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PEQUENOS LEITORES, GRANDES NEGÓCIOS

Multiplicam-se no Brasil plataformas digitais de livros infantis e apoio pedagógico no desenvolvimento do hábito de leitura. Modelo de assinatura mensal com acesso a todo o acervo é semelhante ao da Netflix


postado em 14/11/2018 05:14

(foto: Lelis)
(foto: Lelis)

Se um país se faz com homens e livros, como afirmava Monteiro Lobato (1882-1948), nada mais apropriado do que estimular a leitura desde a primeira infância. Para uma geração que já nasceu conectada, o que não faltam são alternativas tecnológicas para aproximá-la das palavras. Comuns em outros mercados, plataformas digitais de leitura aos poucos vêm conquistando também leitores no Brasil.

Na semana que vem, será lançado o Bamboleio (www.bamboleio.com.br), aplicativo para celular e tablet com um catálogo expressivo de livros infantis, criado inicialmente como blog pela escritora carioca Padmini. Desde que se formou em letras, a ideia de Padmini era se dedicar à literatura infantil. “Não queria ser uma professora tradicional. O mercado editorial não estava numa fase muito favorável e acabei fazendo o blog para compartilhar conteúdos”, conta. Quando conheceu Victor Mello, que é fotógrafo e também formado em literatura, decidiu viabilizar algo mais rentável. Após muitas pesquisas, os agora sócios chegaram ao formato final do app. “Constatamos que a maioria das famílias adora contar histórias para os filhos, mas, infelizmente, não tem um acervo grande em casa de livros infantis. Isso ocorre mesmo entre as de classe mais alta. Ou os pais leem os mesmos livros, mas de maneiras diferentes, ou narram histórias que marcaram suas infâncias”, diz a escritora.

Padmini afirma que eles também se sentiram estimulados a criar a ferramenta por achar que poderiam oferecer um preço competitivo em relação aos valores médios dos livros infantis. “Na nossa plataforma, a assinatura é mensal, custa R$ 19,90 e o acervo é de cerca de 100 livros. O cliente pode ler quantos quiser e a variedade é enorme. Sem contar que há uma curadoria por trás. A qualidade é primordial, ainda mais em se tratando de formação de leitores”, diz.

A intenção do Bamboleio é oferecer também aos pais publicações que os atraiam. “O foco é a família. Temos obras que tratam de temas delicados, como separação, morte, doença, e que podem auxiliar qualquer pai e mãe a dialogar com os pequenos sobre esses assuntos. A gente acredita muito na mediação da leitura. Um leitor se forma ainda criança, quando o adulto o coloca no colo e conta histórias para ele.”

Para Padmini, as plataformas digitais não irão se sobrepor, mas ajudar a ventilar a produção de livros no país. “O tradicional não irá se perder. A gente só vem somar”, diz. É o que defende também Mônica de Carvalho, diretora-executiva da Elefante Letrado (www.elefanteletrado.com.br), plataforma voltada ao desenvolvimento do hábito da leitura em crianças. Com sede em Porto Alegre (RS), a Elefante Letrado oferece 950 obras de literatura infantil, em português e inglês.

Mônica conta que, quando o app surgiu, em 2013, havia receio de os professores não dominarem a tecnologia, mas logo eles perceberam que, além de facilitar o trabalho, a ferramenta potencializa o aprendizado das crianças. “Plataformas como a nossa não vieram substituir, mas contemplar um conjunto maior de experiências na leitura. Essa geração é toda tecnológica; é um gatilho que não se pode desprezar. É mais fácil para essas crianças ter prazer e tomar gosto pela leitura na plataforma digital, mas acaba sendo uma ponte para o livro físico. Não tenho dúvida.”

ESPECIALIZAÇÃO Inicialmente a Elefante Letrado era voltada para pais e filhos. Mas a sócia-fundadora Scheila Vontobel percebeu que, ao longo do processo, o projeto ganhou um grau de especialização pedagógica que o leigo não compreenderia. “Ele é muito mais do que um aplicativo para leitura. Além de fornecer acesso a centenas de livros digitais aos alunos, avalia a compreensão de leitura com atividades pedagógicas e acompanha o progresso e desempenho tanto dos estudantes quanto dos professores, a partir de relatórios sobre o processo de proficiência leitora. Por isso, decidimos focar a plataforma nas escolas. Mas os alunos podem acessá-la quando estiverem em casa ou em qualquer lugar”, diz Mônica.

Hoje a ferramenta é utilizada por 120 instituições de ensino, públicas e particulares. A média de livros lidos por crianças entre 6 e 12 anos no Brasil (faixa etária atingida pela Elefante Letrado) é de 3,4 por ano. “No ano passado, nossa média foi de 34 livros lidos, ou seja, 10 vezes mais. Sendo que há escolas em que isso chega a 80 livros lidos por ano. A oportunidade de formação de leitor surge nessa fase da vida. A adesão tem que ser agora. Se isso não ocorrer, as consequências podem ser graves não só para o desenvolvimento do próprio indivíduo, mas também para o país”, avalia.

Na maioria dos casos, são as escolas que bancam a assinatura do aplicativo para seus alunos – os valores giram entre R$ 75 e R$ 80 – mas há instituições que repassam esse valor junto com a lista de material escolar. “Cabe aos pais acatar ou não. Mas, na grande maioria das vezes, eles topam, pois sabem dos benefícios. Além da leitura, as crianças têm uma série de atividades”, diz Mônica.

Mais do que um objetivo, uma missão. É assim que a equipe por trás da Árvore de Livros enxerga seu trabalho. Considerada a maior plataforma de leitura digital para escolas do país, a ferramenta se define não somente como “uma biblioteca digital”, mas sobretudo como um serviço de apoio pedagógico. “A ideia é transformar alunos em leitores e apoiar escolas e professores no processo de formação de leitores. Nossos índices de leitura são muito baixos, e o desempenho da educação básica no Brasil está bem abaixo do padrão internacional. A gente transforma um país a partir da leitura e da alfabetização”, afirma João Leal, CEO da Árvore.

Com 30 mil títulos no acervo (entre livros, jornais e revistas que são atualizados diariamente) e presença em 300 escolas e bibliotecas (privadas e públicas) espalhadas por todo o país, a Árvore de Livros (www2.arvoredelivros.com.br) também oferece apoio pedagógico aos educadores, relatórios que possibilitam acompanhar de perto a leitura efetiva de cada aluno e projetos que estimulam o hábito de ler em crianças e jovens. A plataforma até criou um ranking de leitura para estimular os alunos cadastrados. Os leitores mais “vorazes” ganham prêmios, como medalhas, troféus e certificados.

DISPUTA SAUDÁVEL
O pequeno João Geraldo Dias Neto, de 8 anos, aluno do Colégio Paula Frassinetti, em São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas, é um deles. Só em 2018, ele devorou 200 títulos. A mãe, Lilian Dias, de 40, conta que os coleguinhas até brincam com esse apetite de João. “‘Nossa, mas você ganhou de novo’. Mas acaba virando uma disputa saudável e estimula os outros a ler também”, diz ela. O gosto de João pela leitura foi incentivado pelos pais desde cedo. “Ele sempre gostou muito de quadrinhos, mas já leu todos os livros do Ziraldo, do Monteiro Lobato e livros de aventura. Com o aplicativo que a escola banca, ele passou a ler muito mais. E como também pode ler em casa, facilita. É só logar no celular ou no tablet”, explica Lilian.

Apesar de ler mais e-books, isso não significa que o garoto desdenhe do livro físico. “Ele gosta de ler de qualquer jeito. João tem ficado mais tempo on-line por conta da profusão de obras que a ferramenta oferece, mas, se é livro, seja de que formato for, ele está lendo. Ler é fundamental para a formação de qualquer pessoa e quanto mais cedo ela adquire esse hábito, melhor. Meu filho tem um enorme prazer nisso”, salienta Lilian.

O CEO da Árvore reforça essa ideia de que mesmo a garotada de hoje sendo muito mais ligada à tenologia, ao entrar em contato com o livro digital acaba tomando gosto pelo formato tradicional também. “E fora os livros, a gente oferece assistência pedagógica, eventos de literatura, há um suporte grande. Apesar de o aplicativo não ser voltado para pais, eles podem desenvolver algumas atividades com os filhos em casa”, aponta.

Uma das instituições que aderiram ao Árvore de Livros é o Colégio Franciscano Regina Pacis, de Sete Lagoas. A professora de língua portuguesa e literatura Élida Lacerda Gontijo Vasconcelos Souza afirma que a experiência tem sido tão rica que, atualmente, 157 alunos utilizam o aplicativo. “Os estudantes têm um acervo de mais de mil livros apropriados para a idade e o interesse deles, e ainda usam uma tecnologia que eles amam. Sem contar que nós, professores, recebemos mensalmente relatórios da leitura de todos os alunos. Há também o fator da economia, já que aqui na escola os pais não pagam por este recurso, então todos os alunos do quinto e do sexto anos participam.”

Élida acredita que a plataforma possa ser um caminho não só para estimular, como também para despertar o gosto de muitos pela leitura. “E eles participam de uma liga de medalhas pelo tempo de leitura na plataforma. Como esta geração é muito competitiva, torna-se mais uma forma de despertar a leitura.”

“Constatamos que a maioria das famílias adora contar histórias para os filhos, mas, infelizmente, não tem um acervo grande em casa de livros infantis. Ou os pais leem os mesmos livros, mas de maneiras diferentes, ou narram histórias que marcaram suas infâncias”

Padmini,
escritora e fundadora do site Bamboleio

“Plataformas como a nossa não vieram substituir, mas contemplar um conjunto maior de experiências na leitura. Essa geração é toda tecnológica. É mais fácil para essas crianças ter prazer e tomar gosto pela leitura na plataforma digital, mas acaba sendo uma ponte para o livro físico”

Mônica de Carvalho,
diretora-executiva da Elefante Letrado


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