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Estado de Minas

Filme 'Por lugares incríveis' faz um tocante retrato da adolescência

Estrelado por Elle Fanning e Justice Smith, longa em cartaz na Netflix aborda temas delicados como depressão, morte e saúde mental dos jovens. Trama foi adaptada do best-seller de Jennifer Niven


postado em 28/03/2020 04:00

Violet (Elle Fanning) e Finch (Jessie Smith) vivem no mundo nada cor-de-rosa da adolescência (foto: Netflix/divulgação)
Violet (Elle Fanning) e Finch (Jessie Smith) vivem no mundo nada cor-de-rosa da adolescência (foto: Netflix/divulgação)

Por lugares incríveis (Netflix) é bem mais do que um filme para – e sobre – adolescentes. Estrelado por Elle Fanning (a garota de Um dia de chuva em Nova York, de Woody Allen) e Justice Smith (o Franklin de Jurassic World: Reino ameaçado e protagonista da série The get down), o longa dribla inteligentemente aquelas armadilhas-clichê de dramas românticos feitos sob medida para fisgar os jovens.

A adolescente Violet Markey (Fanning), traumatizada pela morte da irmã num acidente de carro, enfrenta a depressão, isola-se dos amigos, não dá conversa para os colegas e se enfurna no quarto cheio de (bons) livros. É fã de Virginia Woolf, a respeitada escritora inglesa que deu cabo à própria vida afogando-se num rio.

Numa certa manhã, Theodore Finch (Smith), garoto excêntrico, problemático e inteligente, flagra Violet no parapeito de uma ponte, indecisa se pula lá embaixo. Sobe ao lado dela, equilibra-se em apenas um pé e a convence a descer. Rebelde, apelidado de Freak (Aberração) pelos colegas e alvo de bullying, já surtou uma vez. Leva a pecha de “complicado”, enfrenta demônios existenciais com os quais o psicólogo da escola, a irmã e os raros amigos não conseguem lidar. De vez em quando, some. Ou explode, quando pressionado.

No teto do quarto, Finch mantém post-its coloridos com frases e versos. Por meio da palavra, tenta organizar o caótico turbilhão de pensamentos que o tortura. Sofreu abusos físicos do pai, que deixou a família, e a mãe está sempre trabalhando – aliás, ela nem aparece no filme. Mas não é um coitadinho.

Inicialmente, o “freak” e a “deprê” se estranham. Porém, é Finch quem acaba reconectando Violet com o mundo, apresentando a poesia de paisagens interioranas aparentemente sem graça de Indiana. Com aquele moço “complicado”, a garota descobre a beleza de um galpão abandonado, mas cheio de grafites e versos nas paredes, e de trens de ferro aposentados.

Nada é cor-de-rosa no mundo desse casal. Morte, suicídio, bullying, rejeição e depressão fazem parte do universo deles. Aliás, por baixo da aparência de normalidade dos adolescentes de Indiana, há bulimia, automutilação e aqueles transtornos cheios de letrinhas (TDAH, TOC, TOD), “tratados” com Ritalina e drogas tarja-preta.

Ao contrário de love stories açucaradas e escapistas, Por lugares incríveis, de certa forma, mostra a vida como ela é. Não há lições de autoajuda prometendo redenção. E nem adolescentes tratados como bobocas.

WOOLF 

Violet e Finch esbanjam delicadeza, veem o mundo de uma forma diferente. Pena que ninguém compreenda a dupla, sobretudo os adultos, mesmo bem-intencionados. E andam em boa companhia, aqueles dois. Não é à toa que o livrão de Virginia Woolf está na cabeceira de Violet. “Quem não fala a verdade sobre si mesmo não pode falar sobre os outros”, avisa a escritora. E a vida dói, bem sabe Finch.

O diretor Brett Haley não fez um filme baixo-astral sobre adolescentes em crise, embora seu longa seja comparado à polêmica série 13 reasons why, sobre uma garota que se mata. Com sensibilidade, propõe uma discussão sobre a saúde mental das novas gerações. E do preço de ser “diferente”.

O filme é uma adaptação do best-seller Por lugares incríveis, de Jennifer Niven, que assina o roteiro em parceria com Liz Hannah (de The Post: A guerra secreta, dirigido por Steven Spielberg). O romance foi lançado no Brasil, em 2015, pela Editora Seguinte.

A química está nos protagonistas. Elle Fanning arrasa como a triste Violet. A jovem atriz, aliás, é também produtora do longa. Justice Smith – sem a menor pose de galã – nos apresenta um Finch atormentado, sedutor, tocante. A talentosa dupla dá sustança ao “drama adolescente”, que tem muito a dizer aos adultos. Sobretudo neste momento de crise, quando a quarentena nos obriga a refletir sobre a morte e a vida – como ela é.

POR LUGARES INCRÍVEIS
. Direção: Brett Haley
. Com Elle Fanning e Justice Smith
. 2020, 107min
. Disponível na Netflix



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