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Socialmente sofríveis


postado em 11/11/2018 05:05

Embora não seja psicanalista e sim um filósofo, Vladimir Safatle escreveu o livro Introdução a Jacques Lacan pela Editora Autêntica. Uma boa forma de apresentar ao leigo um pouco da psicanálise em boa linguagem, daquelas que ficam mais fácil compreender. E um dos pontos altos a meu ver e bem apropriados para nossa época é a forma como ele apresenta nossa socialização.

Na psicanálise, costumamos dar um importante lugar à alienação, que nos constitui como um Eu a partir de identificações com aqueles que nos cercaram desde o início de nossa existência. Nascidos prematuros e totalmente dependentes das mãos de outros e de sua boa vontade e cuidados para que pudéssemos sobreviver, deveríamos esperar mais amor e menos ódio. No entanto, as coisas não se passam assim.

Para que pudéssemos ter a mínima chance de continuar vivendo, ressalto este acontecimento inicial de nossas vidas para dar noção da importância do outro e de nossa primeira relação. Ela será o primeiro modelo, aprenderemos a ser humanos a partir dessa relação com um outro, que adotaremos como ideal. Ele nos servirá de base e orientação para nosso modo de desejar, pensar, agir.

Nosso desejo é ser desejado pelo outro. Nossa demanda de amor dirigida a ele fará com que tentemos nos aproximar o máximo do que pensamos que irá agradar-lhe, instaurando nele a boa vontade de nos amar de volta, de nos reconhecer em bom lugar, e como pessoa que vale a pena.

A alienação de que sempre falamos reside neste modo de chegar ao mundo e tomar o outro como modelo para forjar aquilo que seremos – nosso Eu conforme o outro. Nossa essência vem de fora, vem do molde do outro. E, por isso, estamos sempre alienados. E toda socialização é também alienação naquilo que aprendemos e nos foi apontado no processo educativo.

A agressividade é fundadora de nossa relação com o outro desde que, pela primeira vez, percebemos que além de nós existe outro. Não somos o centro do mundo e outros interesses desviam de nós o olhar desse outro. Por roubar de nós a exclusividade, seja o que for, já é odiado.

Sua existência nos chama a uma rivalidade. E o processo de socialização com as necessárias repressões de nossa liberdade de satisfação irrestrita e a culpabilização através de toda exigência moral que tolhe nossas manifestações sexuais desviam nossa libido do alvo natural, corrigem nossos sentimentos naturais e antissociais. Tudo isso só reforça a agressividade inaugural de nossas relações sociais.

Engana-se quem pensa que a criança é um anjinho inocente ou que o homem é um ser de bondade. Desde cedo, somos seres de rivalidade e tomamos o outro como ameaça que poderá nos tomar aquilo que amamos. O ciúme e a inveja, primos de primeiro grau, são sentimentos que todos experimentamos desde cedo.

Santo Agostinho reconhece, em seus escritos, o ciúme experimentado ao olhar sua mãe amamentando seu novo irmão, o que ele considerou um pecado, segundo a moral cristã. E não é à toa que esta penetrou tanto na sociedade e que também as leis são importantes para mediar nossas relações com o outro, evitando que o mais forte sempre prevaleça sobre o mais fraco sem nenhum constrangimento. Ainda assim é dura nossa cerviz e nem sempre obedece aos ideais morais e legais, como temos visto recentemente não só no processo eleitoral, mas em tantos crimes que nossa história não pode evitar.

Se nós não ficarmos muito atentos a nós mesmos, ao que falamos, pensamos e fazemos, certamente erraremos muito. Porque não somos confiáveis, nem por nós próprios, uma vez que nosso desejo é inconsciente, desconhecido.

Falaremos mal das pessoas, julgaremos, desejaremos o que o outro tem, odiaremos. Tudo isso sem perceber quanto estamos incluídos no ódio ao outro, nosso espelho, nosso molde. Só uma forte implicação ética poderá nortear nosso comportamento permitindo que tenhamos relações humanas e sociais mais dignas e de maior interesse no coletivo.


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