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Memória exterminada

Em seu novo livro, Giselle Beiguelman analisa o culto ao esquecimento que se tornou marca da sociedade brasileira


postado em 15/07/2019 04:08

Memória da amnésia, em SP: monumentos ao léu(foto: Giselle Beiguelman/divulgação)
Memória da amnésia, em SP: monumentos ao léu (foto: Giselle Beiguelman/divulgação)


Memoricídio. A artista Giselle Beiguelman pegou emprestado o neologismo cunhado pelo médico croata Mirko Grmek para falar do incêndio que, em 2 de setembro de 2018, dizimou o Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. O livro Memória da amnésia – Políticas do esquecimento (Edições Sesc), que está sendo lançado este mês, já estava praticamente pronto quando a tragédia ocorreu.
 
“O incêndio do Museu Nacional acabou sendo metáfora de tudo o que venho discutindo”, afirma ela, que decidiu reabrir o livro para um novo capítulo. Beleza compulsiva tropical, que encerra a obra e analisa o fim da instituição sob as chamas, aparece quase como um posfácio.
 
De certa maneira, todos os temas tratados em Memória da amnésia falam de memoricídio – que, na definição de Grmek, é “a intenção deliberada de destruir todos os traços de existência cultural e histórica de uma nação em um determinado território”.
 
Beiguelman, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), apresenta cinco capítulos (com ensaios textuais e visuais) que tratam de memória, esquecimento, tempo e das políticas em curso sobre tais temas no Brasil.
 
O ponto de partida foi a exposição Memória da amnésia. Apresentada no Arquivo Histórico de São Paulo, em 2015, a mostra reuniu esculturas de figuras heroicas e históricas que haviam sido retiradas dos espaços que ocuparam na cidade e jaziam inertes em um depósito.

“(Na época) As pessoas ficaram impressionadas com aquele depósito de monumentos. Ele, em si, não é uma aberração, pois é comum qualquer grande cidade ter um lugar para monumentos em manutenção. A discussão é algo maior, que vem com a própria história da cidade de São Paulo e, de certa forma, reverbera na história do Brasil. O que explica aqueles monumentos terem sido empilhados é também uma certa aleatoriedade em sua implantação.
 
É muito recente a discussão sobre o porquê de implantar uma referência em um espaço público que supostamente vai dizer respeito às memórias coletivas. Pela própria incipiência da democracia no país, esse sempre foi um ato aleatório, voltado para as instâncias do poder”, comenta Beiguelman.

PORTO MARAVILHA A partir desse tema, ela parte para outras discussões. O capítulo Já é ontem? recupera, por meio de imagens, o impacto que a construção do Porto Maravilha, no Rio – que gerou espaços culturais como o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Museu do Amanhã –, causou naquela paisagem. Já em O livro depois do livro, título que se refere a uma obra de net art que a artista realizou em 1999, ela reflete sobre como a tecnologia altera a leitura e a escritura.
 
As mudanças tecnológicas, que tornam a vida cada vez mais rápida e o ontem cada vez mais distante, também são discutidas por Beiguelman. “Há uma instância transversal da experiência contemporânea que é a perda de dados, a impossibilidade de acesso, não saber para onde, para quem e como vão as nossas informações. Isso faz com que o trabalho com a memória seja um trabalho de disputa”, ela observa.
 
Mas há conquistas irreversíveis, Beiguelman destaca. “Por mais memoricida que a nossa tradição histórica seja, os últimos anos de experiência democrática garantiram uma possibilidade de narrativas alternativas que constituem outras formas de experiência da civilidade. E isso não volta atrás. Mesmo que se tente pela força, acho que determinadas conquistas, que são estratégicas, de alguma maneira iluminam as contradições e as tensões da constituição da nossa memória e da nossa história como um todo”, conclui.
 
 
“Somos exímios memoricidas. O indigenismo romântico financiado por dom Pedro II no Segundo Reinado  e o apagamento da escravidão africana dos discursos oficiais da época mostram que essa prática faz  parte de nossa tradição. A relativização da ditadura brasileira como 'ditabranda', a manutenção de sua documentação sob sigilo e os poucos espaços dedicados à sua memória são outros indicadores da história do Brasil como uma história de apagamento da violência e da memória. Não foi diferente com o incêndio do Museu Nacional. Lamentado à exaustão nos primeiros dias, foi muito rapidamente esquecido do
 notíciário e das conversas que tomaram o país”

Trecho de Memória da amnésia 
 
 
MEMÓRIA DA 
AMNÉSIA:
POLÍTICAS DO 
ESQUECIMENTO
. De Giselle Beiguelman
. Edições Sesc São Paulo
. 248 páginas
. R$ 95 


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