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Estado de Minas SÉRIE

'O que querem as mulheres?' aborda as várias facetas do feminismo

Apresentado por Heloísa Buarque de Hollanda, seriado leva para a sala do brasileiro um painel multifacetado da luta feminista. Estreia será nesta quarta (26), no Canal Brasil


26/08/2020 04:00 - atualizado 26/08/2020 00:02

Heloísa Buarque de Hollanda (C) recebe Taily Terena, Márcia Kambeba e Marize Vieira no episódio dedicado ao feminismo indígena(foto: Canal Brasil/divulgação)
Heloísa Buarque de Hollanda (C) recebe Taily Terena, Márcia Kambeba e Marize Vieira no episódio dedicado ao feminismo indígena (foto: Canal Brasil/divulgação)

“O que querem as mulheres?” A resposta para a pergunta feita pelo psicanalista Sigmund Freud já passava por múltiplos entendimentos quando foi feita, no século 19. Depois de mais de 100 anos de pensamento feminista, ela se encontra ainda mais diversa, por conta da pluralidade da luta das mulheres por uma sociedade mais justa. A partir desta quarta-feira (26), a famosa indagação de Freud inspira a minissérie apresentada pela pensadora, professora universitária e escritora Heloísa Buarque de Hollanda, no Canal Brasil.

Com direção de Liloye Boubli, a produção tem quatro episódios e formato intimista. “Estou na minha casa, passa neto, cachorro, pessoas tomam café. É uma visão amiga, um espaço doméstico”, afirma a apresentadora. Nesse ambiente que soa tão aconchegante, temas sensíveis são discutidos com as convidadas. Com cada capítulo dedicado a um recorte específico do feminismo, Heloísa procura contemplar a profundidade desse pensamento tão diverso.

ONDA 

“O título é irônico, do Freud, mas responde à quarta onda, que chegou pela internet com alcance enorme, colocando o feminismo na boca de cena. Ele existe desde o século 19, mas entrou em pauta recentemente e não sai mais. Então, é a coisa de perguntar o que é o feminismo. Uma das características da quarta onda é a diversidade de feminismos. Não é mais um só, como no meu tempo, nos anos 1970, quando o feminismo branco se achava universal, sem dar voz a vários segmentos de mulheres. O feminismo negro já existia, mas agora há uma explosão, que inclui o indígena, o asiático, o radical, o gay, o trans. As mulheres são muitas”, explica Heloísa. Em 2018, ela lançou o livro Explosão feminista: arte, cultura, política e universidade (Companhia das Letras).

No episódio de abertura, Abre alas, a apresentadora recebe as advogadas Leila Linhares e Comba Marques Porto. O trio aborda a história da luta feminista no Brasil, especialmente ao longo das décadas de 1960 e 1970, durante a ditadura militar.

“O feminismo não surgiu na internet. Nos anos 1960 e 1970, ele teve a maior importância e, depois, na Constituinte, houve a criação das delegacias da mulher, das secretarias da mulher em vários estados. As meninas de agora, da quarta onda, conhecem pouco essa história”, afirma Heloísa.

No segundo episódio, Da ancestralidade ao futurismo, ela recebe as pensadoras negras Stephanie Ribeiro, Katiúscia Ribeiro e Morena Mariah, que falam sobre as diferentes dimensões do feminismo negro, incluindo o mulherismo africano e afrofuturismo.

Depois, será a vez da perspectiva indígena, com Marize Vieira, Taily Terena e Márcia Kambeba. Por último, no episódio Novos alfabetos, a cantora e compositora Ellen Oléria, a atriz Bruna Linzmeyer e as mulheres trans Amara Moira, escritora, e Helena Vieira, filósofa e escritora, discutem o feminismo lésbico e o transfeminismo.

“O feminismo negro tem muitas diversidades dentro dele. Vamos mostrar isso, assim como o feminismo indígena, que é pouco falado e vem de um lugar diferente do feminismo urbano, com outra organização social, outra relação de poder, demandas diferentes. São muitas causas”, diz a apresentadora. “Por último, falaremos dos novos alfabetos, já que a coisa biológica andou tanto que os artigos definidos anteriormente não dão conta. Hoje é preciso mudar o vocabulário para compreender o campo de gênero”, argumenta.

Leila Linhares, Heloísa Buarque de Hollanda e Comba Marques Porto em Abre alas, episódio de estreia da série(foto: Canal Brasil/divulgação)
Leila Linhares, Heloísa Buarque de Hollanda e Comba Marques Porto em Abre alas, episódio de estreia da série (foto: Canal Brasil/divulgação)

TV

Heloísa Buarque de Hollanda, de 81 anos, destaca a importância de veicular esse conteúdo na TV, sobretudo nestes tempos em que o debate sobre o tema se faz tão difundido em novas mídias. “A internet é um celeiro de informações muito rápido, complexo e ágil. É ótimo, mas é preciso entrar na família brasileira com essas perguntas. Tem que entrar nos lares, nos momentos de encontro”, defende. “Só a TV, que é como uma lareira, oferece isso. Não é o momento solitário, pois a televisão traz muito aquela coisa de entrar na casa das pessoas, e o feminismo tem de entrar também nessa linguagem. Na verdade, já entrou. Há muitos programas comprometidos, novelas. É difícil sair dessa pauta, porque ela é forte e veio para ficar”, afirma.

Estudiosa dos movimentos dentro do feminismo, ela reforça a importância da visita ao passado, mas reverencia as novas gerações, a quem carinhosamente chama de “netas”. “Depois de 2013, a linguagem política mais nova foi apropriada violentamente pelo feminismo. Começou uma rede de comunicação que nunca houve antes, com flash mob e essas outras mobilizações.O feminismo nunca tinha experimentado isso, então a geração de 2013, politicamente, chegou muito abrupta, explodiu. O feminismo chegou no ativismo, na opinião. Me apaixonei por essas minhas 'netas', como costumo chamá-las. Como avó, me derreti de amor por elas e não faço outra coisa a não ser dar material para essa geração”, afirma a apresentadora, que organizou a trilogia  Pensamento feminista brasileiro (Editora Bazar do Tempo).

''Uma das características da quarta onda é a diversidade de feminismos. Não é mais um só, como no meu tempo, nos anos 1970, quando o feminismo branco se achava universal, sem dar voz a vários segmentos de mulheres. O feminismo negro já existia, mas agora há uma explosão, que inclui o indígena, o asiático, o radical, o gay, o trans. As mulheres são muitas''

Heloísa Buarque de Hollanda, pensadora feminista


HOMENS

Ao comentar a possibilidade de o programa alcançar audiência masculina, Heloísa Buarque de Hollanda acredita que essa é uma tendência muito forte entre gerações mais jovens, rumo à desconstrução do machismo.

“Na época da ocupação das escolas (2016), fiz pesquisa de campo e vi que há uma nova geração com novas ideias, já diferente. É lindo, até porque é uma libertação para os homens também, não só para as mulheres.”

Heloísa tem esperança, mesmo diante da  realidade cruel enfrentada pelas mulheres – vítimas de preconceito, desigualdade salarial, violência doméstica e sexual, além do feminicídio (mais de 1 mil mulheres são assassinadas por ano no Brasil).

“Temos que ter otimismo. A pauta feminista não sai mais. Pode ter ministro contra, governo contra, mas ela entrou de fato. Conseguirão cortar bolsas de pesquisa, cancelar espetáculos, censurar livros, mas a pauta entrou para ficar e é muito difícil um retrocesso nesse sentido. Podemos estar em desvantagem, mas tenho fé, assim como tenho fé de que a luta contra o racismo também seja uma pauta que entrou para ficar”, conclui.

O QUE QUEREM AS MULHERES?
Série apresentada por Heloísa Buarque de Hollanda. Estreia hoje (26), às 19h15, no Canal Brasil. Novos episódios às quartas, às 19h15. Reprise às quintas, às 14h, e às segundas, às 12h30


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