Cantor pernambucano Paes cria personagem Wallace em seu novo disco

postado em 05/10/2019 04:00 / atualizado em 04/10/2019 17:28

Wallace não é apenas o título do novo álbum do pernambucano Paes, lançado na sexta-feira (4), em K-7 e nas plataformas digitais. É também a persona que se manifesta nas sete faixas, de forma intimista, melancólica, introspectiva e reflexiva sobre a realidade ao redor, limitada por quatro paredes e embalada por batidas eletrônicas e arranjos experimentais criados em parceria com Benke Ferraz, guitarrista do Boogarins, responsável também pela produção musical.

Paes explica que Wallace, o personagem, nasceu durante as gravações, realizadas antes de o projeto ter um nome. “Surge de uma brincadeira nossa, em cima de 4Paredes, que é a música principal do disco. Falávamos ‘four walls’, ‘walls’, e aí veio Wallace”, conta o cantor e compositor, que fez o trocadilho ir além e se transformar em um eu lírico nas canções. “É algo como o David Bowie fez com Ziggy Stardust. Essa figura dá vida e personalidade ao trabalho, como conceito. Até mesmo a performance nos shows, o jeito de cantar e dançar tem a ver com ele”, explica.

Ouvindo as músicas e observando a arte de capa do álbum, assinada por Marcela Dias, é possível entender Wallace como alguém recluso num quarto, pensando em questões existenciais, enquanto olha a parede mal pintada, descrita na letra 4Paredes e também na introdução, que recorta apenas esse verso. No entanto, para essa canção, Paes e Wallace se valem da criatividade de outro artista, o carioca José Duarte, autor da letra.

''Surge de uma brincadeira nossa, em cima de 4Paredes, que é a música principal do disco. Falávamos 'four walls', 'walls', e aí veio Wallace. ''É algo como o David Bowie fez com Ziggy Stardust. Essa figura dá vida e personalidade ao trabalho, como conceito. Até mesmo a performance nos shows, o jeito de cantar e dançar tem a ver com ele''

Paes, cantor

“Ele me deu essa música em 2013. Ela cria essa imagética a partir da viagem na parede mal pintada. Corrobora com com a autenticidade do disco, pelo fato de ele ser muito pessoal. Ela sintetiza essa essência de um homem comum dentro de casa, com suas crises, refletindo sobre a existência e sobre a relação com ele mesmo e com o mundo. Ele diz que não mora na ciência, mas no abraço, ou seja, tenta prestar atenção na espontaneidade das coisas, a despeito desse ritmo capitalista que vivemos”, diz Paes sobre a faixa, que aparece em duas versões no álbum, sendo uma delas em voz e violão, formato original que ele recebeu de José Duarte.

Nas outras canções, de sua autoria, em parceria com outros artistas, esse tipo de ideia mais reflexiva está presente também em Fala, Lembra e Espelhoz, essa em parceria com Benke Ferraz. Juntos eles ainda fizeram a instrumental 8bitBlues, que apresenta o conceito musical experimental que predomina nas outras faixas, nas quais a letra é incorporada. Com baixo e bateria misturados aos beats eletrônicos, o trabalho mistura referências da música nacional com rock alternativo, post-punk oitentista e indie rock. Segundo Paes, a sonoridade é uma continuidade de sua discografia, que inclui três EPs, um CD e outro K-7, Mundo moderno, lançado no ano passado.

“É uma transição. Meus primeiros trabalhos eram mais baseados no samba e na Bossa Nova e foi se transformando em algo em que eu pudesse experimentar mais dentro do rock alternativo. Wallace é o disco em que mais experimentei. Não foi à toa que chamei Benke, com quem já tinha amizade. Ele tem essa habilidade de criar beats, como faz no Boogarins, e fazer músicas com áudios de celular. Eu nunca tinha trabalhado com música eletrônica, mas chegamos a essa sonoridade, que em 4Paredes, por exemplo, é mais lisérgica e viajandona”, diz Paes.