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Estado de Minas

Sépsis e a burocracia letal

Um quadro séptico pode ser causado por vários tipos de agentes, tais como bactérias, fungos, vírus ou parasitas, geralmente a partir de um foco inicial onde esses micro-organismos estão alojados


postado em 09/11/2019 04:00

Carlos Starling
 
(foto: Health prep/reprodução)
(foto: Health prep/reprodução)

Sépsis ou septicemia é um termo que utilizamos no meio médico para caracterizar uma infecção grave e disseminada, que pode comprometer a função de vários órgãos e levar à morte em pouco tempo.

Um quadro séptico pode ser causado por vários tipos de agentes, tais como bactérias, fungos, vírus ou parasitas, geralmente a partir de um foco inicial onde esses micro-organismos estão alojados. Por exemplo, uma infecção urinária pode, eventualmente, transformar-se em infecção generalizada num curto espaço de tempo, assim como uma infecção na pele, nos pulmões etc.

O que ocorre geralmente é a passagem de micro-organismos de um determinado local para a corrente sanguínea, acarretando uma série de respostas do nosso sistema imunológico, que tem por objetivo eliminar o agente invasor. Porém, o “fogo amigo” dessa resposta lesa também estruturas nobres e acaba por comprometer ainda mais a função de estruturas fundamentais para o funcionamento do nosso corpo.

Os principais sinais e sintomas de que uma infecção está se transformando numa infecção generalizada podem ser identificados a partir de três variáveis que um leigo pode facilmente detectar:

– O aumento da frequência dos movimentos respiratórios acima de 22 respirações por minuto;

– Alteração no estado de consciência (sonolência, confusão mental);

– E queda da pressão arterial, com o valor máximo da pressão abaixo de 100 milímetros de mercúrio.

Esses são marcadores importantes de que algo potencialmente muito grave pode estar ocorrendo. A presença de duas dessas três variáveis num paciente com infecção em tratamento ou não exige no mínimo um contato imediato com um profissional de saúde, ou o encaminhamento do paciente a um serviço de urgência para uma avaliação mais criteriosa.

Nesses casos, tempo é vida. A cada hora que o paciente fica sem receber os cuidados corretos, o risco de morrer pode aumentar em até 10%, conforme demonstram alguns estudos. Pacientes nessas condições devem ser submetidos a exames laboratoriais para verificar a gravidade do processo infeccioso, identificar o micro-organismo causal e receber tratamento antimicrobiano imediato. O ideal é que essas medidas sejam tomadas em até uma hora.

Para isso, os pronto-atendimentos de praticamente todos os hospitais têm criado rotinas para identificar os pacientes mais graves e atendê-los prioritária e rapidamente. Qualquer burocracia que atente contra esse princípio básico assistencial da sépsis estará também atentando contra a vida das pessoas.

DIMENSÃO 

Mas vamos entender a dimensão desse problema no mundo e no Brasil. Uma série de 27 estudos realizados em sete países desenvolvidos estima uma incidência de sépsis de 437 casos para cada 100 mil habitantes/ano, gerando cerca de 5,3 milhões de óbitos a cada ano no mundo.

Para se ter uma ideia da importância do problema, é como se uma cidade do tamanho da Região Metropolitana de Belo Horizonte desaparecesse do planeta a cada ano. Ou, se transformarmos em acidente aéreo, que é algo que geralmente causa grande impacto nas pessoas, é como se ocorressem 26.500 acidentes aéreos por ano, com 200 passageiros em cada avião. Se isso ocorresse, certamente ninguém viajaria de avião.

Os estudos nacionais apontam para mortalidade de 55%, com aproximadamente 230 mil mortes por ano. Usando o exemplo do avião, é como se tivéssemos 1.150 acidentes a cada ano. A notícia aqui é que todos nós estamos nesse avião, queiramos ou não!

Nas próximas semanas daremos sequência a esse assunto, abordando estudos comparativos com outros países, as causas do problema e formas de minimizar esse trágico cenário.

Apertem os cintos e bem-vindos a esse voo...
Tem dúvidas? Fale comigo: cstarling@task.com.br




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