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Somos todos estrangeiros


postado em 02/12/2018 05:03


Sabemos disso e não queremos saber. Procuramos estar sempre entre pessoas que nos conhecem, entrosados, enturmados. Há instantes, entretanto, em que nos sentimos fora. Fora de tudo o que parecemos ser para o outro e que pensamos sobre o que somos. Vivemos em um mundo paralelo, uma outra cena existe fora da consciência.

Isto nos faz estrangeiros e não somente isto. Somos estrangeiros entre compatriotas, entre familiares e amigos. Somos estrangeiros do próprio corpo e da alma. Apesar do que conhecemos sobre nós e nos surpreende quando surge, alcançando brecha na consciência, aparece ideia correspondente ao afeto perdido. Ou surge o afeto separado da ideia.

Ideia sem afeto. Quando não percebemos que somos muitas vezes autômatos e repetimos ideias e comportamentos destrutivos sem nos dar conta de que provocamos nossos próprios colapsos, nossas crises.

Agimos simplesmente como sempre, como traço do outro, como espelho, reflexo sem profundidade. Mas não nos apropriamos dos sentimentos originais que se ligam a estas ideias. Racionalizamos como o personagem de Kafka e até nos tornamos – desumanizados – baratas cascudas gigantes.

Afeto sem ideia. Quando corremos de pavor fóbico de uma lagartixa ou de uma barata como se fosse um monstro antediluviano. Quando fugimos de encontros porque temos medo do novo, do diferente e barramos sua passagem.

Ideia e afeto. Quando se encontram, recuperamos lógicas antigas perdidas que no decorrer da vida se afastaram do afeto, tornaram-se recalque, e se reencontram fazendo sentido. Coisas guardadas com gosto de novidade. Libertação da alma e do afeto em seu casamento com a ideia da coisa que antes parecia nos ameaçar e, por isso, foi jogada no porão escuro da mente.

Devemos saber que somos competitivos e, desde cedo, por questão de defesa de território, acreditamos que somos bons, e o outro, que chega para dividir nosso espaço e as pessoas que amamos, é mau.

Somos seres de enfrentamento e precisamos ser educados para aprender a ética da convivência, a solidariedade com o outro. Caso contrário, usaríamos nossa agressividade natural massacrando toda ameaça, expulsando toda possível concorrência. Santo Agostinho relata seu sentimento de inveja quando assistiu sua mãe amamentando seu irmão caçula. Primeiro pecado. Agressividade contra o estranho.

E não sabemos – alguns nunca saberão, outros só mais tarde – que somos estranhos de nós mesmos também porque somos dotados de processos desconhecidos da consciência, como estes que relato acima. Tudo isto aponta para o estrangeiro em nós.

Por isso, quando leio as notícias sobre os imigrantes proibidos de transitar pelo mundo e restringidos de entrar em outros países para sobreviver, sempre penso nisto tudo que somos. Na nossa própria situação sempre diante do estranho, porém, querendo expulsá-lo, negá-lo, fugir, fechar as portas.

Somos todos imigrantes da condição de viventes. Chegamos estrangeiros num território árido que é a vida e temos de sobreviver apesar de tudo que ocorre no caminho, contando para isso com outras mãos com boa vontade para nos acolher. Sem saber que estrangeiros somos todos, sem exceção.


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