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Estado de Minas ARTES CÊNICAS

Mesmo autorizados, teatros de BH não devem reabrir em outubro

Administrações das casas e representante dos artistas dizem que levará mais tempo para ter espetáculos novos e fazer a adequação aos protocolos sanitários


19/10/2020 04:00 - atualizado 19/10/2020 08:42

Na reabertura gradual das atividades culturais na Holanda, o Teatro Real, em Haia, abriga apresentação com plateia reduzida e a prática de distanciamento, no último dia 1º de junho(foto: Phil NIJHUIS/AFP)
Na reabertura gradual das atividades culturais na Holanda, o Teatro Real, em Haia, abriga apresentação com plateia reduzida e a prática de distanciamento, no último dia 1º de junho (foto: Phil NIJHUIS/AFP)

Fechados desde março passado, teatros, cinemas e casas de espetáculo ganharam, na última sexta-feira (16), uma  data para reabrir em BH. A publicação no Diário Oficial do Município definiu o próximo 31 como o dia em que esses estabelecimentos estarão autorizados a receber o público novamente.

Apesar de pôr fim a uma longa espera pela reabertura, a medida de flexibilização não deve significar, de imediato, o reencontro entre artistas e seu público.

A publicação do executivo municipal na sexta-feira não trouxe um protocolo sanitário definido para o funcionamento desses espaços. Porém, a Prefeitura de BH disponibiliza em seu portal uma proposta que recomenda capacidade máxima de ocupação limitada a 50% dos assentos, além de outras medidas, como escalonamento da saída por fileiras, uso de máscara e venda de ingressos para assentos sem distanciamento somente para grupos de até quatro pessoas, desde que os ingressos sejam adquiridos por um mesmo indivíduo.

As recomendações também miram equipes técnicas e artísticas, propondo, por exemplo, proibição de contato entre artistas e público, como os tradicionais cumprimentos no palco, e controle de uso dos camarins, com medidas de distanciamento. 

"A gente tem uma conversa com produtores, mas são conversas muito iniciais, porque não temos data efetiva de abertura do teatro. Temos algumas demandas, já estudadas, sobre equilíbrio financeiro, e do ponto de vista da programação interna, dos corpos artísticos da fundação, ainda estamos com eles em teletrabalho, pela complexidade das atividades"

Eliane Parreiras, presidente da Fundação Clóvis Salgado



No caso das equipes técnicas, os cronogramas e o número de profissionais presentes em cada espetáculo também deverão ser revistos e adequados. Fatores que podem afetar diretamente no custo e na logística das montagens cênicas, o que ainda é avaliado cuidadosamente pelo setor.

Alguns espaços ainda trabalham na adequação de suas estruturas, para só então planejar a efetiva volta dos espetáculos. "Estamos dedicados aos preparativos, para que isso ocorra o mais breve possível. Neste momento, a dedicação é para que espaços estejam aptos, com condições de trabalho e segurança para público, artistas e também com os funcionários", afirma Aline Vila Real, diretora de Promoção das Artes da Fundação Municipal de Cultura, sobre os teatros de administração municipal, como o Marília, o Francisco Nunes e o Raul Belém Machado, que passam por essa fase de adaptação.

"Estamos retomando as conversas com o setor. Acabamos de ter um edital importante, o Cena Plural, e outro do Fundo Municipal de Cultura. Tudo isso gera novas produções artísticas. A maioria dessas atividades está prevista para ocorrer virtualmente, mas elas precisarão de produção, então estamos começando a trabalhar para disponibilizar os espaços para elas"

Aline Vila Real, diretora de Promoção das Artes da Fundação Municipal de Cultura



PROTOCOLOS 

Situação semelhante se verifica no Palácio das Artes, equipamento estadual, que está "acabando de compatibilizar protocolos, com governo do estado e município, e preparando a implantação", segundo a presidente da Fundação Clóvis Salgado, Eliane Parreiras. 

O Palácio das Artes já havia estruturado a reabertura de suas galerias de arte dentro das normas exigidas. Porém, para as salas de espetáculos, Grande Teatro e Cine Humberto Mauro, o processo ainda não está concluído.

"Já fizemos a estruturação das galerias e áreas comuns e agora estamos preparando o restante da sinalização relacionada aos teatros e cinema. Estamos fechando questões de natureza mais burocrática, mas de impacto direto no desenho dos espaços, como tabela de preços, que terá que ser novamente estudada pela limitação da capacidade, reorganizando bilheteria e bloqueio de cadeiras para respeitar o volume de capacidade apresentada pelo protocolo da PBH, de 50% da ocupação", diz Parreiras. Ela comenta que a nova organização ainda terá que ser levada para o sistema eletrônico de ingressos, para controle dos assentos. 

Mesmo com os esforços citados, a presidente da Fundação Clóvis Salgado não acredita que haja alguma operação com público tão rapidamente, pois "dependem também de produções externas". Além disso, o protocolo para retorno das atividades presenciais dos corpos artísticos do Palácio ainda está em desenvolvimento. 

"A gente tem uma conversa com produtores, mas são conversas muito iniciais, porque não temos data efetiva de abertura do teatro e estamos fazendo junto com a Secult (Secretaria de Estado de Cultura e Turismo). Temos algumas demandas, já estudadas, sobre equilíbrio financeiro, e do ponto de vista da programação interna, dos corpos artísticos da Fundação, ainda estamos com eles em teletrabalho pela complexidade das atividades", diz a presidente.

"Tudo está sendo negociado. Primeiros contatos já foram feitos e será um período de transição, para vermos a aceitação do público, a viabilidade com capacidade reduzida e qual será a possibilidade financeira disso para quem não tem patrocínio. Mas, no que toca nossas produções, nossa ideia é que já tenhamos espetáculos presenciais ainda neste ano"

André Rubião, diretor do Centro Cultural Minas Tênis Clube



CONVERSAS

 No caso da Fundação Municipal de Cultura, Aline Vila Real comenta que os teatros municipais podem voltar a abrigar atividades artísticas em breve, mas não necessariamente com o público. "Estamos retomando as conversas com o setor. Acabamos de ter um edital importante, o Cena Plural, e outro do Fundo Municipal de Cultura. Tudo isso gera novas produções artísticas. A maioria dessas atividades está prevista para ocorrer virtualmente, mas elas precisarão de produção, então estamos começando a trabalhar para disponibilizar os espaços para elas", afirma. 

A diretora também revela um planejamento com vistas à realização da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, prevista para o início do ano que vem. "Estamos trabalhando também para o primeiro trimestre (de 2021), pensando na Campanha. Antes, não tínhamos nenhuma garantia ou previsão. Hoje temos, mas depende de uma observação de como a cidade vai se comportar até o fim do ano. Estamos em constante troca de informações com o comitê de saúde da Prefeitura e não há uma programação ainda. O que posso garantir é que estamos mobilizados na preparação desses espaços", afirma Vila Real. 

A cautela em relação à reabertura faz o Centro Cultural Minas Tênis Clube entender o novo momento como uma fase de transição. Segundo o diretor André Rubião, o teatro local não terá dificuldades para se adequar aos protocolos sanitários para recebimento do público pela expertise adquirida pela equipe na reabertura do clube social, há um mês. 

No entanto, ainda não há grandes definições em relação à programação. "Tudo está sendo negociado. Primeiros contatos já foram feitos e será um período de transição, para vermos a aceitação do público, a viabilidade com capacidade reduzida e qual será a possibilidade financeira disso para quem não tem patrocínio. Mas, no que toca nossas produções, nossa ideia é que já tenhamos espetáculos presenciais ainda neste ano", afirma. 

Um deles pode ser o retorno da Série de Concertos do Minas Tênis Clube. Rubião diz que um concerto deverá ser realizado até dezembro, mas que as condições ainda são discutidas internamente. "Seria um retorno para não passar o ano em branco, mas ainda estamos trabalhando quem virá e como será. Possivelmente alguém local", diz. 

"Todo mundo com a vida destroçada, sem pagar aluguel, devendo contas de água e luz, sem estrutura. Temos a Lei Aldir Blanc, que, por uma série de injunções, saiu só agora no estado. Sem que as pessoas possam realmente receber esses recursos emergenciais, não há condição de voltar ao trabalho agora"

Magdalena Rodrigues, presidente do Sated



ON-LINE 

A certeza, por enquanto, se resume aos bons resultados das transmissões on-line, que devem continuar sendo realizadas pelo Centro Cultural MTC, mesmo com o retorno do público autorizado. "É tudo muito recente. Manter o on-line é uma ideia. A pandemia foi um aprendizado sobre o potencial desse formato que atrai muito público de fora. A live 4 Irmãos (com Flávio e Cláudio Venturini, Lô e Telo Borges) teve 60 mil acessos na transmissão. Estamos comprando equipamento, e a tendência é que exploremos isso ainda mais", afirma Rubião.

Alexandre de Sena, um dos coordenadores do Teatro Espanca!, referência para a cena independente na capital mineira, disse que ainda está tentando compreender as possibilidades e que o grupo responsável pelo espaço só se pronunciará após reunião, já que o teatro estava fechado e não trabalhava com a possibilidade de reabertura para público no momento. 

Se para os teatros a situação não é das mais fáceis, mesmo com essa nova possibilidade, para os artistas o cenário pode ser ainda mais complicado.

Magdalena Rodrigues, atriz e presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de Minas Gerais (SATED/MG) enfatiza que "muitos artistas estão empobrecidos, sem nenhuma condição de produzir nada agora". Segundo ela, depois de tantos meses de incertezas, falta de receitas e suspensão das atividades que demandam aglomerações, como é próprio do teatro, o momento é de tentar se reestruturar, via programas emergenciais, para só depois pensar na volta aos palcos.

"Todo mundo com a vida destroçada, sem pagar aluguel, devendo contas de água e luz, sem estrutura. Temos a Lei Aldir Blanc, que, por uma série de injunções, saiu só agora no estado. Sem que as pessoas possam realmente receber esses recursos emergenciais, não há condição de voltar ao trabalho agora", afirma Magdalena.

Ela cita outro aspecto que pode dificultar a volta das plateias. "Também precisamos saber se o público terá a confiança necessária para voltar às salas de espetáculo, se elas terão condições de cumprir os protocolos. Em 15 dias não há como preparar nada sem dinheiro, a não ser o que já estava pronto antes."

CCBB-BH SEM PREVISÃO

O Banco do Brasil divulgou na semana passada o resultado de seu edital de patrocínio Centro Cultural Banco do Brasil 2021/2022. Foram selecionados 138 projetos, que poderão compor a programação das unidades do CCBB em Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo nos próximos dois anos. Desse total, 41 são de artes cênicas, 34 de cinema, 22 exposições, 15 de ideias, 21 de música e cinco do programa educativo. Procurado pela reportagem, o CCBB-BH informou que ainda está em fase de verificação e adequação aos novos protocolos sanitários e não tem previsão de reabertura do espaço e agenda estabelecida para eventos presenciais neste ano. No resultado do edital consta a aprovação dos projetos mineiros A margem da vida (artes cênicas), Encontro das águas, Encontro do violão brasileiro, Tributo a Luiz Bonfá por Juarez Moreira, Pérolas de Minas (música), Yara Tupynambá - 70 anos de carreira (exposição). A lista completa de selecionados está disponivel em www.bb.com.br/patrocinios. 

(Frederico Gandra, estagiário sob a supervisão da editora Silvana Arantes)


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