – nascer, amar, envelhecer, morrer – não são mais como eram antigamente. Hoje, se você quer dar à luz, você dá. Se não, não dá. Se você quer, mas não pode, há caminhos para isso, como a fecundação in vitro e toda a geração assistida. E os casais homoafetivos têm filhos através do útero de outras mulheres. Enfim, é uma gama infinita de possibilidades de nascer. No amar a mesma coisa, e no envelhecer também. O envelhecimento sempre foi o olhar do jovem sobre as pessoas idosas, já que os idosos não se sentem idosos. Hoje, não se deixam mais constituir pelo olhar da juventude. A minha maneira de envelhecer é muito diferente do que foi a da minha mãe”, diz Rosiska.

DIREITO


De acordo com ela, o ato de morrer, atualmente na agenda de debates, engloba várias questões. “Viver é um direito, mas não um dever. As pessoas têm o direito, num dado momento de dor insuportável, seja física ou moral, de escolher (como e quando morrer). O direito de escolha é outro nome da liberdade. Evidentemente, isso muda de acordo com cada sociedade. Assusta os que têm medo primeiro de si mesmos e também os que odeiam a liberdade dos outros. O autoritarismo não aceita a liberdade, pois ele tem a sua verdade com v maiúsculo, e ela tem que valer para todo mundo.”

Rosiska dedicou o capítulo “Clarice: atrás do pensamento” à autora, porque ela é o exemplo da liberdade na escrita literária. “Ela me influenciou muito na maneira de pensar a literatura através de uma frase do livro ‘Água viva’ (1973), em que diz que ‘gênero (literário) não me pega mais’. O escritor escreve o que quer no estilo que quiser e quem alcançou melhor isso foi Clarice, que, além de ser um gênio, escreveu vários gêneros.”

Se Clarice é uma referência como autora, o mito grego Antígona o é como personagem. “É um símbolo para as mulheres, pois afirmou sua vontade contra a vontade de um rei e um homem. É um personagem altamente inspirador e, toda vez em que alguém se encontra em alguma situação de repressão, a Antígona é reescrita. Não por acaso, foi, juntamente com ‘Hamlet’, o texto mais reescrito da história da literatura.”

 O livro “Liberdade” sai no ano em que se completam as três décadas da primeira edição da obra mais conhecida da autora, “O elogio da diferença: o feminino urgente” (1991). “A grande diferença (entre o tempo passado e o atual) é que, no momento em que escrevi ‘O elogio da diferença’, eu escrevia sobre o movimento de mulheres. Hoje, o que temos são as mulheres em movimento. O que era minoritário virou um movimento de sociedade”, avalia a escritora.

“LIBERDADE”
Rosiska Darcy de Oliveira
Rocco (224 págs.)
R$ 54,90 (livro) e 
R$ 29,90 (e-book)


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