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Autor do hit Evidências, Paulo Sergio Valle lança livro de memórias

Letrista de cerca de 900 canções, compositor carioca diz que a música mudou e cada geração tem a própria trilha sonora


postado em 27/01/2019 05:08

 (foto: Tarso Ghelli/divulgação)
(foto: Tarso Ghelli/divulgação)


Evidências (Chitãozinho & Xororó), Se eu não te amasse tanto assim (Ivete Sangalo), Preciso aprender a ser só (Elis Regina), Confissão (Roberto Carlos), Cheiro de amor (Maria Bethânia), Samba de verão (Caetano Veloso), Viola enluarada (Milton Nascimento) e Onde quer que eu vá (Paralamas do Sucesso). Esses são apenas alguns dos sucessos entre as quase 900 canções do carioca Paulo Sergio Valle em mais de 50 anos de carreira como letrista. Grande parte delas em parceria com outros compositores – do irmão Marcos Valle ao maestro de Roberto Carlos, Eduardo Lages.

“Se você pensar que comecei a trabalhar relativamente cedo, com 20 e poucos anos, e hoje já tenho 78, se você distribuir isso tudo pelo tempo que trabalhei, nem é tanto assim”, diz Paulo Sérgio, entre risos. Fazendo as contas, seriam, em média, 16 canções por ano, levando em consideração os 56 anos de carreira.

Independentemente da matemática, Valle é um dos grandes nomes da composição brasileira, gravado por diferentes artistas — a maior parte da MPB. Essa trajetória está registrada em Contos e letras: Uma passagem pelo tempo. Não é uma simples autobiografia. Na verdade, nem é uma biografia, segundo ele. Há um quê do formato, mas, na verdade, trata-se da reunião de memórias em forma de contos, sem obedecer à cronologia.

A “aparente desordem”, como o próprio autor diz, é proposital. Ele foi escrevendo aos poucos o que vinha à mente, das experiências como piloto de avião, passando por encontros musicais, como aquele com José Augusto, parceiro na canção de maior sucesso, a romântica e sertaneja Evidências, e a tocante amizade com Herbert Vianna, às engraçadas histórias dos jingles que viraram hits da MPB gravados por Zizi Possi e até pelo elenco inteiro da Globo. Paulo Sergio e Nelson Motta fizeram Novo tempo, música-tema de fim de ano da emissora. Outro parceiro é o irmão, Marcos Valle.

Em meio aos contos, o carioca, presidente da União Brasileira de Compositores (UBC), intercala letras das principais canções e poemas. “Escreverei sim, mas será o que vier à cabeça, como o movimento natural desses pássaros e do bichano. Por mais que eu viaje, não sairei dessa sala. E será tudo em forma de contos, poesias e letras de música. Pra mim, a vida é um conjunto de contos esparsos, e não um romance inconsútil”, define Valle no primeiro capítulo de seu livro.



O livro é diferente, reunindo contos, composições e poesias. Por que você optou por esse formato?

Comecei a escrever as fases da minha vida que achei interessantes. Não é uma autobiografia, são coisas que testemunhei, que, de uma certa maneira, vivenciei. Mas não é autobiográfico. Fui escrevendo assim, não tive a preocupação de ligar um conto ao outro. E muito menos de estabelecer uma cronologia. Fui simplesmente escrevendo. Pensei comigo que no final, quando estivesse tudo pronto, eu daria um jeito. Quando cheguei ao final (dos contos), achei que podia ficar como estava. No início do livro, esclareço ao possível leitor: é um livro anárquico. Não obedeci ao tempo, ao rigor das coisas. Mas era fundamental explicar isso, porque se não ficaria um troço de doido. Explico isso no começo do livro, e aí dá um sentido a tudo o que vem depois. Quis também, e isso acho importante, organizá-lo como se a vida fosse uma sucessão de contos – e não uma história desde que a gente nasce, vive, até a hora de morrer. Como se cada dia fosse um conto. Então, isso deu sentido ao fato de os contos não terem conexão no tempo cronológico.

Como você escolheu as fases de sua vida que integrariam o livro?

Não tive uma regra para escolher os contos. Coisas que me marcaram e ficaram na minha memória... Quando resolvi escrever, essas coisas afloraram, aí acho que foi uma coisa de emoção. Talvez uma emoção retida, a emoção que fica na memória. Fui escrevendo as coisas de que me lembrava. Quando comecei a escrever, deixei uns blocos em branco no escritório da minha casa. Todos os dias, ia lá e escrevia um conto. Certamente, esses contos afloraram porque me marcaram, foram coisas que me deixaram impressões.

São mais de 800 composições. De onde vem tanta inspiração?

Você tem que considerar o seguinte: tenho quase 900 músicas gravadas, mas se você pensar que comecei a trabalhar relativamente cedo, com 20 e poucos anos, e hoje tenho 78, se você distribuir isso tudo pelo tempo que trabalhei, nem é tanto assim (risos). É difícil você saber de onde vem a inspiração, pois, às vezes, a pessoa acha que o compositor está vivendo aquilo que escreveu ali naquele momento. E, às vezes, ele já viveu aquilo, mas até esqueceu. De repente, aquilo volta quando você vai compor.

Como você compõe?

Há duas maneiras de compor. Uma é esperar a inspiração, a emoção – você nem sabe pra quem está fazendo a música, se algum dia alguém vai gravar. A outra é você já pensar mais ou menos num cantor para aquela música. Você gosta de determinado cantor, do estilo dele, e já faz a música no estilo dele. Essa é uma outra maneira, que exige mais disciplina. E você sempre corre o risco de fazer a música e o cantor não gostar (risos). Mas o fundamental de tudo e de ter uma obra bastante grande como a minha é a disciplina. Se você não tem disciplina, sempre fica adiando para o dia seguinte. Disciplina é fundamental.

Você ainda faz letras?

Sim, mas o interessante é que, hoje, as minhas músicas mais tocadas são as mais antigas. Uma delas, que está entre as mais tocadas no Brasil, é Evidências. Eu e José Augusto fizemos essa música há mais de 25 anos. Ela está estourada e volta e meia estoura outra vez. Com Se eu não te amasse tanto assim, que fiz com o Herbert Vianna, foi a mesma coisa. A gente fez a música, de repente a Ivete Sangalo gravou, estourou e volta e meia faz sucesso novamente. O que fiz ultimamente não tem tido tanto sucesso. Mas vou em frente. Hoje em dia, não estou mais muito preocupado com o sucesso. Também temos que considerar que hoje tudo mudou. Antigamente, você tinha o disco. Hoje, ele não existe mais. A pessoa gosta da música e baixa no digital. O público quer é a música, não o disco. Então, mudou a maneira de compor. Talvez ainda não tenha me adaptado bem a esse sistema atual de fazer música.

Evidências é uma canção antiga, mas volta e meia reaparece. Na internet, há quem peça para que ela seja o hino do Brasil. Como você vê isso?

(Risos) Olha, foi uma grande surpresa, porque nunca achei que fosse fazer tanto sucesso. Se você olhar bem a música, ela é grande. A letra é grande. No entanto, o público a canta inteira, de cabo a rabo. Isso é impressionante. Acho que nós demos sorte. Escrevemos uma música que se identifica com o sentimento das pessoas. Certa vez, uma pessoa, falando sobre Evidências, disse: ‘Parece que as pessoas já nascem com o DNA dessa música’. Achei espetacular. Ela quis dizer que as pessoas se identificam com aquele sentimento, com aquilo que a música passa – no fundo, uma paixão escondida, mas avassaladora. O público gosta de música de amor, sobretudo quando se está apaixonado. Também gosto, por isso deu um casamento perfeito.

Você compôs outra música que fica na cabeça das pessoas em todos os dezembros. Como surgiu o tema de fim de ano da TV Globo?

Ela foi feita pelo Nelson Motta e por mim. Ela realmente foi feita para ser música de um ano só da Globo. Seria, portanto, quase um jingle. Só que a resposta do público foi tão boa que a Globo resolveu adotá-la como tema de fim de ano. Ela faz muito sucesso, mas no fim do ano. Você não pode compará-la com Evidências, porque é um sucesso espontâneo. O público gostou de Evidências, enquanto o tema da TV Globo, que acho bonito e interessante, modéstia à parte, tem a emissora por trás. Você vai ouvi-la constantemente. É diferente.

Você teve a oportunidade de compor para diferentes artistas, foi gravado por tantos outros. Há algum cantor que gostaria que gravasse uma canção sua? Alguém da nova geração?

A música que faz sucesso mudou, não estou falando daquela música que fica meio escondida. Mudou muito, porque cada geração tem a sua trilha sonora. Isso é fato. Às vezes, as pessoas de uma geração anterior ficam metendo o pau, linchando, falando que é uma porcaria, pois não é da geração delas. Esse tipo de música, essa exatamente que estão fazendo agora, confesso que não sei fazer. Basicamente, sou um compositor romântico. Você pode ver que quase todas as minhas músicas de sucesso eram românticas – da Alcione, Você me vira a cabeça, do Só Pra Contrariar, Essa tal liberdade. Hoje em dia, se pudesse, gostaria muito de fazer outras músicas para o Roberto Carlos. Eu e o Eduardo Lages fizemos umas 18 ou 19 pra ele, que foram gravadas. Mas até o próprio Roberto mudou o sentido da sua carreira, não está mais fazendo disco. Gostaria de poder compor algumas músicas românticas para ele. É um cantor que me marcou muito.

Falando em Roberto Carlos, como foi a parceria com o Eduardo Lages?

O Eduardo já era maestro do Roberto há muito tempo, e, no fundo, queria ter uma música gravada pelo Roberto. Mas nunca teve coragem de mostrar nada pra ele. Um certo respeito pelo patrão... Aí, ele me procurou. Naquela época, era interessante: quando você mostrava a música para um artista, era na fita cassete. E o Roberto, dizem, ouvia tudo o que recebia. Fizemos a música, gravamos, apresentamos para o Roberto. Ele gravou e foi a primeira de uma sucessão de músicas. Aquilo era uma tentativa, mas poderia não ter dado certo.



CONTOS E LETRAS: UMA PASSAGEM  PELO TEMPO
. De Paulo Sergio Valle
. Litteris Editora
. 272 páginas
. R$ 45


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