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Estado de Minas CORONAVÍRUS

COVID-19: confirmação de reinfecção pode impactar vacinas; entenda

Cientistas chineses identificam, pela primeira vez, provas genéticas de que um homem foi infectado por cepas diferentes do Sars-CoV-2 em um intervalo de 40 dias


25/08/2020 11:00 - atualizado 25/08/2020 11:29

(foto: Noel Celis/AFP - 4/2/20)
(foto: Noel Celis/AFP - 4/2/20)
Cientistas chineses anunciaram o primeiro caso comprovado de reinfecção pelo novo coronavírus. Após episódios suspeitos de um segundo contágio pelo Sars-CoV-2, foram detectadas, pela primeira vez, provas genéticas de que um paciente já curado tinha, no organismo, outra cepa do causador da COVID-19.O caso ocorreu em Hong Kong, quatro meses após o homem ter se livrado da doença.

Nesta terça-feira, a rede de TV holandesa NOS informou que dois pacientes, um na Bélgica e outro na Holanda, também foram reinfectados pelo novo coronavírus.

Especialistas e os responsáveis pela descoberta avaliam que ainda é cedo para tirar conclusões sobre o tema, mas ressaltam que as informações são importantes porque têm potencial de influenciar o desenvolvimento e a administração de vacinas. Há, por exemplo, a possibilidade de aplicação de mais doses em uma mesma pessoa e a de as fórmulas serem alteradas constantemente para não perderem a eficácia.

NO caso de Hong Kong, o paciente, um homem de 33 anos, apresentou teste positivo, pela primeira vez, em 26 de março, após ter sentido uma série de sintomas, como febre, tosse, dor de cabeça e de garganta. Depois de curado, ele testou negativo para a infecção duas vezes.

Mas em 15 de agosto, recebeu um novo diagnóstico. “Esse caso mostra que uma reinfecção pode ocorrer apenas alguns meses após a cura de uma primeira infecção”, informa comunicado emitido por especialistas do Departamento de Microbiologia da Universidade de Hong Kong (HKU). Segundo o grupo responsável pela descoberta, o estudo foi aceito, ontem, pela revista médica americana Clinical Infectious Diseases e aguarda publicação.

A reinfecção pelo novo coronavírus era uma suspeita entre cientistas, que esperavam um comportamento semelhante ao de outros patógenos da mesma família. “Nossos resultados sugerem que o Sars-CoV-2 pode persistir na população, como é o caso de outros coronavírus responsáveis por resfriados comuns, mesmo que os pacientes tenham adquirido imunidade”, enfatiza a equipe da HKU, que sinaliza possíveis efeitos do fenômeno constatado.

O fenômeno, porém, acende o alerta quanto a novos desafios no enfrentamento da pandemia. “É improvável que a imunidade coletiva consiga eliminar o Sars-CoV-2, embora as seguintes infecções possam ser menos graves que a primeira, como foi o caso desse paciente”, alerta a equipe.

Fernando Bellissimo — professor da Universidade de São Paulo (USP) que, no início deste mês, anunciou um possível caso de reinfecção no Brasil — enfatiza que há possibilidade de impacto no desenvolvimento das vacinas. “O nosso temor é que a imunidade induzida pela infecção seja temporária, e isso vai fazer com que o efeito dos imunizantes dure um tempo menor do que se imaginava. Com base nisso, será necessário nos adaptar, aumentar o número de doses, para que seja anuais, ou semestrais, por exemplo”, explica.


Evidências distintas


A primeira suspeita de reinfecção surgiu na cidade de Boston, nos Estados Unidos, e foi descrita na revista American Journal of Emergency Medicine, em junho. Depois, veio o caso brasileiro. A equipe da USP relatou indícios de uma segunda infecção em uma técnica de enfermagem de 24 anos. A mulher sentiu sintomas no primeiro contágio, mas conseguiu se curar sem ter complicações. A segunda infecção foi registrada 50 dias depois, com ainda mais sintomas. Nos dois casos, o diagnóstico positivo foi obtido por meio do exame PCR, considerado padrão ouro para a detecção do vírus.

Fernando Bellissimo explica que o estudo chinês e o brasileiro mostram evidências diferentes de como é possível existir uma reinfecção do vírus. “No nosso caso, não tivemos a oportunidade de fazer o mapeamento genético no primeiro teste positivo porque a amostra foi descartada. Isso nos impediu de comparar as cepas”, explica. “A nossa pesquisa tem mais evidências epidemiológicas e laboratoriais. Conseguimos observar os sintomas nas duas infecções da paciente, por exemplo. Mas a ciência moderna valoriza mais esses dados moleculares.”

A USP segue com estudos sobre reinfecção. “Temos, no momento, oito casos suspeitos e estamos trabalhando para entendê-los e esclarecer se as suspeitas se confirmam”, conta o pesquisador. Outra diferença com o estudo brasileiro é que, no caso chinês, o paciente não apresentou sintomas na segunda infecção: a doença só foi descoberta por meio de um teste de rastreamento feito no aeroporto de Hong Kong, quando ele voltava da Espanha, com parada no Reino Unido.

“As análises comprovam que o primeiro patógeno era de origem asiática, e o segundo, de origem europeia, o que entra em concordância com a viagem que o paciente fez”, avalia Werciley Júnior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia, em Brasília. O médico também chama a atenção para o uso de análise genética pelos cientistas chineses.

“É a tecnologia que permite comprovar, sem dúvidas, que o paciente contraiu duas cepas diferentes. As pesquisas anteriores mostraram apenas casos suspeitos, já que esses dados não foram disponibilizados. Isso é até normal, pois não fazemos esse tipo de análise mais detalhada no cotidiano”, afirma.

OMS prevê dose a US$ 10(foto: Nicolas Asfouri/AFP - 29/4/20)
OMS prevê dose a US$ 10 (foto: Nicolas Asfouri/AFP - 29/4/20)


Mais estudos

Após a divulgação do estudo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que é “possível” que o caso em Hong Kong seja o primeiro confirmado de reinfecção. “Acho que é importante colocar isso em contexto. Havia mais de 24 milhões de relatos até agora, e precisamos olhar para isso em nível de população. É importante documentar esses dados, e, em países que podem fazer isso, que o sequenciamento seja feito. Isso ajudaria muito. Mas não podemos pular para nenhuma conclusão, mesmo que esse seja o primeiro caso documentado de reinfecção”, ponderou Maria van Kerkhove, chefe técnica da agência.

Jeffrey Barrett, pesquisador do Instituto Wellcome Sanger, no Reino Unido, também acredita que mais pesquisas são necessárias. “É difícil tirar conclusões firmes de um único caso. Considerando o número de infecções em todo o mundo, ver um caso de reinfecção não é tão surpreendente”, comentou à agência France-Presse (AFP) de notícias.

Para o especialista, os dados vistos reforçam uma medida que vem sendo pensada por cientistas: a necessidade de todas as pessoas, mesmo as que já tiveram a doença, se vacinarem para a covid-19 quanto essa opção estiver disponível. “Como a imunidade pode não durar muito após uma infecção, a vacinação deve ser considerada até mesmo para pessoas que já foram infectadas”, frisa.


Palavra de especialista


Proteção mais curta

"O que acontece é que, se você tem um vírus que não consegue estabelecer imunidade, a vacina para ele vai durar pouco tempo. Ela vai resolver o problema apenas daquela cepa que está circulando. Então, você precisa ter um imunizante para nova mutação do patógeno. No caso da gripe, isso ocorre anualmente. Nesse estudo, vemos que o tempo seria mais curto: a segunda infecção ocorreu em um intervalo de quatro meses. Porém, ainda é muito cedo para estabelecer isso. Foi um caso apenas, e o sistema imune de cada pessoa pode reagir de forma distinta, isso conta. Outro ponto importante de destacar é que esse paciente viajou, foi preciso ele ter de sair de onde ele mora para ter contato com uma cepa que foi poderosa o suficiente para que ele se infectasse. E isso é algo difícil. Um segundo fator importante é que ele foi infectado por uma cepa diferente, seria muito mais preocupante se fosse o mesmo tipo genético do vírus, pois, aí, teríamos a certeza de que os anticorpos teriam um limite de validade"

Ekaterini Simões Goudouris, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai)




Vacinas 

 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que trabalha em uma negociação para garantir que a vacina para a covid-19 tenha um preço médio de US$ 10 a dose. A medida ajudaria a universalizar o acesso ao imunizante, já que o valor é significativamente menor do que o anunciado por alguns laboratórios que se dedicam à busca por uma imunização. Além disso, a agência planeja oferecer a fórmula gratuitamente aos países mais pobres, cerca de 90.

“Inicialmente, onde haverá fornecimento limitado, é importante dar a vacina àqueles em maior risco ao redor do globo”, justificou, em comunicado, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Gebreyesus. Há nove vacinas confirmadas para distribuição dentro do projeto e em estágio avançado de desenvolvimento. A intenção do consórcio, chamado Covax, é distribuir 2 bilhões de doses de vacinas até o fim de 2021, iniciando pelos grupos de risco, como idosos e profissionais da área de saúde.

Para colocar todo o plano em prática, serão necessários US$ 31 bilhões, e o grupo tem apenas 10% desse valor. “Precisamos de mais dinheiro. Os países precisam fazer compromissos vinculantes”, frisou Gebreyesus. Segundo ele, 172 países declararam ter interesse em participar do consórcio voltado para a distribuição dos imunizantes. “Esse mecanismo é que vai permitir uma vacinação global. É de interesse de todos, inclusive daqueles que fecharam acordos bilaterais”, ressaltou o diretor-geral.

O Brasil é um dos interessados, mas está na etapa de negociações dos termos, que precisa ser finalizada até o próximo dia 31. Caso o governo brasileiro confirme a participação no Covax, o prazo para indicar qual o valor dos investimentos financeiros que vai destinar à iniciativa termina em 18 de setembro. O país, considerado de renda média, não faz parte da lista daqueles que podem receber as vacinas gratuitamente.


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