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'Vice' mostra como se constrói a carreira de um político abominável

Longa de Adam McKay traça um perfil demolidor de Dick Cheney, o companheiro de chapa de George W. Bush, que teria sido o estrategista da resposta da Casa Branca ao 11 de Setembro. Filme tem oito indicações ao Oscar


postado em 03/02/2019 05:04

Com sua interpretação de Dick Cheney no longa, Christian Bale venceu o Globo de Ouro e concorre ao Oscar de melhor ator(foto: IMAGEM FILMES/DIVULGAÇÃO)
Com sua interpretação de Dick Cheney no longa, Christian Bale venceu o Globo de Ouro e concorre ao Oscar de melhor ator (foto: IMAGEM FILMES/DIVULGAÇÃO)

 
Dick Cheney é considerado o vice-presidente mais poderoso da história, tendo sido um dos arquitetos da guerra contra o Iraque e da criação da prisão na base americana de Guantánamo. Mas Vice, em cartaz nos cinemas, se propõe a ser mais que biografia. Adam Mckay, responsável pelo roteiro e pela direção, já disse que a história é também sobre o Partido Republicano.

Vice disputa oito categorias do Oscar 2019, que terá sua cerimônia de premiação no próximo dia 24. Estão indicados os atores Christian Bale, Amy Adams e Sam Rockwell. E Adam McKay concorre duas vezes (como diretor e roteirista).

Vice parte da juventude de Dick Cheney (Christian Bale) para retratá-lo como um estroina que bebia demais e não tinha coisa que prestasse na cabeça. Sua salvação, se o termo cabe, deve-se à então noiva e depois esposa, Lynne Vincent (Amy Adams). Esta Lady Macbeth dos tempos modernos um dia encurrala o noivo e lhe pergunta se deseja ser alguém na vida ou estava conformado em ser um bêbado qualquer.

Esse seria o impulso psicológico que faltava para Cheney entrar para a política e buscar o destaque, sem qualquer outra consideração que não o sucesso. É uma hipótese, claro, mas faz sentido no contexto de um país que coloca o êxito como objetivo supremo e tem na palavra loser (perdedor) a sua pior ofensa.

Cheney decide ser um vencedor. E, como tem em Donald Rumsfeld (Steve Carell) um excelente mestre, aprende a escolher os caminhos certos e trilhá-lo com o foco permanente na acumulação máxima de poder. Dessa maneira, seguimos as peripécias de Cheney rumo ao topo, e à espera de uma grande oportunidade. Esta surge quando George W. Bush (Sam Rockwell) o convida para ser vice em sua chapa. A princípio, Cheney não se mostra disposto. Considera a vice-presidência cargo decorativo, vizinho ao poder, mas sem exercê-lo de fato. A não ser...

A não ser que consiga convencer o candidato a conceder algumas alterações nos atributos do cargo. Que tal, por exemplo, dar ao vice o comando das Forças Armadas e da diplomacia, incluindo-se aí, é claro, a CIA e todas as operações, legais ou ilegais, realizadas no exterior? Mas será algum candidato a presidente tolo o suficiente para abdicar de parte considerável do poder que terá, caso eleito, e transferi-lo para seu companheiro de chapa?


Na interpretação do filme, esse candidato se chama George W. Bush. Cheney teria aceitado concorrer, mesmo se Bush negasse seu pedido? Não se sabe; tudo é especulação. Mas, como o jogo do poder é parecido com o pôquer, se Cheney estava blefando, ganhou aquela mão, mesmo sem ter ótimas cartas.

PÔQUER Do ponto de vista cinematográfico, esta é uma das sequências-chave do filme. O pôquer entre Bush e Cheney, no qual se disputam parcelas de um futuro e hipotético poder. Talvez se possa criticar o modo um tanto caricato com que Bush é interpretado por Sam Rockwell. Seu jeito simplório, tosco mesmo, diante de um aliado/adversário a manejar como mestre as artes da astúcia política.

Mas, como se sabe, tanto Bush como Trump e outros políticos em outras latitudes fazem de sua falta de refinamento e limitação cultural trunfos para ganhar o voto do “homem médio”, ressentido, anti-intelectual e mais propenso a seguir palavras de ordem do que pensamentos complexos.

De qualquer forma, foi assim que Bush chegou ao poder – levando com ele Cheney. Quis o destino que a dupla se defrontasse com o grande desafio do 11 de Setembro de 2001, o ataque da Al-Qaeda aos Estados Unidos com a destruição das Torres Gêmeas em Nova York. Foi um fato que mudou a história da humanidade, para pior provavelmente, logo no alvorecer do século 21.

De acordo com Vice, Cheney teria assumido papel protagonista em uma situação de urgência bem acima da capacidade de reação de Bush Jr. Teria sido o vice, então, o promotor da implacável caçada à Al-Qaeda e ao seu líder máximo, Osama Bin Laden (que seria encontrado e morto apenas no governo Barack Obama). Teria saído de Cheney a ideia da invasão do Iraque e a deposição (e depois execução) de Saddam Hussein, a pretexto da existência de armas de destruição em massa. Como se sabe, essas armas jamais seriam encontradas. Mas, então, a invasão do Iraque, riquíssimo em petróleo, já era fato consumado.

BASTIDORES
Como filme, Vice é construído sobre essas manobras de bastidores, em que o poder se move em direção a áreas de interesse, usando pretextos nem sempre críveis e poucas vezes éticos. Daí o charme oculto desses manipuladores que, sem ocupar a ribalta, são os que de fato conduzem o jogo.

Mesmo nas democracias, já aprendemos, às vezes com muito sofrimento, que o poder mantém suas zonas de sombra. Nem tudo vem a público, ou vem tarde demais, ou de forma incompleta, a pretexto da “segurança nacional”. Sob a forma cômica mordaz, Vice reafirma essa opacidade do poder e nos traz alguma coisa a mais. Em tom sarcástico, insinua os limites da democracia e sua ilusão de transparência, mesmo em países de instituições sólidas como os Estados Unidos. (Agência Estado)


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