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Na velha fazenda, um velho fantasma

Suspense de Andrucha Waddington leva a vingança ao centro da trama que remete à escravidão, mas prefere apostar na fórmula sem sangue e sustos


postado em 05/11/2019 04:00

Com roteiro de Fernanda Torres, trama tem Felipe Camargo e Carol Castro como protagonistas e ainda Fernanda Montenegro e Lima Duarte no elenco (foto: Dan Behr/Divulgação)
Com roteiro de Fernanda Torres, trama tem Felipe Camargo e Carol Castro como protagonistas e ainda Fernanda Montenegro e Lima Duarte no elenco (foto: Dan Behr/Divulgação)

Quantas histórias pode guardar uma fazenda antiga e abandonada, localizada num ponto qualquer entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro? Uma delas, imaginada pela roteirista Fernanda Torres, tem traição, morte e o desejo de um acerto de contas que sobrevive às gerações e chega hoje aos cinemas pela direção do marido, Andrucha Waddington. O juízo ostenta nomes de peso no elenco, como Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Carol Castro, além do protagonista Felipe Camargo e do cantor Criolo, que desempenha importante papel, mas segue por um caminho menos assustador dentro do suspense, que ganha mais um lançamento destacado no país.

Se nos últimos anos o cinema brasileiro vem oferecendo ao público diferentes níveis de carnificina e sobrenaturalidades em vários títulos dentro do gênero, Andrucha optou pelo “clima, drama e tensão”, em vez “do sangue e do susto”, para filmar a história escrita pela esposa. A trama tem um quê de peculiaridade. “Foi criada depois de uma semana santa que passamos no interior de Minas, perto de Barbacena, e ficamos conversando em família à beira de uma fogueira sobre causos da época do Ciclo do Ouro. Então, é uma história bem original.”

No longa, que marca o retorno do diretor das comédias Eu, tu, eles (2000) e Os penetras (2012) ao suspense, feito por ele em Gêmeas (1999), o personagem central é Augusto (Felipe Camargo). Aparentando atravessar crise matrimonial e profissional, ele resolve se mudar com a mulher, Teresa (Carol Castro), e o filho, Marinho (Joaquim Torres Waddington, filho do diretor e da roteirista na vida real), para a fazenda totalmente abandonada que herdou de seu avô. No local, filmado em Barra do Piraí, no interior fluminense, não há ninguém, e até mesmo a energia elétrica está cortada, o que não impede a família de tentar se estabelecer por lá. Porém, uma aparição misteriosa, ligada a um assassinato ocorrido ali mais de 100 anos atrás, muda a ordem das coisas.

Embora não demore a ficar claras as motivações dos acontecimentos que assustam os recém-chegados, Augusto resolve ir até o vilarejo próximo em busca de respostas, conversando com o ourives Costa Breves, vivido por Lima Duarte, e com Marta Amarantes, personagem de Fernanda Montenegro, que domina habilidades mediúnicas. Por lá ele descobre mais sobre o ex-escravo Couraça, interpretado pelo cantor Criolo, que tem fortes ligações com sua família. Ou seja, um enredo que envolve espíritos, desejo de vingança e um protagonista perdido entre a realidade e delírios fantasiosos, num processo que colocará ainda mais em xeque suas relações familiares.

INSPIRAÇÃO 

Esse enredo reúne aspectos já vistos em outras histórias cinematográficas, como assume o diretor. “Um filme de que eu gosto muito, que serviu de inspiração, foi Os inocentes (1961), de Jack Clayton. Um filme absolutamente fascinante, supertenso, todo passado em uma casa também. Ele vai pelo caminho do drama e de uma tragédia que se passa ali. No meu filme, estamos falando do juízo de duas famílias. Uma delas, escravizada, lutando pela liberdade, é alvo da ganância do fazendeiro. Essas almas não desencarnam, e o Couraça quer um acerto de contas de algo irreparável. Aliás, uma aberração irreparável no Brasil, que foi a escravidão”, comenta Andrucha.

Criolo vive Couraça, de uma das famílias que buscam %u201Cacerto de contas%u201D histórico (foto: Suzana Tierie/Divulgação )
Criolo vive Couraça, de uma das famílias que buscam %u201Cacerto de contas%u201D histórico (foto: Suzana Tierie/Divulgação )


No centro da trama, escravidão

Apesar da fantasia que costura a trama, o cineasta reforça a importância de abordagem do aspecto histórico sobre escravidão e racismo e os cuidados em abordá-lo. “O Brasil teve uma abolição absolutamente leviana. O racismo existe até hoje e é inaceitável, mas, infelizmente, presente e inegável. A história do nosso país vem sendo contada de uma maneira que estão querendo reinventar isso, falar que não foi assim. Mas nos livros temos essa história estampada e é preciso falar. Ninguém escolheu ser escravizado. No filme, Couraça luta por sua liberdade e é morto pela ganância de um fazendeiro”, argumenta.

O papel citado por Andrucha é desempenhado por Criolo, que já tinha algumas atuações anteriores no cinema. “Ele tem uma importância muito grande na construção do personagem, porque poderia cair no erro, mas consegue ser muito preciso. Ele dá medo, assusta, mas é extremamente doce e vítima também. Ele quer justiça. Teve uma construção muito inteligente”, argumenta o diretor sobre o ator, que tem poucas falas no filme, apesar de muitas aparições. Andrucha ainda elogia o restante do elenco, apontando um simbolismo estabelecido.

“Além do Felipe Camargo, que fez muito bem a composição do personagem principal, com todos os seus dramas pessoais, a Carol, fazendo a Teresa, que está presente vendo tudo aquilo acontecendo com o marido e com o filho. A família ainda é representada pelo personagem do Lima Duarte, um profundo conhecedor do pai e do avô do Augusto, enquanto o médico Lauro, feito pelo Fernando Eiras, representa a razão, e a Marta Amarantes (Fernanda Montenegro) representa a espiritualidade e a fé. Elementos inerentes à cultura brasileira”, diz o diretor.

Na ausência de cenas fortes e de ação para criar a tensão exigida pelo suspense, mais focado no drama pessoal e na estética das cenas, Andrucha destaca também o processo de pós-produção para encontrar o tom necessário. “Foi o filme que eu gastei mais tempo montando, para achar o ponto certo, onde dá tempo, onde há respiro. É tudo construído no olhar, na pausa, no silêncio, para criar o clima. E isso demanda precisão. Além disso, temos a fotografia, com cenas cinzas e pálidas durante o dia e densas durante a noite. Tudo isso faz parte da construção”, explica sobre O juízo, que tem 93 minutos de duração.



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