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O mestre injustiçado

Mostra reúne 80 trabalhos de Celso Renato, referência do abstracionismo geométrico no país. Comparado a Amílcar de Castro, o pintor mineiro morreu sem o reconhecimento merecido


postado em 30/10/2018 09:13

Pinturas sobre madeira se destacam no legado de Celso Renato (foto: Pedro David/divulgação)
Pinturas sobre madeira se destacam no legado de Celso Renato (foto: Pedro David/divulgação)


O centenário de nascimento do pintor Celso Renato (1919-1992) ganha celebração antecipada com a maior exposição já dedicada ao artista, expoente do abstracionismo geométrico e do construtivismo em Minas Gerais. A mostra será aberta para o público na quarta-feira (31). Até janeiro, 80 trabalhos do mineiro ocuparão a Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, no Palácio das Artes, oferecendo amplo painel de seu legado.

Coube à artista plástica, professora e curadora Claudia Renault selecionar os mais significativos trabalhos de Celso Renato, entre desenhos sobre papel, óleos sobre tela e óleos sobre eucatex (chapa de aglomerado de polpa de eucalipto), além da técnica que lhe rendeu mais prestígio: acrílica sobre madeira. Os trabalhos foram garimpados em importantes museus brasileiros e junto a colecionadores.

A mostra é dividida em três módulos. A primeira traz desenhos feitos ainda na infância, com nanquim em pena de pato. A segunda reúne as pinturas abstratas que marcaram o ingresso de Celso na vida artística, na década de 1960.

“Quando ele começa a pintar, surge de forma revolucionária na cena mineira. Celso apresentava um abstracionismo marcado pela liberdade, algo que se via nos Estados Unidos, por exemplo, mas não por aqui”, explica Claudia Renault.

O terceiro módulo reúne obras que consagraram Celso, as pinturas-assemblages sobre madeira. Aos poucos, grafismos gestuais e livres dão lugar a formas geométricas quando ele passa a explorar materiais inusitados – tapumes, tábuas e demais aparatos da construção civil.

“Ele encontra a madeira – ou a madeira o encontra, como dizia – e começa a pintar com um suporte absolutamente novo. A madeira fala. É importante notar cada detalhe, da rusticidade aos demais elementos somados a ela. São trabalhos geométricos e abstratos totalmente diferentes e inovadores”, destaca a curadora.



PASSOS

Claudia Renault chama a atenção para desenhos e pinturas que precederam a fase áurea do pintor. “É muito importante ver o caminhar do artista. A arte, como a vida, consiste em dar um passo depois do outro. Conseguimos ver a passagem, quando trabalhos do Celso saem do gestual e começam a ficar mais geométricos”, explica.

Por conta dessa última fase de sua carreira – nas décadas de 1970 e 1980 –, Celso Renato é considerado, ao lado de Amílcar de Castro, um dos maiores nomes do construtivismo em Minas Gerais. O movimento, que nasceu na Rússia no início do século 20, revelou o impacto da Revolução Industrial nos diversos segmentos da arte, que passou a contemplar novas estéticas associadas ao avanço da tecnologia, em detrimento de aspectos tradicionais.

Claudia Renault lembra que Celso se inseriu nesse movimento estético com inventividade, apresentando uma obra singular e reverenciada por vários colegas. “A presença dele no construtivismo mineiro é bem marcada por conta da produção diferente dos outros artistas, em especial pelo uso da madeira. Com o dadaísmo, na Europa já se começava a usar matéria bruta na arte. Mas nem sequer podemos afirmar que houve influência disso na produção do Celso Renato, pois ele não tinha tanto acesso à arte europeia. Era uma realidade muito distante, com a qual ele só tinha contato eventualmente, por meio de revistas importadas”, explica a curadora.



O artista dos artistas

“Celso Renato nasceu respirando arte”, resume Claudia Renault. A convivência com o ofício e as telas do pai, o pintor clássico Renato de Lima, aguçou a criatividade do mineiro. “Mesmo vivendo no meio da arte, é surpreendente que ele tenha se revelado, logo de cara, com um trabalho abstrato tão genial. Ele não passou por qualquer aprendizado básico, nunca teve aula de pintura, a não ser acompanhando técnicas elementares usadas pelo pai”, observa a curadora.

O mineiro jamais foi reconhecido como merece, adverte Claudia Renault. Mesmo depois de alcançar certa estabilidade como pintor, ele conciliava a rotina no ateliê com o trabalho como advogado para sustentar a família. A exposição que será aberta hoje tenta recompensar os anos de negligência em relação a um autor fundamental para o Brasil.

Celso não chegou a ver sua arte devidamente valorizada, destaca a curadora. A justiça só começou a se dar quase três décadas depois da morte dele. “Celso Renato é o artista dos artistas. Muitos pintores reconhecem o seu trabalho e o têm na mais alta conta, mas o mercado nunca absorveu isso. Ele não viveu a glória como o Amílcar (de Castro) pôde viver. Celso sabia que era um bom artista e tinha grande valor, mas não viu seu legado ser tão valorizado, como começa a ocorrer agora”, conclui.

100 ANOS DE CELSO RENATO
Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard. Palácio das Artes. Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. (31) 3236-7400. Em cartaz de quarta-feira (31) a 27 de janeiro. O espaço funciona de terça-feira a sábado, das 9h às 21h, e domingo, das 16h às 21h. Entrada franca.


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