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Estado de Minas

Com filmes 100% feitos em BH, cineastas mostram a nova cara da cidade

Mostra A Cidade em Movimento reúne curtas e médias-metragens feitos na capital mineira por uma diversidade de diretores que têm em comum o baixo orçamento de suas produções


postado em 22/09/2019 04:00 / atualizado em 21/09/2019 21:19

 
Os diretores Luiza Garcia, Sávio Leite e Angélica Lourenço, cujos filmes integram a mostra paralela da CineBH(foto: MARCOS VIEIRA/EM/D.A.PRESS)
Os diretores Luiza Garcia, Sávio Leite e Angélica Lourenço, cujos filmes integram a mostra paralela da CineBH (foto: MARCOS VIEIRA/EM/D.A.PRESS)
Não espere superproduções ou efeitos especiais. O mote e o que difere a mostra A Cidade em Movimento do conteúdo de todos os outros festivais de cinema é dar visibilidade à produção audiovisual 100% local. O que, principalmente em tempos bicudos para a cena cultural, implica filmes produzidos com orçamento baixo ou até nulo, e que contemplam tanto realizadores veteranos quanto jovens, incluindo aí os ainda estudantes e a nova geração de cineastas. Não por acaso, representa uma oportunidade única para assistir a produções que não estão inseridas em salas comerciais.

Seção paralela da 13ª CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte, a mostra conta com 24 curtas e médias-metragens produzidos na Região Metropolitana (RMBH). São histórias que falam sobre a capital mineira e seu entorno, seu povo, sua cultura, suas nuances, seu cotidiano, suas políticas, tradições e problemáticas.

As exibições se encerram neste domingo (22), no Sesc Paladium, com sessão que exibirá quatro títulos, a partir das 19h, com entrada franca. A pesquisadora e ativista Paula Kimo, curadora da mostra desde 2016, ano em que foi integrada à programação do festival, destaca que a exibição dos filmes é acompanhada por Rodas de Conversa com convidadas especiais depois das sessões.

Paula explica também que, nesta edição, a mostra foi divida em cinco temáticas principais: “Trabalho e vida na cidade contemporânea”; “Por uma natureza que constitui a cidade”; “Corpo, experiência e militância”; “Contra o genocídio da juventude brasileira” e “Retrato de cidade”.

“Desde que a mostra surgiu, nossa proposta é organizar um conjunto de filmes que pudesse falar das resistências políticas, dos movimentos emergentes, das lutas que estavam escancaradas aí nas ruas, nas periferias, no Centro da cidade. Veio muito com essa característica, um tom de filmes políticos sobre BH.”

Já esta quarta edição abrange outros vieses, conta a curadora. “A mostra passou a ser desenhada também a partir da produção que a cidade vem desenvolvendo. Desde o ano passado, o lugar da política do cotidiano também está presente. Com isso, os títulos não abordam apenas o contexto de lutas na cidade, de ocupação, de resistência, mas também filmes produzidos no cotidiano do belo-horizontino, da RMBH. Falam sobre as lutas rotineiras, o trabalho, a vida, o circular pela cidade, o Centro e as periferias. As entranhas e invisibilidades.”

ZERO ORÇAMENTO

Outra meta da seleção desta quarta edição da mostra A Cidade em Movimento é “revelar a diversidade em todos os sentidos: racial, sexual, de gênero, de classe”, diz Paula. “São filmes de diferentes lugares, produzidos por diferentes realizadores e realizadoras e que mostram esses contrastes da cidade. A curadoria zela pelo respeito aos espectadores e aos próprios realizadores, que, muitas vezes, produzem com zero orçamento, sem que possam contar com uma estrutura mais industrial ou mais comercial. Há, ainda, o cinema universitário, um grupo grande de estudantes produzindo, novos cineastas que se formam a cada ano. Essa produção também tem um lugar bem especial na mostra.”

É este o caso do curta Cabeça de rua. Com menos de 15min de duração e realizado por alunos da Escola Livre de Cinema, com direção de Angélica Lourenço (à época ainda estudante), o filme flagra a rotina de uma mulher lavadora de carros em meio à possibilidade de conseguir um novo trabalho, desta vez no mercado formal. “Participamos do Festival Internacional de Curtas de São Paulo e também de mostras em BH, Brasília e no Rio de Janeiro, o que nos deixa muito felizes e a fim de produzir cada vez mais”, diz Angélica. A jovem cineasta destaca o fio condutor da trama, que traz como protagonistas duas primas, Célia e Sílvia, personagens que vivem de um ofício majoritariamente masculino e que usa as ruas da cidade como escritório. “Estamos falando de incertezas, insegurança do trabalho e das garantias do trabalhador, um paradoxo nesse cenário de mudanças. Também da posição que as mulheres ocupam e de como se inserem na sociedade, muitas vezes de forma invisível”.

Angélica comemora a repercussão do curta. “Como é um filme de escola, produzido com pouquíssimo recurso, uma pequena verba obtida a partir de vaquinhas e de contribuições voluntárias, termos sido chamados para vários festivais é uma vitória. É animador e engrandecedor.”

ANIMAÇÃO

Trabalhando com cinema há mais de 20 anos, principalmente no segmento de curtas de animação, Sávio Leite emplacou uma produção experimental na mostra, o curta Lacrimosa. “Trata-se do registro de um incêndio que destruiu uma grande fábrica têxtil, no Bairro Prado. A seleção para a mostra ajuda muito a divulgar um novo trabalho, que veio, coincidentemente, junto à questão de incêndios e queimadas que estamos presenciando”, diz ele.

Um dos destaques na sessão de hoje, o média-metragem Entre Amazonas e Tupis, de Luiza Garcia, registra em quase 30 minutos o entra-e-sai do público e de quem trabalha no Bar do Nonô, tradicional boteco no Centro de BH. Famoso por estar aberto há mais de 50 anos servindo caldo de mocotó, o reduto boêmio funciona 24 horas e reúne frequentadores de diferentes perfis.

Luiza, formada em comunicação social pela UFMG e em audiovisual em cursos livres e na Escola de Cinema de Los Banõs, em Cuba, diz que ansiava por ver o filme selecionado na mostra internacional. “O papel do cinema de BH e de Minas tem sido muito relevante no momento atual. Há alguns anos saímos do eixo Rio-SP, e outras cidades vêm ganhando destaque na produção audiovisual brasileira. Mas ainda temos muita luta nesse momento de editais restritos, de governos que não facilitam a produção cultural. Tanto que usamos em parte recursos da Lei Rouanet e também de financiamento coletivo”, diz ela. “Ainda assim, o cinema tem crescido em BH, com mais nomes, mais pulverizado. Com disposição e a manutenção de festivais, ganhamos força para chegar ao ponto que queremos.”

EM CARTAZ
Confira os filmes que serão exibidos hoje

» Minha raiz, de Labibe Araujo
Belo Horizonte como espaço de performance e intervenção política contra o racismo

» Da janela, de Luciano Correia
Documentário sobre os contrastes sociais da cidade filmado a partir das janelas de diversas moradias

» Diz que é verdade, de Claryssa Almeida e Pedro Estrada
Trabalhadores comuns, Alexandre e Suelen experimentam o estrelato numa noite de videokê
(foto: CineBH/Divulgação)
(foto: CineBH/Divulgação)

» Entre Amazonas e Tupis, de Luiza Garcia
Documentário sobre o Bar do Nonô, tradicional reduto boêmio no Centro da capital.

Na Roda de Conversa com os diretores a convidada é a antropóloga Rosália Diogo

A CIDADE EM MOVIMENTO
Neste domingo (22), às 19h, no Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Entrada gratuita. Os ingressos são distribuídos 30 minutos antes do início da sessão. Mais informações:  www.cinebh.com.br.




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