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Estado de Minas HISTÓRIA

Mary Del Priore diz que a brasileira é sobrevivente e guerreira

Em seu novo livro, historiadora mostra que a mulher vem reagindo à violência e ao machismo no Brasil, desde 1500. Nesta quinta, ela faz palestra on-line sobre a presença feminina na história do país


08/10/2020 04:00 - atualizado 08/10/2020 10:33

A historiadora Mary Del Priore analisa a trajetória das brasileiras ao longo de cinco séculos(foto: Mateus Montoni/divulgação)
A historiadora Mary Del Priore analisa a trajetória das brasileiras ao longo de cinco séculos (foto: Mateus Montoni/divulgação)
“Toda história tem um lado bom”, afirma a escritora e historiadora Mary Del Priore. Seu novo livro, Sobreviventes e guerreiras (Planeta), com lançamento nesta quinta-feira (8) por meio de palestra virtual, procura fugir do vitimismo ao acompanhar a trajetória da mulher no Brasil de 1500 a 2000.

“Sempre soubemos reagir contra a violência. No patriarcado, houve brechas para a reação da mulher no trabalho, na sexualidade e na família”, acrescenta ela, que vem destacando a presença feminina ao longo de sua extensa obra.

EVOLUÇÃO 


Em Histórias e conversa de mulher, Mary escreveu sobre a evolução da vida das brasileiras. Também se debruçou sobre personagens históricos nos livros Condessa de Barral – A paixão do imperador, A carne e o sangue – A imperatriz D. Leopoldina, D. Pedro I e Domitila, a marquesa de Santos e O castelo de papel, sobre a princesa Isabel e o marido, o conde d’Eu.

Em ordem cronológica e capítulos com minibiografias de mulheres que marcaram seu tempo, Mary vai apresentando trajetórias que vão contra a corrente. “Não é um livro para a escola, mas, sim, para qualquer pessoa que queira entender seus antepassados e saber como resistiram”, explica.

Nessa volta ao tempo, a historiadora destaca o período da Independência (1822). “Falam que a mulher brasileira não lê. Pois há cartas assinadas por baianas e paulistas apoiando a Independência. O pai da condessa de Barral (paixão de dom Pedro II) já pedia o voto da mulher brasileira.”

De acordo com Mary, aos poucos, a presença feminina vai passando do âmbito privado para o público. “Há jornalistas mulheres cobrindo a Revolução Farroupilha (1835-1845). Aliás, o jornalismo feminino vai participar do movimento da abolição”, acrescenta.

No século 20, essa atividade se amplia. “Várias cantoras usaram o rádio como ‘elevador social’”, diz Mary, citando Angela Maria, “de família evangélica, que cantava em igreja e fugiu para se tornar um sucesso”. Ainda que haja ascensão, ela diz, as mulheres tiveram de se submeter ao modelo masculino. “Uma diretora de cinema tinha que trabalhar de calça comprida porque os homens não a obedeciam quando ia de saia.”

Com a chegada dos anos 1960 e a revolução provocada pela pílula, Mary comenta que no momento inicial há “grande repulsão” a esse anticoncepcional, “a partir do pensamento de que, ao tomá-lo, a mulher se tornará indigna, pois vai gozar”. Pauta ligada à segunda onda do movimento feminista, a discussão relativa ao corpo e à sexualidade toma conta do debate.

Cisões no movimento feminista também são destacadas, bem como a atuação das mulheres nos chamados Anos de Chumbo. “Houve grupo que lutou contra a ditadura, mas também um grupo fortíssimo de mulheres da classe média brasileira em favor da ditadura, pois queriam comprar TV e Fusca.” Para Mary, o lado B da história tem que ser contado.

A parte final da narrativa destaca a onda de violência que deslanchou nos anos 1970 e 1980. “Há conquistas. Naquele período, a mulher era chefe de uma em cada cinco famílias. Já na década de 1990, temos 45% do mundo do mercado de trabalho pilotado por elas. As conquistas são muito rápidas e há uma chuva de balas quando começa a haver visibilidade da mulher no mundo acadêmico, jurídico e no comércio.”

Crimes célebres contra a mulher, que mais recentemente passaram a ser chamados de feminicídio, são recuperados pela autora, como o assassinato da mineira Angela Diniz por Doca Street, em 1976. “Houve apoio de um setor da sociedade ao criminoso, de mulheres inclusive. Quando ele sai do júri, é aplaudido por mulheres.”

A historiadora observa que as mulheres se dividem, a despeito das conquistas. “Ainda há aquelas muito conservadoras, que herdaram das mães princípios rígidos, que temem o divórcio. Querem trabalhar, mas o homem tem de continuar a ser o mantenedor.”

O livro segue até os anos 2000. “Algumas coisas vieram para ficar. O movimento feminista, embora tenha várias agendas, é uma delas, assim como o lugar da mulher no mercado de trabalho.”

REDES 


Mary destaca ainda a presença das redes sociais como canal de denúncia e de apoio, além de mudanças na legislação brasileira – “do Conselho da Mulher, criado pelo Sarney, à Lei Maria da Penha” – e as novas gerações acompanhando a mudança do papel masculino.

A historiadora ressalta que Sobreviventes e guerreiras não vê o homem como inimigo. “São nossos pais, irmãos, filhos, e eles têm que ser convidados para o debate”, conclui.



SOBREVIVENTES E GUERREIRAS


. De Mary Del Priore
. Planeta
. 256 páginas
. R$ 54,90 (livro)
. R$ 23,99 (e-book)
. Nesta quinta (8), às 18h, a autora faz palestra on-line de lançamento. Inscrições: conectaplaneta.com.br




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