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Estado de Minas TELEVISÃO

Documentário 'Allen vs. Farrow', da HBO, é demolidor para o cineasta

Produção se coloca ao lado de Mia Farrow e põe a lupa na relação do diretor com sua filha adotiva para tentar destrinchar a acusação de abuso arquivada em 1992


22/02/2021 20:33 - atualizado 22/02/2021 20:39

Woody Allen com os filhos Dylan e Ronan. A imagem do cineasta foi retirada do álbum de fotos da família (foto: Fotos: HBO/Divulgação)
Woody Allen com os filhos Dylan e Ronan. A imagem do cineasta foi retirada do álbum de fotos da família (foto: Fotos: HBO/Divulgação)

Não existe imparcialidade em documentários, é fato. A primeira questão que qualquer telespectador, conhecendo bem ou não o longo imbróglio envolvendo Woody Allen e Mia Farrow tem que saber é que o recém-estreado “Allen v. Farrow” traz a versão da atriz e de sua família para um dos maiores escândalos de Hollywood do final do século passado e que perdura no início deste.

O documentário em quatro partes produzido pelo HBO e dirigido por Kirky Dick e Amy Ziering estreou no último domingo (21/2). Com um único episódio no ar, já é possível dizer que Allen sairá ainda mais machucado com a produção. A minissérie poderá ser uma pá de cal em uma carreira que vem sendo tema de debates públicos, assim como sendo alvo de investigações na Justiça e cancelamento por parte do público, dos estúdios e de seus próprios pares no cinema.

O cineasta de 85 anos e sua mulher, Soon-Yi, de 50, enviaram ao "The Hollywood Reporter" a seguinte declaração: "Esses documentaristas não tinham interesse na verdade. Em vez disso, passaram anos colaborando com os Farrow e seus facilitadores para montar um trabalho repleto de falsidades. Woody e Soon-Yi foram abordados há menos de dois meses e receberam apenas uma questão de dias 'para responder'. Claro, eles se recusaram a fazê-lo”.

Assista ao trailer: 

Filhos

“Allen v. Farrow” escancara as relações entre o cineasta e a atriz de 76 anos que namoraram durante 13, tiveram um filho biológico (Ronan, de 33) e dois adotivos (Moses, de 43, e Dylan, de 35). Quando começaram seu relacionamento, em 1979, ela tinha sete filhos. Hoje, soma 14, sendo quatro deles biológicos. Três dos adotivos morreram; dois deles, segundo Allen em sua autobiografia (lançada no final de 2020 pela Globo Livros), se suicidaram.

O que está em foco aqui é o relacionamento entre Allen e Dylan, adotada unicamente por Mia, em 1985, quando era um bebê com poucas semanas de vida. Em dezembro de 1991, Allen adotou Moses e Dylan. Um mês depois, em 13 de janeiro de 1992, Farrow descobriu fotos de Soon-Yi, uma de suas filhas adotivas, nua, na casa de Allen. Pouco depois, ela o denunciou por abuso de Dylan. 

Fotos 

Mia Farrow com Dylan, que ela adotou em 1985, com meses de vida. Em 1991, Allen se tornou pai adotivo da menina
Mia Farrow com Dylan, que ela adotou em 1985, com meses de vida. Em 1991, Allen se tornou pai adotivo da menina

Mas a narrativa da série começa antes. Na antiga casa da atriz, em Connecticut, onde ela vive hoje e passou os verões durante a infância dos filhos, acompanhamos Dylan nos tempos atuais. Começa a exibir um álbum de fotografias que a mãe preparou para ela. A situação já gera um desconforto, pois há imagens faltando e algumas recortadas – a presença de Allen foi suprimida de todos os registros fotográficos.

“Levei muito tempo para entender que você pode amar alguém e ter medo dessa pessoa”, afirma Dylan no documentário. Começa assim uma viagem no tempo. No final dos anos 1970, conforme apontam vários críticos de cinema, Woody Allen era uma unanimidade. Além de fazer muitos e bons filmes, sua figura neurótica, com o visual desengonçado, fora do padrão do homem idealizado no cinema, criava empatia com o público.

Namoro

Por seu lado, Mia Farrow era uma atriz que passava uma imagem também fora dos padrões hollywoodianos. Há um depoimento em que ela diz que saía dos palcos para casa, pois sua intenção maior era ficar com os filhos. Os dois se conhecem no Elaine’s, restaurante-bar que era meca dos famosos de Nova York da época, e só engatam um namoro mais tarde.

Allen, no início, não se interessa pelos filhos da namorada. À medida que o relacionamento evolui, ela diz a ele que quer ter um filho. Como não consegue engravidar, adota Dylan, que, num primeiro momento, não é objeto de atenção do cineasta. Mas conforme os meses vão passando, ele cai de amores pela menina. Algo que é visto como natural no início, mas que se torna intenso demais, segundo dizem Mia Farrow, sua irmã, suas amigas, e também Dylan e Ronan. 

Ele não desgrudava da menina. Detalhes do relacionamento entre pai e filha vão surgindo de diferentes fontes, tentando mostrar que a versão de Allen, repetida ao longo dos anos, tem que ser posta em dúvida. Os diretores tentam cobrir cada detalhe que, visto sob uma lente de aumento, torna a situação complicada.

 Um dos jornalistas que ajudaram a derrubar Harvey Weinstein com a série de reportagens de 2017 que está na raiz do movimento #MeToo, Ronan diz para a câmera que se lembra de que Dylan começou a dar sinais de que estava com medo de Allen. Quando os dois estavam brincando e Allen chegava, a irmã dizia: “Não quero ficar com o papai. Podemos continuar jogando?”. Quando Allen e Farrow se separaram, no início de 1992, Dylan tinha 7 anos e Ronan, 4.

Allen, ao longo dos anos, insiste em dizer que é inocente das acusações. Uma longa investigação da Justiça americana não comprovou abuso algum. A história voltou à tona em 2018, quando Dylan, agora adulta, foi para a imprensa e reafirmou o abuso. A partir desse momento, ele começou a ser boicotado em Hollywood. 

Personagens cruciais da história – e que representariam outro ponto de vista – não aparecem, como Moses, que há alguns anos virou um pária para os Farrow desde que decidiu fazer as pazes com o pai adotivo. Moses afirma que Mia era uma mãe abusiva e que o Allen não violentou Dylan. Diz, no entanto, que a irmã não mente ao se dizer vítima de abuso do pai, porque ela tem uma memória desse episódio implantada por Mia. 

Ainda que Allen não tenha participado do documentário, ele se faz presente por meio do audiolivro de sua autobiografia. A cada relato de Mia ou dos filhos, há uma entrada, com a voz do cineasta, em que ele lê um trecho de sua própria história. Isso não é suficiente, no entanto, para configurar o lado do cineasta na história. “Allen vs. Farrow” deixa claro de que lado está. 

Momentos explosivos

>> Dylan descreve os momentos em que ficava sozinha com Allen, com os dois “abraçados” na cama e ele vestindo somente cuecas. “Ele apenas envolvia seu corpo em volta de mim muito intimamente”, diz ela, que se recorda de que o cineasta estava sempre “caçando-a”. Mia Farrow alega que, às vezes, encontrava Allen ajoelhado na frente de Dylan, com a cabeça em seu colo. “Comecei a me sentir mais como um policial. Vou entrar e ver algo que não deveria estar acontecendo? Eu queria acreditar que foi (feito) na inocência.” Outros momentos destacados são o do cineasta ensinando a menina a chupar o dedo. 

>> A descoberta das fotos de Soon-Yi nua no apartamento de Allen é descrita com riqueza de detalhes por Mia Farrow. A atriz afirma que teve dificuldade em respirar ao ver as imagens, que não eram estilo Playboy, mas sim Hustler. “Imagens muito, muito atrevidas.” A atriz deixou o apartamento de Allen correndo e foi para casa, do outro lado do Central Park. Segundo ela, não culpou Soon-Yi pelo episódio. Allen, ao saber do ocorrido, correu para lá e ficou quatro horas falando sem parar. Houve momentos, de acordo com Mia, em que ele dizia que amava Soon-Yi e queria se casar com ela; em outros, dizia que amava Mia.

“ALLEN VS. FARROW”
Documentário em quatro partes. Os episódios são lançados aos domingos, às 23h, na HBO e HBO Go 


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