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Estado de Minas LIVRO

Conheça Marina Miranda, a estrela do humor caricato brasileiro

Clóvis Corrêa lança a biografia da atriz negra, de 90 anos, que roubou a cena nos programas Balança mas não cai e Os Trapalhões. 'O tal empoderamento, tão falado hoje, já estava ali1, diz


03/10/2020 04:00

Marina Miranda contracena com Tião Macalé em Faça humor, não faça a guerra, programa exibido pela TV Globo de 1971 a 1973 (foto: Globo/reprodução)
Marina Miranda contracena com Tião Macalé em Faça humor, não faça a guerra, programa exibido pela TV Globo de 1971 a 1973 (foto: Globo/reprodução)
No livro-reportagem Marina Miranda – Além da Crioula Difícil, o jornalista Clóvis Corrêa resgata a história da primeira humorista negra que ganhou destaque na TV brasileira, revelando episódios pouco conhecidos a respeito da carreira dela. O lançamento coincide com os 90 anos da atriz fluminense, comemorados em 30 de setembro.

Marina Miranda conquistou o país com a personagem Cri- oula Difícil. Ao lado do ator Tião Macalé, ela chamou a atenção no programa Balança mas não cai, transmitido pela Rádio Nacional na década de 1950, que foi adaptado pela TV Globo em 1968. Nos anos 1970 e 1980, a atriz participou de várias atrações humorísticas na televisão – Faça humor não faça guerra e Os Trapalhões, entre elas.

"Marina fazia o próprio protagonismo, aproveitava as oportunidades. Acho isso bacana"

Clóvis Corrêa, jornalista


GERAÇÃO 
Cenas de Marina ao lado de Tião Macalé, Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias ficaram eternizadas na lembrança de uma geração. Clóvis Corrêa era um desses fãs. Ainda garoto, ele acompanhava as trapalhadas da turma na televisão do vizinho.

“Marina era uma figura negra que, até então, não se via na TV. Aquilo foi o start que me impulsionou a escrever o livro”, conta o jornalista carioca, de 59 anos. “Com ela, fui descobrindo coisas que têm muito a ver com a minha infância e minha trajetória de vida.”

O biógrafo diz que a atriz não recebeu o reconhecimento merecido. “A nova geração que vem do YouTube, os influencers, não conhecem a Marina. Quando se fala de humor, as pessoas se lembram dos Trapalhões, mas não dela. Isso me entristeceu e tive a vontade de mostrar que Marina é muito mais do que (a parceira de) Tião Macalé”, comenta.

O jornalista teve acesso à atriz por meio de Silvia Miranda, filha dela, e conta que a família apoiou o projeto. “Marina transborda humor o tempo todo. Tudo o que ela quer é fazer graça, independentemente da circunstância”, diz.

O livro relembra o ínicio da carreira da atriz em programas de rádio, participações dela no humorístico Noites cariocas, da TV Rio, a amizade com o ator Jorge Lafond (1952-2003) e os últimos trabalhos em novelas da Record.

“As pessoas se apegam muito à Marina da Crioula Difícil, que realmente foi o grande boom dela, mas sua importância para a comédia não se resume a isso”, defende Clóvis. A biografia também destaca a história do humor caricato, que não é mais praticado no Brasil, observa.

“Hoje em dia, quando se fala de humor caricato, as pessoas acham que é desmerecimento, mas não é. A Marina se orgulha de ser considerada uma das melhores atrizes caricatas do país”, afirma Clóvis, dizendo que seu livro é útil para o jovem se informar sobre essa modalidade de comédia.

“Sou um grande incentivador do avanço e das novas formas de humor, mas a gente não pode deixar o passado morrer. A nova geração precisa estudar, pesquisar e conhecer Marina Miranda”, alerta.
Theo Becker e Marina na novela Caminhos do coração (foto: Record/reprodução)
Theo Becker e Marina na novela Caminhos do coração (foto: Record/reprodução)

A atriz enfrentou a discriminação racial, assim como outros artistas negros. “É triste, porque a gente vai enxergando como a questão do racismo estrutural é tão enraizada. A Marina criança já passava por isso”, diz Clóvis, destacando que a discriminação  prossegue no Brasil. “A história da Marina é como a história das negras de hoje em dia.”

Porém, o jornalista destaca a resistência e o empoderamento da personagem de Marina – presentes, inclusive, no apelido Crioula Difícil –, lembrando que ela rejeitava as investidas de Tião. “Aquele cara malandro não era do gosto dela porque tinha pouco a oferecer. Ela não queria qualquer homem, qualquer zé mané. O tal do empoderamento, tão falado hoje, já estava ali”, argumenta o jornalista.

A trajetória de Marina é paralela à história da televisão brasileira, que completou 70 anos em setembro. O trabalho da atriz foi relevante não só no humor, mas também em novelas, diz Corrêa. Mesmo em papéis menores, o jeito engraçado e simples da atriz roubava a cena. “A gente só pensa em protagonista quando ele ocupa a novela toda, mas a Marina fazia o próprio protagonismo, aproveitava as oportunidades. Acho isso bacana.”

LUZ 
Clóvis Corrêa diz que o livro significa missão cumprida para ele. “As pessoas gostam de fazer homenagem a quem já se foi ou está muito badalado, mas fico orgulhoso de escrever sobre um nome que realmente precisava desta luz.”

Agora, o jornalista planeja levar a história de Marina Miranda para os palcos. Ele aproveitou a quarentena e sua experiência como dramaturgo para escrever uma peça. Assim que o novo coronavírus permitir, ele vai buscar formas de financiar o espetáculo.

*Estagiário sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria 


MARINA MIRANDA – ALÉM DA CRIOULA DIFÍCIL
. De Clóvis Corrêa
. Edições Funarte
. 168 páginas
. R$ 30
. Informações: livraria@funarte.gov.br e edicoes@funarte.gov.br


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