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Estado de Minas SAÚDE

Saiba o que é diverticulite, doença que levou papa Francisco a operar

Especialistas explicam em que casos a cirurgia é necessária e, também, as diferenças entre diverticulose e diverticulite. Entenda


07/07/2021 14:07 - atualizado 07/07/2021 15:58

(foto: Wikimedia Commons)
(foto: Wikimedia Commons)

No último domingo (4/7), o mundo “parou” com a notícia de que o papa Francisco iria passar por uma cirurgia no cólon. Agora, já recuperado, a preocupação passou. Mas, o que levou o pontífice a operar? Trata-se de um quadro de diverticulite que causou o estreitamento do intestino no local do divertículo.

Mas, afinal, o que é a diverticulite e como ela “diminui a passagem do intestino”? E onde os divertículos entram nessa história? 

Segundo o gastroenterologista Francisco Guilherme Cancela e Penna, cooperado da Unimed-BH, é importante, primeiro, entender a diferença, apesar da semelhança de termos, entre os divertículos e a diverticulite. “A diverticulose se refere à presença de divertículos, que são pequenos sacos que se formam no cólon, mas sem sintomas. Quando esses divertículos inflamam, surge a diverticulite, que nada mais é que um processo inflamatório e infeccioso dos divertículos do cólon, quadro que ocorre em 5% a 15% dos pacientes com divertículos.” 

A presença desses divertículos se dá em pontos de fraqueza na parede do intestino, no local onde os vasos sanguíneos penetram na parede, por causas multifatoriais, envolvendo tanto aumentos na pressão dentro do intestino causados por anormalidades na movimentação intestinal quanto anormalidades na parede do intestino, que diminuem a resistência à tração.

“Esse aumento da pressão no divertículo e até mesmo sua obstrução pode causar um processo inflamatório local e pequenas perfurações da parede, o que chamamos de diverticulite.” 

Esses divertículos são cada vez mais comuns após os 60 anos de idade, porém, hábitos de vida podem antecipar a ocorrência, ainda que as causas estejam pouco definidas, conforme o gastroenterologista Luiz Alberti.

“Com pouca fibra na dieta, as fezes ficam muito duras, o que causa a constipação intestinal. Com isso, é necessário um esforço maior para evacuar, o que provoca uma pressão no cólon e nos intestinos, formando esses quistos. O acúmulo de restos de fezes nesses locais é o que provoca a inflamação.” 

“Além de uma dieta pobre em fibras, são considerados fatores de risco para a diverticulite e a formação dessas bolsas chamadas divertículos, nas quais a inflamação e infecção acontece, sedentarismo, obesidade e tabagismo”, comenta. 
 
(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)

A diverticulose se refere a presença de divertículos, que são pequenos sacos que se formam no cólon, mas sem sintomas. Quando esses divertículos inflamam, surge a diverticulite, que nada mais é que um processo inflamatório e infeccioso dos divertículos do cólon, quadro que ocorre em 5% a 15% dos pacientes com divertículos.

Francisco Guilherme Cancela e Penna, gastroenterologista cooperado da Unimed-BH

 

Para que o quadro de diverticulite ocorra, então, é preciso que haja inflamação, normalmente provocada por alimentos que entram nas bolsas diverticulares e não saem de lá sozinhos, haja vista que os divertículos têm apenas uma “porta de entrada”.

“Imagine o seu intestino como um cano, como um tubo reto, onde as paredes são lisas e retas. E o que seria o divertículo? São fragilidades em pontos dessa parede do intestino, e essa fragilidade faz com que surja pequenos saquinhos de fundo cego nessa parede. Dessa forma, ao invés de o intestino ficar com as paredes retas, lisas, ele ficaria cheio de buraquinhos.” 

“E esses buraquinhos são simplesmente pequenos sacos, que têm o fundo cego. Então, dessa forma, quando o alimento entra nesses saquinhos, pelo fato desses saquinhos não terem saída – o mesmo orifício por onde a comida entra, deveria sair –, o alimento entra ali dentro, irrita esses saquinhos que são os divertículos e a irritação do divertículo é chamada de diverticulite”, esclarece Bruno Sander, cirurgião e endoscopista. 

DIAGNÓSTICO PRECOCE: UM ALIADO! 


É sabido que o reconhecimento precoce de doenças é um grande aliado da boa qualidade de vida e, também, das chances de cura. Com os casos de diverticulite ou mesmo a presença de divertículo não é diferente.

Segundo Francisco Cancela e Penna, “o diagnóstico precoce permite o tratamento também precoce, em geral baseado no uso de antibióticos prescritos pelo médico. Com isso, a chance de uma boa evolução é elevada e o risco de complicação reduz drasticamente”. 

Caso o quadro seja diagnosticado tardiamente, os prejuízos podem ser muitos, já com alguma complicação, como o surgimento de inflamação ao redor do intestino, com formação de abscesso e até mesmo com perfuração intestinal, aponta o gastroenterologista cooperado da Unimed-BH.

E, além disso, em alguns casos, pode haver o estreitamento do intestino, como no caso do papa Francisco. E aí somente a cirurgia pode ajudar. “A importância no caso do diagnóstico precoce é exatamente o acompanhamento clínico e a oportunidade para que o médico possa intervir com medicamentos logo que os sintomas se iniciam.” 

“Quando isso não é feito, a diverticulite acontece de repetição e pode acontecer justamente o que vimos no caso do papa. Esses divertículos quando se inflamam e causam a diverticulite, cada processo inflamatório tende a gerar a fibrose, que é um tecido duro que impede naquele ponto que o intestino possa fazer a movimentação correta. Além disso, naquele ponto onde existem fibroses, o intestino vai ficando mais duro e estreito. Dessa forma, pode dificultar a passagem do bolo fecal. É o que chamamos de estenose, é o estreitamento. Nesse caso, no caso do papa, foi uma estenose diverticular do cólon, ou seja, a região acometida foi o cólon, que é o intestino grosso, causada por diverticulites recorrentes em que houve uma estenose.” 
 

A cirurgia é feita como se fosse um cano que está entupido. A gente corta o intestino na parte anterior aos divertículos e na parte após os divertículos ou estenose. A parte comprometida é tirada e é feita uma emenda, chamada de anastomose, na parte antes e depois do problema. Ou seja, tira a parte que sofre e junta as demais.

Bruno Sander, cirurgião e endoscopista.

 

É o que explica o cirurgião Bruno Sander. Mas, e como esse diagnóstico pode ser feito? É possível, também, fazer um rastreamento e prevenir a inflamação e o consequente quadro de diverticulite? O exame realizado para o diagnóstico em casos em que já a inflamação dos divertículos é o de sangue e de tomografia de abdômen, que, além de definir o diagnóstico, pode mostrar sinais de complicações associadas. E, sim, é possível rastrear a doença, nesse caso, por meio da colonoscopia, que deve ser evitada em quadros de crise. 

“Diante do quadro, o instrumento utilizado na colonoscopia aumenta a probabilidade de perfurar o órgão. Ele só pode ser realizado cerca de seis semanas após o episódio agudo”, afirma Luiz Alberti. Nesse cenário, recomenda-se que a colonoscopia seja usada para rastreamento, o qual deve ser realizado a partir dos 50 anos.

Por isso, Bruno Sander alerta: “É muito importante que pacientes acima de 50 anos procurem um gastroenterologista para fazer exames preventivos, no caso a colonoscopia, que podem diagnosticar a doença desde o início para facilitar o tratamento, até mesmo para curativo”. 

DE OLHO NOS SINTOMAS 


Ao contrário da diverticulose – presença de divertículos –, que não tem sintomatologia, a diverticulite, ou seja, quando há inflamação das bolsas diverticulares, pode dar sinais bem característicos, porém, nada específicos. Isso porque, conforme Bruno Sander, os sintomas podem variar muito de paciente para paciente.

“Não tem uma dor específica em algum lugar específico onde o paciente aponta a mão, por exemplo. Mas, quando o paciente tem esse sintoma frequentemente, justifica fazer exames e rastrear para saber a causa.” 

Apesar disso, Francisco Cancela e Penna aponta quais podem, e são os sinais mais recorrentes da doença: “A diverticulite pode se manifestar com dor abdominal, geralmente do lado esquerdo e abaixo no abdômen, embora possa ocorrer em qualquer parte abdominal. Além disso, o paciente pode apresentar variações intestinais, febre, náuseas e vômitos, além de alterações do exame clínico, com queda da pressão arterial, aumento da frequência cardíaca e massa abdominal no exame clínico”. 

Nesse cenário, em caso de algum sintoma, um médico deve ser procurado. “Na suspeita de diverticulite, o paciente deve ser avaliado por um médico. A depender da condição clínica do paciente, dos sintomas e do exame clínico, podem ser solicitados exames de imagem, como ultrassom, tomografia ou ressonância, e exames de sangue. Então, o diagnóstico é feito com base em achados clínicos e confirmado por meio de exames complementares”, relembra o gastroenterologista. 

TRATAMENTO 


Existem diferentes tipos de tratamentos, desde os medicamentosos até os cirúrgicos, o que vai depender e muito do quadro do paciente. Os remédios normalmente aliviam muito os sintomas causados pela diverticulite, porém, em casos mais agudos, com complicações já existentes e recorrência, como no caso do papa, as cirurgias são as mais indicadas. 

“Os casos leves em geral são tratados em casa, com antibiótico oral, repouso e hidratação. Já os pacientes graves necessitam de internação hospitalar, quando recebem medicamentos e hidratação direto na veia. Quando existe o perigo de perfuração intestinal – ou se ela já aconteceu –, é necessário fazer uma cirurgia de urgência para retirar a parte do órgão afetada e drenar os abcessos. É possível que o paciente precise usar uma bolsa de colostomia. Para quem sofre episódios seguidos, mesmo que de menor gravidade, recomenda-se operar após a resolução do evento atual, a fim de evitar novos episódios”, afirma Luiz Alberti. 

E como essa cirurgia é feita? Segundo o cirurgião Bruno Sander, ela é simples, apesar de ser feita sob anestesia geral. “Claro, como qualquer outro procedimento, existem riscos, porém, a cirurgia é feita como se fosse um cano que está entupido. A gente corta o intestino na parte anterior aos divertículos e na parte após os divertículos ou estenose. A parte comprometida é tirada e é feita uma emenda, chamada de anastomose, na parte antes e depois do problema. Ou seja, tira a parte que sofre e junta as demais”, comenta. 

CUIDE-SE!  


Cuidado nunca é demais e a prevenção é uma grande “amiga” da boa saúde e qualidade de vida. Por isso, a fim de evitar complicações, pacientes que têm divertículos devem ter uma dieta mais laxativa para ter um adequado funcionamento intestinal, com evacuação diária e fezes de aspectos normais, evitando a constipação intestinal.

“Uma dieta equilibrada, rica em fibras, verduras e legumes está recomendada. Importante salientar que não há indicação de restringir ingestão de sementes, castanhas e pipoca para pacientes diverticulares cólonicos.” 

“Para pacientes constipados, pode ser necessário o uso de laxantes, a partir de prescrição médica, para ajudar na regulação do funcionamento intestinal. A realização de atividade física regular também é fator protetor que pode reduzir o risco de diverticulite. A obesidade é outro fator de risco e deve ser tratada e evitada. Quem tem diverticulose e já teve diverticulite é recomendada também a dieta laxativa, atividade física e tratamento da obesidade”, comenta Francisco Cancela e Penna. A ingestão de água também ser incluída na rotina de cuidados. 

Já quem tem diverticulite está recomendado o tratamento antibiótico, na maioria dos casos, e, quando indicado por um médico, devido ao surgimento de complicações pode ser necessário cirurgia. Ou seja, nesse caso, a melhor prevenção é mesmo o tratamento. 

*Estagiária sob a supervisão da editora Teresa Caram 


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