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Estado de Minas DANÇA DAS CADEIRAS

Maurício Canguçu cai, e Fabiane Aguiar assume a Funarte em Minas

Atriz toma posse do cargo nesta quarta (6). Ator não foi previamente avisado de sua exoneração, ocorrida nove meses depois de assumir


postado em 06/05/2020 04:00 / atualizado em 05/05/2020 20:52

A atriz Fabiane Aguiar afirma que esta será sua primeira experiência em gestão pública(foto: Acervo Pessoal)
A atriz Fabiane Aguiar afirma que esta será sua primeira experiência em gestão pública (foto: Acervo Pessoal)

A dança das cadeiras na Fundação Nacional de Artes (Funarte), até aqui uma constante na gestão Jair Bolsonaro (sem partido), teve novas rodadas nesta semana. Nesta terça-feira (5), foi anunciada a recondução (e mais tarde a anulação da medida) do maestro Dante Mantovani à presidência da instituição federal.

Mantovani voltaria ao cargo dois meses depois de ter sido exonerado pela secretária especial da Cultura, Regina Duarte. A nomeação, à revelia da atriz que carrega o título de eterna namoradinha do Brasil, indica que sua relação com o presidente passa por uma crise e que talvez o “casamento” que ambos propalaram tenha sido relâmpago.

Após a anulação do retorno de Mantovani ao cargo por Bolsonaro, uma conversa dele com Regina Duarte é aguardada em Brasília para discutir a relação. O presidente havia manifestado desagrado com o fato de a secretária de Cultura estar trabalhando em São Paulo durante a pandemia do novo coronavírus. A atriz tem 74 anos.

Em Minas Gerais, a cadeira da Funarte terá nova dona a partir de hoje. A atriz Fabiane Souza Aguiar Michel é a nova representante regional da instituição. Ela substitui o ator e diretor Maurício Canguçu, exonerado no último dia 29 de abril, nove meses depois de ter assumido o cargo.

A posse de Fabiane está prevista para esta quarta-feira (6). Ela confirmou ao Estado de Minas que esta será sua primeira experiência na gestão pública.

No meio teatral, houve alguma surpresa com a troca de comando, já que a atriz não é um nome tão conhecido no meio, e Canguçu não tinha intenção de interromper o trabalho que vinha desenvolvendo. O ator conta que recebeu um telefonema da colega na segunda-feira passada (4) para que ele a colocasse a par da situação da Funarte. Ele afirma que não a conhecia.

Fabiane Aguiar é graduada em psicologia pelo Centro Universitário Newton Paiva e formada pelo Teatro Universitário UFMG. Sua experiência teatral mais recente, ocorrida há um ano, esteve em cartaz na Funarte.

Dirigido por Marcelo do Valle, o espetáculo Os outros, baseado na obra Entre quatro paredes, de Jean-Paul Sartre, fez curta temporada em um dos galpões da Rua Januária, em abril do ano passado.

Entre as montagens de que ela participou estão Mulheres de Hollanda (2007) e A paixão segundo Shakespeare (2016), ambas dirigidas por Pedro Paulo Cava no Teatro da Cidade; Como matar a mãe – 3 atos (2013), que encenou ao lado de Léo Kildare Louback e Soraya Martins no Teatro João Ceschiatti do Palácio das Artes; e O homem que chovia (2011), direção de Jair Raso para a companhia de teatro Caixa de Fósforos.

A atriz em cena do espetáculo O homem que chovia, de Jair Raso. Montagem é de 2011(foto: Cia Caixa de Fósforos/Divulgação )
A atriz em cena do espetáculo O homem que chovia, de Jair Raso. Montagem é de 2011 (foto: Cia Caixa de Fósforos/Divulgação )


Vídeo

Nas redes sociais, Fabiane se apresenta como atriz, psicóloga e terapeuta holística. No vídeo O sucesso pode ser leve!, publicado no YouTube em 3 de dezembro de 2019, ela dá dicas de como lidar com uma carreira bem-sucedida. “Quando a gente sente que o sucesso é só nosso, por mérito apenas nosso, realmente fica pesado”, afirma.

“Graças a pessoas que viveram antes de nós, estamos aqui tendo a oportunidade de cumprir com o que nos é destinado”, explica no vídeo. Para ela, é necessário “dividir o sucesso”.

“Dê gratidão a tudo o que foi feito antes de você chegar, abrace o sucesso e tudo o que o universo tem a oferecer, honrando toda a sua ancestralidade”, aconselha no vídeo.

Canguçu, que estava à frente da Funarte-MG desde 5 de agosto de 2019, ficou sabendo de sua exoneração pelo Diário Oficial. “O Marcos Teixeira, que era o presidente interino, me ligou falando que tinha ficado sabendo da mesma maneira que eu. Foi uma coisa direta do Ministério (do Turismo, a quem a Funarte é subordinada). Não se sabe de quem”, afirma.

Mesmo pego de surpresa, Canguçu assume que esperava por sua saída desde março, quando o então diretor-executivo da Funarte, Leônidas de Oliveira (mineiro, ex-presidente da Fundação Municipal de Cultura na gestão Márcio Lacerda e no início da administração Alexandre Kalil), que o havia levado para a instituição, foi exonerado de surpresa.

“Meu foco é a cultura, não tenho nada a ver com política. Sem querer entrar no mérito, sou pequeno demais para entrar nesta discussão. Sou ator, artista”, diz Canguçu.

Leônidas de Oliveira deixou a Funarte junto com Mantovani, assim que Regina Duarte entrou na Secretaria Especial de Cultura, após negociar “carta branca” com o chefe do Executivo para montar sua equipe.

Até o maestro ser reconduzido, ontem, à presidência da instituição, o cargo de diretor-executivo foi ocupado por Luciano da Silva Barbosa Querido, ex-assessor do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Nos nove meses que ficou à frente da Funarte-MG, Canguçu acredita ter realizado “várias pequenas coisas legais”. Entre elas, o início de uma reforma da edificação histórica, de mais de um século, tombada pelo patrimônio histórico.

As portas foram consertadas, e um projeto, segundo ele já assinado com a UFMG, prevê uma “grande revitalização”, com nova bilheteria, pintura do muro e da passarela. “Dois dias antes de fecharmos (em decorrência da pandemia do novo coronavírus), a Prefeitura asfaltou a Rua (Januária). O muro já está pronto para receber pintura de artistas plásticos. É importante tirar a sensação de medo do local, que era uma reclamação da categoria.”

Na opinião de Canguçu, a Funarte tem um viés “muito artístico, às vezes um pouco hermético”. Sua intenção era transformar o espaço “em um produto que pudesse colocar nossos artistas trabalhando”.

A menina dos olhos do ex-gestor era a criação de um estúdio para promover oficinas de interpretação de vídeo. O projeto estava em vias de sair do papel quando Mantovani e Oliveira foram exonerados.

Por ora, a Funarte, que tem cerca de 30 funcionários – entre servidores e terceirizados – está em trabalho remoto, até 20 de maio. Uma das três representações regionais da fundação – as outras são em Brasília e em São Paulo – o braço mineiro da instituição conta com cinco galpões para apresentações artísticas e uma área livre que comporta até 1,2 mil pessoas. Mas não tem autonomia para definir sua atuação. Todas as orientações vêm da presidência da instituição, localizada na sede, no Rio de Janeiro.

Maurício Canguçu na sede da Funarte, na Rua Januária, em BH, em outubro passado. Instituição está em trabalho remoto durante a quarentena(foto: Leandro Couri/EM/ D.A Press )
Maurício Canguçu na sede da Funarte, na Rua Januária, em BH, em outubro passado. Instituição está em trabalho remoto durante a quarentena (foto: Leandro Couri/EM/ D.A Press )


Nove perguntas para...

Fabiane Aguiar
presidente da seção Minas Gerais da Funarte

Por que você aceitou o cargo?

Sou atriz de teatro há quase 20 anos e completamente apaixonada pelo que faço, pelo teatro e pela arte. Sinto que é uma alegria enorme e uma grande honra ter a chance de contribuir para o desenvolvimento do setor neste momento da minha vida. E fazer isto estando fora dos palcos é novo e desafiador e motiva muito. 

Qual a sua experiência na gestão pública?

Esta será minha primeira oportunidade na administração pública. Apesar disso, sinto-me preparada para este desafio. Já realizei diversos trabalhos em parceria com órgãos públicos, mas ainda não havia atuado na gestão pública.

Você assume a representação em Minas no momento em que Dante Mantovani quase foi reconduzido à presidência da Funarte. Teve contato com ele?

Não. Não o conheci.

Com que critérios pretende montar sua equipe?

A equipe atual que compõe a Funarte me parece bastante eficiente. Estou conhecendo as pessoas aos poucos. Acredito que iremos desenvolver um bom trabalho, dando continuidade aos projetos que vinham sendo desenvolvidos e apresentando novas propostas. Para mim, o segredo do sucesso está em trabalhar com pessoas que tenham conhecimento na área, capacidade de trabalhar em equipe e sejam bem-humoradas e dispostas.

Como imagina que suas experiências com terapias alternativas poderão ajudá-la a lidar com os desafios desse cargo?

A minha formação em psicologia e minha experiência com terapias alternativas me ajudam a lidar com o ser humano de maneira mais leve. Sinto que consigo acessar as pessoas com mais facilidade e me permito ser autêntica diante delas também. É uma troca bastante natural para mim. Os recursos terapêuticos me auxiliam na manutenção do equilíbrio e bem-estar. Ter saúde mental é fundamental. Inclusive fica aqui uma dica: todos deveriam se cuidar nesse sentido.

Qual é o artista vivo que você mais admira?

Admiro tantas pessoas no mundo da arte que seria até uma indelicadeza indicar nomes.

Qual é o artista que você mais admira em todos os tempos?

É o mesmo caso da pergunta anterior. São muitos ídolos. Mas, se tivesse de indicar apenas um que se destaca, para mim seria Charles Chaplin.

Existe alguma experiência profissional da qual você se arrependido?

Não. Sempre tirei grandes aprendizados de todos os trabalhos de  que participei.

Qual é o seu mais ambicioso plano no domínio da arte?

Que a arte passe a ter mais valor e apreço na nossa sociedade.



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