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Maestro se despede de sua orquestra com concerto gratuito em BH

Marco Antônio Maia Drumond rege nesta quarta (13) pela última vez a Orquestra de Câmara Sesiminas, que ele criou e comanda há 33 anos


postado em 13/11/2019 04:00

(foto: Sebastião Jacinto Júnior/Divulgação)
(foto: Sebastião Jacinto Júnior/Divulgação)


''Nesses 33 anos ininterruptos, o que é raro neste país, ainda mais em se tratando de uma instituição cultural, deu para rir e para chorar muito, como dizia a minha mãe. Tivemos muitos problemas, é natural, mas as alegrias e os prazeres que tive superam em larga margem''

Marco Antônio Maia Drumond, maestro



O maestro Marco Antônio Maia Drumond tinha apenas 5 anos quando ganhou um pequeno violino de sua tia-avó Iracema, a quem se referia carinhosamente como tia Irá. “Ela foi uma pessoa fundamental na minha vida e na minha formação musical. Uma mulher que viveu à frente do seu tempo e de quem só guardo lembranças especiais. Foi esse presente que deu início a tudo”, afirma.

Com uma trajetória de quase seis décadas dedicadas às artes, o maestro decidiu agora que fará uma “longa pausa”. Para se despedir do público, ele rege nesta quarta-feira (13) a Orquestra de Câmara Sesiminas, grupo que ele criou e comanda desde 1986. Segundo o regente, a decisão de parar não foi fácil, mas foi tomada de forma madura e bem pensada.

“Não é uma coisa de ímpeto. Foi uma resolução serena, responsável. Conversei com a direção do Sesi, onde estou deixando muitos amigos, pessoas queridas. Acho que é o momento certo de eu sair. Estou deixando a orquestra nas mãos de uma pessoa mais jovem, que escolhi e que é da minha extrema confiança, tanto artística quanto pessoal, que é o meu maestro assistente, Felipe Vasconcelos. Tenho certeza de que a orquestra vai crescer muito com ele”, diz.

Natural de Belo Horizonte, Marco Antônio Maia Drumond está com 66 anos. Em 1960, ele ingressou no curso fundamental de violino da Universidade Mineira de Arte – hoje Escola de Música da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) –, tendo frequentado a classe do professor Gabor Buza. Em 1974, foi admitido no curso de graduação em regência da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em 1981, ganhou uma bolsa do governo polonês e foi estudar em Varsóvia, onde realizou o curso de pós-graduação em regência sinfônica e operística na Academia de Música Frédéric Chopin.

Quando retornou da Europa, o maestro recebeu o convite do empresário Nansen Araújo, então presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), para organizar uma orquestra que oferecesse o melhor do repertório camerístico e clássico ao público industriário. “Ele achava que o trabalhador da indústria era pouco contemplado com a cultura. Tanto que depois da orquestra surgiram outros projetos nessa área, como o próprio Teatro Sesiminas”, conta.

''Levar a música para quem precisa, essa classe trabalhadora que sustenta este país e que é a que mais sofre. Fico muito orgulhoso também de muitos filhos desses industriários e operários terem abraçado a profissão de músico e conseguido uma condição para se sobressair. É muito gratificante quando você vê que seu trabalho deu frutos''

Marco Antônio Maia Drumond, maestro



Fábricas

Ao longo desses 33 anos à frente do projeto, Marco Antônio levou a Orquestra de Câmara a todo tipo de empresa e fábrica, locais onde esse tipo de atividade não é habitual. Além dos concertos, o regente criou um programa didático e pedagógico, de modo que o operário compreendesse mais sobre esse universo. “Nunca me esqueci de uma vez em que um homem me abordou perto do Mercado das Flores, na Avenida Afonso Pena, e me perguntou se eu era maestro. Ele se lembrou da vez em que nos apresentamos na empresa em que ele trabalhava e aquilo o marcou. Foi a primeira vez que ele viu uma orquestra e, desde então, disse que parou de ter medo de frequentar teatros, concertos e até óperas por conta daquela experiência conosco. Isso é muito gratificante.”

O maestro não esconde o orgulho do trabalho. “Levar a música para quem precisa, essa classe trabalhadora que sustenta este país e que é a que mais sofre. Fico muito orgulhoso também de muitos filhos desses industriários e operários terem abraçado a profissão de músico e conseguido uma condição para se sobressair. É muito gratificante quando você vê que seu trabalho deu frutos.”

Também sob a batuta do maestro a Orquestra de Câmara Sesiminas percorreu mais de 400 cidades e realizou concertos com grandes nomes da música erudita, como os pianistas Nelson Freire e Arthur Moreira Lima e o violoncelista Antônio Meneses. O grupo, que hoje conta com 20 instrumentistas, também se aventurou na música popular, ao lado de artistas e bandas como Milton Nascimento, Lenine, Flávio Renegado, Zélia Duncan, Flávio Venturini, Gal Costa, Skank e Jota Quest.

“Nesses 33 anos ininterruptos, o que é raro neste país, ainda mais em se tratando de uma instituição cultural, deu para rir e para chorar muito, como dizia a minha mãe. Tivemos muitos problemas, é natural, mas as alegrias e os prazeres que tive superam em larga margem”, avalia.

Uma das alegrias foi um projeto que se tornou desdobramento da Orquestra de Câmara, a Escola de Formação de Instrumentistas de Cordas (Efic), que possibilita o acesso  a uma educação musical de qualidade para jovens, inclusive os que não têm condições financeiras para isso. São oferecidos cursos de violino, viola, violoncelo e contrabaixo. “Já saíram da escola profissionais renomados, que tocam não só na nossa orquestra, como na Sinfônica e na Filarmônica de Minas Gerais. Tem gente fazendo mestrado, tocando em outras cidades. A Efic me dá muita satisfação”, diz.

Paralelamente à regência no Sesiminas, Marco Antônio Drumond foi maestro do coral da PUC-Minas durante 22 anos – ele deixou o cargo em 2018 – e de um dos corais mais tradicionais do estado, o Madrigal Renascentista. “Entrei no Madrigal primeiro cantando. Assumi a regência do coral seis meses antes da criação da orquestra. No total, foram 44 anos, dois terços da minha vida. Saí de lá em maio, e agora deixo a orquestra. É um ciclo que se fecha”, comenta.

Por enquanto, o maestro está pensando em simplesmente “não fazer nada”. “Não quero assumir compromissos. Quero descansar. Trabalhei a minha vida quase toda. Em maio, devo realizar um desejo antigo,  que é fazer uma viagem de navio para a Europa. Tenho que aproveitar um pouco enquanto eu tiver saúde e alegria para viver.”

Na apresentação desta quarta, que é gratuita, Marco Antônio Maia Drumond optou por um repertório que, de certa forma, resume sua carreira. O concerto traz a música que ele mais regeu, Pequena serenata, de Mozart, além de uma peça brasileira, Bachiana brasileira nº 9, de Heitor Villa-Lobos. O programa inclui ainda Sinfonia concertante em lá maior para violino e violoncelo, de J. Christian Bach, e Sinfonia nº 45 em fá sustenido menor do adeus, de Haydn. “É um repertório que traz tudo o que prezei e admiro – música de qualidade, música brasileira e obras que valorizam os solistas.”


ORQUESTRA DE CÂMARA SESIMINAS
Concerto de despedida do maestro Marco Antônio Maia Drumond. Nesta quarta (13), às 19h30, no Teatro Sesiminas – Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia (31) 3241-7181. Entrada franca, mas é necessário retirar ingressos pelo site sympla.com.br.


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