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Brasil não controla efeitos subliminares em produções audiovisuais

Leis nos EUA e na União Europeia proibem técnicas que provocam reações no espectador, embora não sejam percebidas por ele. Saiba mais sobre o emprego desses recursos


postado em 18/03/2019 05:13

Performance de Pikachu, em 1997, provocou onda de convulsões, obrigando a Nintendo a indenizar crianças
Performance de Pikachu, em 1997, provocou onda de convulsões, obrigando a Nintendo a indenizar crianças

 

Neste mundo a todo vapor, com dados e acontecimentos que nos escapam aos olhos, há uma brecha que mescla oportunismo e desaviso: a comunicação subliminar. Mensagens a princípio despercebidas se incrustam no cérebro do espectador, que, de forma inconsciente, as absorve.

“Essas tecnologias subliminares são proibidas por lei na União Europeia e nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, propus que fossem aplicados alguns artigos do Código de Defesa do Consumidor (artigo 36, sobre o imediatismo da identificação de publicidade) e do Código de Ética da Publicidade (artigo 22, vinculado à padrões de decência) proibindo tecnologias subliminares”, afirma o professor e escritor Flávio Calazans, autoridade no tema.

“Há inúmeros casos do emprego frequente da tecnologia subliminar no cinema, televisão e internet. No Drácula de Bram Stoker, de Francis Ford Coppola, vi o Gary Oldman sem maquiagem em um frame, entre relâmpagos, e maquiado de lobisomem. Um ano depois, catei o frame no VHS, e pessoas com doutorado reforçavam minhas alucinações, dizendo existir mesmo a imagem”, brinca.

Perito judicial em casos como o de anúncios abusivos de cigarro na TV, Calazans cita dados interessantes sobre processos relacionados à exposição de entretenimento subliminar. É o caso de um episódio de Pokémon que levou a Nintendo a pagar salário vitalício a cada criança que sofreu epilepsia quando da exposição à animação, em 1997 (leia entrevista nesta página).

No Brasil, o recente caso do thriller dramático Albatroz, estrelado por Alexandre Nero, levou a distribuidora Paris Filmes a adotar precauções. Além da recomendação para maiores de 14 anos, há o alerta de que os efeitos da elaborada (e perturbadora) fotografia do longa podem ser inadequados para pessoas com epilepsia.

PISCA-PISCA A capacidade de manter a completa lucidez nas cenas de ação, diante da intensidade dos movimentos e do desenfreado pisca-pisca de luzes, foi foco da discussão envolvendo o lançamento de Os Incríveis 2. A norte-americana Verônica Lewis alertou que tais recursos poderiam provocar convulsões. Acatando a reivindicação da espectadora, a Disney tornou pública, por meio de cartazes, a possibilidade de efeitos desagradáveis ocorrerem durante as sessões.

Fisicamente menos agressivos, os efeitos de produções infantis como A Pequena Sereia – com algumas canções que desautorizam qualquer emancipação feminina – tocam perigosamente nuances psicológicas. Naquele filme, lançado em 1989, há generalizações. Em certo momento, a bruxa Úrsula diz à jovem Ariel: “Só as bem quietinhas vão se casar”. Essa mensagem está entre aquelas passíveis de contestação.

Já a animação A Bela e a Fera traz outra curiosidade subliminar: uma caveira é refletida na pupila do personagem Gastão. Átimos são o suficiente para que o imperceptível se instaure. Em Psicose, por exemplo, há a sobreposição da caveira, num lampejo, bem no rosto do protagonista. O clássico de 1960, assinado pelo mestre Alfred Hitchcock, exibe a fusão, por décimos de segundo, de Norman Bates (Anthony Perkins) à imagem de um crânio, justo quando ele tem o depoimento colhido na prisão.

Em Eu sou a lenda (2007), protagonizado por Will Smith, há a emblemática cena na Times Square, com mensagem aparentemente invisível: em meio ao ambiente apocalíptico, o filme traz uma peça publicitária estampada em que Superman enfrenta Batman – fato materializado num longa de 2016.

ZOAÇÃO Silenciosos, os dados subliminares invadem filmes inofensivos como O âncora: a lenda de Ron Burgundy (2004). A zoação nesse longa (todo em inglês) está na fachada do restaurante mexicano Escupimos en su Alimento (ou seja, pratos são servidos com cuspidelas). Por sua vez, o argentino Gaspar Noé revestiu a sonoridade de Irreversível (2002) – famoso pela cena de estupro da personagem de Monica Bellucci – com perturbadora frequência de ruído praticamente inaudível, mas incômoda.

Provocativo e revolucionário, o terror O exorcista (1973) teve sessões norte-americanas respaldadas pela distribuição à plateia de sacos descartáveis para vômito, dado o efeito causado no público pela trama adaptada do livro de William Peter Blatty. A história se baseou em um episódio real de exorcismo ocorrido em 1949, no Missouri (EUA).

Vencedor do Oscar de melhor som, O exorcista contou com vários efeitos subliminares. Foram introduzidos, mesmo em momentos de absoluto silêncio, zunidos de abelhas e o barulho do sacrifício de porcos. Uma carteira de couro, recheada de cartões de crédito e amassada ao microfone, forneceu o som da famosa girada de cabeça da personagem de Linda Blair.

Também ruidoso – ainda que substanciado em associações de imagens –, o conteúdo subliminar invadiu outro campeão de audiência: Clube da Luta, adaptação do livro de Chuck Palahniuk. No filme de David Fincher, o personagem Tyler Durden (Brad Pitt) insere imagens pornográficas, logo de cara, nas fitas a serem mostradas à plateia infantil.

 

Entrevista

Flávio Calazans,
pesquisador

 

"A tecnologia subliminar viola o livre-arbítrio"

 

No Brasil, aplicações subliminares podem ser enquadradas como crime?
Há casos de subliminares verdadeiros que resultaram até em processo. Em novembro de 2002, a MTV foi processada. Um juiz da 12ª Vara Cível de São Paulo concedeu liminar a pedido do Ministério Público. Promotores que atuam em defesa dos consumidores e da infância e adolescência ingressaram com ação civil pública contra a emissora. De acordo com o MP, uma vinheta (retirada do ar) “no plano consciente veicula imagens regulares com o logotipo da MTV, mas quando as imagens do referido clipe são submetidas a velocidade mais lenta, percebe-se que as mesmas trazem cenas explícitas de prática sexual chamada de sadomasoquismo.”

O famoso caso do “Beba Coca-Cola” foi reconhecido como real?
O caso da Coca-Cola foi um fato verdadeiro e comprovado. Fake news não têm detalhes como data, local e números, além do nome do autor, James Vicary, que apenas copiou experimentos de psiquiatras realizados em laboratórios de institutos de pesquisa. Vicary divulgou o resultado do experimento que teria conduzido num cinema de New Jersey. A inserção das frases “Drink Coke” e “Eat popcorn” durante a projeção de filmes, em noites alternadas, teria aumentado em 57,7% as vendas de pipoca e em 18,1% as de Coca-Cola, à saída do cinema. A experiência foi relatada no volume 37 da revista Advertising Age, em 1957. Dizem que a ciência é isenta de intenções éticas ou políticas e dizem o mesmo do jornalismo. Mas isso é mentira e a tecnologia subliminar é o maior exemplo, pois viola o princípio do livre-arbítrio e, com isso, todo contrato de compra e venda, até de um refrigerante ou balinha doce.

A Disney é realmente um reino de casos estranhos de imagens enxertadas visando influenciar as crianças? Ou as teorias divulgadas na internet são falsas?
Só há um caso verdadeiro da Disney documentado, todo o resto é fake news e desinformação, mistificação infundada – mentiras e delírios, a maioria de fundo psicótico-religioso. O único caso comprovado é o do desenho Bernardo e Bianca, de 1977. Há a inserção de dois fotogramas de uma mulher com os seios à mostra. A cena ocorre aos 28 minutos do filme e é visível apenas quadro a quadro. A Disney admitiu publicamente ter encontrado imagens abaixo do limiar de percepção e foi obrigada a recolher 3,4 milhões de fitas em locadoras de vídeo nos Estados Unidos.

No universo dos filmes, quais são os ruídos de comunicação mais incômodos devido à aplicação de subliminares?
O uso errôneo de subliminares pode induzir ataque epilético em espectadores não epiléticos. Um exemplo prático o caso Pokémon. Na terça-feira, 16 de dezembro de 1997, às 18h30, no Japão, começa a transmissão do desenho animado da série. O episódio Computer warrior porigon é exibido em rede por uma cadeia de 37 emissoras, ocasionando centenas de ataques epiléticos em telespectadores. Pikachu piscou o quociente taquicoscópico subliminar de 10,8 vezes por segundo, excedendo em mais de três vezes a margem que pesquisadores ingleses regulamentaram como máxima, atingindo níveis de reação fisiológica subliminar devido ao pisca-pisca de luzes subliminares/ taquicoscópicas. Nisso tudo, há a ativação da glândula pineal e depois a liberação de melatonina, que realiza a síntese do neurotransmissor serotonina, quebrando cadeias de alcaloides do sangue, como explica a biofísica.


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