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Estado de Minas ARTES CÊNICAS

Odilon Esteves recebe Clarice Lispector na sala de casa

Ator mineiro propõe um 'banquete literário' em torno da obra da autora de 'A hora da estrela'. Temporada vai de domingo a 31 de janeiro


04/12/2020 04:00 - atualizado 04/12/2020 10:25

Odilon Esteves diz que decidiu atuar em casa 'porque a literatura nos acompanha no espaço privado'(foto: FERNANDO BADHARÓ/DIVULGAÇÃO)
Odilon Esteves diz que decidiu atuar em casa 'porque a literatura nos acompanha no espaço privado' (foto: FERNANDO BADHARÓ/DIVULGAÇÃO)
Vai ser um banquete em três passos: entrada, prato principal e sobremesa. Até o cafezinho no final está incluído no cardápio, que oferece até 15 opções por dia. Os convivas, cada qual de sua casa, terão direito a uma refeição literária em que a base de tudo é Clarice Lispector.

Na sala com Clarice, projeto lítero-teatral do ator Odilon Esteves, estreia no domingo (6), na plataforma Zoom, prevendo mais que o encontro do público com a obra de uma das maiores autoras da literatura brasileira, cujo centenário de nascimento será celebrado em 10 de dezembro.

Ao longo de dois meses – e 16 sessões, aos sábados e domingos, produzidas com patrocínio do Banco do Brasil –, Esteves vai abrir as portas de sua casa para desfrutar, com o público, contos e crônicas de Clarice. Não haverá uma apresentação igual à outra, pois, a cada sessão, a plateia virtual terá um cardápio diferente de textos para escolher.

''Dentro do leque de textos, só depois percebi como eles são variados. Há coisas de um mistério profundo, outras leves e divertidas. E há também contos epifânicos. São diversas facetas de Clarice''

Odilon Esteves, ator


ENQUETE

A cada passo do banquete haverá enquete com as ofertas daquele dia. Por exemplo: para a entrada, serão três opções para apenas uma ser escolhida. Os contos mais longos serão o prato principal (dois selecionados a partir de quatro). A sobremesa será mais leve, com textos curtos. Já a rodada final, o café, terá textos bem breves.

Clarice é bastante presente na vida de Esteves, que, desde 2006, apresenta para professores e alunos do ensino médio palestras cênicas de incentivo à leitura. “Comecei a esboçar o projeto em 2017, fiz uma pré-seleção dos textos, mas desisti, pois não era o momento. Quando veio o ano do centenário, quis fazer uma homenagem”, explica.

A ideia inicial era exibir vídeos na página Espalhemos Poesia, que ele mantém no Facebook. Esteves chegou a postar alguns vídeos. Em setembro, o projeto tomou vulto maior, com a entrada do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). De casa, o ator concebeu o solo que apresenta agora.

Além das sessões gratuitas, o projeto vai contar com palestras de três especialistas na obra clariceana: Nádia Battella Gotlib, Noemi Jaffe e Maria Homem.

“Quando comecei o contato com o CCBB, não havia previsão de reabertura dos espaços. Até me deram a possibilidade de me apresentar em um dos teatros, mas propus fazer aqui de casa, porque acho que a literatura nos acompanha no espaço privado. A literatura está sendo uma grande companheira neste ano, então achei que seria uma boa maneira de dizer, metaforicamente, que a gente poderia estar em casa com Clarice. Ela tem me acompanhado em todos os cômodos, queria sinalizar essa informalidade.”

Além disso, Esteves comenta, há a vontade de convidar o público para entrar em sua casa. “Isso aconteceu várias vezes este ano, pois muitos encontros sociais foram pelo Zoom. Até de um chá de fraldas cheguei a participar pela plataforma.”

Outra inspiração para o modelo veio da própria Clarice, por meio do texto É para lá que eu vou. “Quero usar a palavra ‘tertúlia’ e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu”, escreveu ela. “Isso me fez pensar nas reuniões e como as pessoas se encontravam. Apresentação artística em casa traz informação mais íntima”, acrescenta Esteves. “Clarice é uma escritora do meu afeto, um farol.”

Ele preparou 20 textos, revezados no cardápio de cada apresentação. “A escolha foi afetiva. Depois, dentro dessas escolhas, tive de cortar alguns, pois há contos que durariam uma hora.” As sessões, dependendo dos textos selecionados, poderão ter entre 60 e 90 minutos.

“Dentro do leque de textos, só depois percebi como eles são variados. Há coisas de um mistério profundo, outras leves e divertidas. E há também contos epifânicos. São diversas facetas de Clarice, que tem obra multifacetada. Achei bom ser assim, pois ela fala das contradições humanas, transita entre o divino e o ordinário. Às vezes, no cotidiano comezinho, acontece alguma coisa que nos abre o olhar para algo maravilhoso diante da vida ou nos coloca diante do abismo. Fui me guiando pelo afeto, escolhi textos que me emocionam e me fazem refletir.”

 Todas as transmissões serão realizadas da sala de Esteves, que memorizou os 20 textos. “Dependendo do texto, mudo o eixo da sala, para ficar com a parede mais neutra. E também tem a luz. Mas estou  a serviço da palavra, tentando oferecer minha leitura subjetiva. É quase como se aquilo pudesse ser uma história minha. O desejo é este.”
Clarice Lispector em casa, com seus livros(foto: Rocco/reprodução)
Clarice Lispector em casa, com seus livros (foto: Rocco/reprodução)

APOSTA

Na sala com Clarice, como outros projetos artísticos transmitidos on-line este ano, mistura linguagens. “O on-line é uma aposta. O que ele traz de mais interessante é a possibilidade de alterar o conteúdo. Se tentar fazer TV ao vivo, você perde possibilidades bacanas do que a gente tem vivido através das plataformas. Se fosse tentar fazer isso de uma forma que pudesse ser cinema, seria um pouco precário. Neste trabalho específico, preferi o que a plataforma nos oferece: a intimidade. Tipo ‘olha como poderia ser se você tivesse vindo jantar na minha casa. A literatura seria um dos pratos’”, finaliza.

CICLO DE PALESTRAS

. 14 de dezembro, às 19h
Com Nádia Battella Gotlib. Professora e pesquisadora, é docente da Universidade de São Paulo. Autora de Clarice – Uma vida que se conta e Clarice: Fotobiografia

. 11 de janeiro, às 19h
Com Noemi Jaffe. Crítica literária e professora, ministrou cursos sobre a obra de Clarice Lispector, analisando os livros A legião estrangeira, A hora da estrela e A paixão segundo G.H., e o conto Amor

. 25 de janeiro, às 19h
Com Maria Homem. Professora e psicanalista, é autora de No limiar do silêncio e da letra: Traços da autoria em Clarice Lispector

NA SALA COM CLARICE
Estreia no domingo (6), às 19h, na plataforma Zoom. Temporada de 6 a 20 de dezembro e de 9 a 31 de janeiro, aos sábados, às 20h, e domingos, às 19h. No dia do centenário de Clarice Lispector, 10 de dezembro, haverá sessão especial às 20h. Em 18 de dezembro e 29 de janeiro, às 20h, as apresentaçõescontarão com intérprete de libras. Ingressos gratuitos em www.sympla.com.br/nasalacomclarice


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