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Desintoxicar a mente

Excesso de informação, perfil multitarefa e velocidade da vida moderna ativaram a aceleração do pensamento, provocando ansiedade desmedida, que adoece as pessoas. É preciso pisar no freio


postado em 14/07/2019 04:06


 






Com 3min17, a música Uma coisa de cada vez, que encerra o álbum Tudo ao mesmo tempo agora, de 1991, do Titãs, o último com Arnaldo Antunes, já preconizava o futuro apenas em duas frases: “Uma coisa de cada vez, uma coisa de cada vez... Tudo ao mesmo tempo agora, tudo ao mesmo tempo agora... Em pleno século 21, a era digital ou a chamada quarta revolução industrial mudou o modus operandi do mundo, as pessoas já convivem com robôs domésticos graças à inteligência artificial (AI) e a velocidade para tudo se impõe vestida, muitas vezes, de uma obrigatoriedade sem controle. Urgência que tem adoecido muitos. Ansiedade, inquietação, dificuldade para manter o foco, sensação de cansaço contínuo, dores de cabeça e nas costas, angústia, transtorno para dormir, solidão, sofrimento por relações sociais passageiras... Alguma familiaridade?

Tudo isso são sinais de quem sofre com o pensamento acelerado. Pessoas pilhadas, que não conseguem se desligar, que andam 24 horas conectadas e ainda têm a sensação de que estão perdendo algo. O documentário Heal – O poder da mente, da Netflix, faz um alerta ao mostrar a forte ligação entre a psique e a saúde física por meio das histórias de líderes espirituais, médicos e doentes crônicos de maneira impressionante. Os depoimentos mostram que a cura deve partir de cada um porque, ainda que os humanos guardem tudo, o corpo tem capacidade de recuperar o sistema imunológico. Há muitos alertas para que cada um encontre um caminho de desaceleração sob o risco de sucumbir ao estresse e ao medo de tomar decisões. E tudo passa por um trabalho mental, emocional e espiritual.

Essa mudança de comportamento deu origem à síndrome do pensamento acelerado (SPA), termo criado pelo psiquiatra brasileiro Augusto Cury para o excesso de informação a que estamos expostos, que tem acelerado a velocidade com que construímos nossos pensamentos, provoca, quando não é gerenciada, a transformação da ansiedade positiva em negativa, o que vai asfixiando as pessoas. Na tese de Cury, há um desgaste mental, com consequências para o futuro profissional, emocional e social.

Conforme Augusto Cury, ainda não se tem consciência de que pensar exageradamente e sem nenhum autocontrole é uma fonte de esgotamento mental. E por esse motivo, como ele diz, é preciso adoecer para parar. No entanto, a descoberta do psiquiatra ainda não tem comprovação científica, ainda que muitos especialistas concordem com sua “descoberta”.

Sofia Bauer, médica psiquiatra e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), afirma que as pessoas nunca estiveram tão ansiosas: “A ansiedade faz parte da vida moderna. Sua forma patológica, o transtorno de ansiedade, é a segunda doença mental mais comum do planeta. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 264 milhões sofrem desse mal, 14,9% a mais do que há 10 anos. Estudos recentes, como o que consta no livro Energetic boundries, de Cindy Dale, de 2011, sugeriram que temos de 50 mil a 70 mil pensamentos por dia. Neurocientistas, como Richard Davidson e Jon Kabat-Zinn, já comprovaram isso e também que meditadores assíduos diminuem seus pensamentos para cerca de 40 mil por dia. A meditação é uma das maneiras de lidar com o estresse e a ansiedade, pois abre espaços no pensamento”.

CANSAÇO

Para Sofia Bauer, os sinais dessa aceleração são cada vez mais comuns. Já sentiu brancos na mente, sensação de falta de descanso, irritabilidade e estouros do nada, dores no corpo, mal-estar físico, adoecendo ou gripando mais? Sentiu que não tinha mais como segurar os pensamentos acelerados de sua mente, ou já perdeu as noites de sono preocupado? “Se ainda não sentiu isso, com certeza você já viu alguém assim. Mas é quase certo que também já sentiu em algum momento de sua vida. De repente, do nada, uma preocupação qualquer surge na sua cabeça. Você começa a pensar naquilo, imagina mil possibilidades, tenta prever o que pode ou não acontecer. Então, a mente acelera e começa a dar voltas em torno de si mesma: repete muitas e muitas vezes os mesmos cenários, plausíveis ou absurdos, num ciclo impossível de interromper. Você não se cansa aparentemente e fica ali...Quando você percebe, ficou a noite inteira em claro.”

Para Sofia Bauer, não importa se a pessoa nasceu ansiosa ou vem ficando ao longo da vida. “Não importa qual modelo, mas a sociedade e a vida corrida de hoje nos obrigam a fazer mais coisas ao mesmo tempo. Em um mundo moderno com amplificadores de sinais de wi-fi presos até em torres de igreja, nenhum lugar é sagrado mais. Da sala de reunião até o seu banheiro, a tecnologia inundou nossas vidas com mais conteúdo do que jamais conseguiríamos processar. Isso acabou com o nosso tempo de atenção. Estudos atuais sugerem que nossa concentração sofre simplesmente por estarmos na mesma sala que os nossos samartphones, mesmo se eles tiverem no modo silencioso ou desligados.”

A médica psiquiatra avisa que, muitas vezes, o cérebro implora por descanso, mas não é atendido. Então, ele age e para a pessoa. “O pior de ficarmos assim tão atentos é que desgastamos o cérebro e podemos adoecer de forma mais grave, O estresse e o esgotamento são sinais da mente acelerada, de sua ansiedade. Ela agita mais o lado direito do cérebro, responsável pela emoção, e a pessoa entra em hot-state. Age por pura emoção e sem a razão de vida. Fica tudo ruim. Elétrico, agitado, ansioso, como se tivesse mesmo um tigre ali na esquina querendo te comer vivo. Até que tem outras coisas! A maioria está nessa vida corrida, com a mente acelerada. Onde isso vai levar? A uma vida infeliz, diminuição da saúde e longevidade abalada. Além de perder o humor e deprimir, você pode adoecer. É preciso aprender a viver com mais saúde e trabalhar com mais plenitude.”

SOLUÇÃO 

O caminho para viver melhor está ao alcance de todos. Sofia Bauer sugere exercícios diários que podem ajudar: “É importante sentar, apreciar e respirar fundo. Escreva em um caderno tudo que incomoda você por cinco dias consecutivos e depois deixe ir. Repare mais nos pequenos momentos de seu dia e veja o que você gosta mais de fazer. Se dê algumas pequenas pausas restauradoras – converse com amigo, tome um chá com alguém especial, ande descalço, aprecie a natureza, se dê um momento de contemplação. Pratique o bem sem ver a quem. E medite todos os dias, isso ajuda a limpar seu lixo mental também. A vida ficará mais fácil”.

Sofia Bauer avisa que não há como fugir da ansiedade, isso é fato, já que ela é uma adaptação evolutiva que permanecerá em nossos genes, independentemente da prosperidade e da segurança da sociedade em que vivermos. “Ela continuará nos ajudando a sobreviver – e, ao mesmo tempo, enxergar ameaças onde elas não existem. Mas é possível compensar seus efeitos negativos”, afirma, acrescentando que a chave é se aproximar de outras pessoas para pedir ou oferecer apoio, praticar exercícios mentais que abrem um portal de luz que vai refletir uma luz especial e redesenhar a mente e o cérebro. “A neuroplasticidade é possível, podemos recuperar as conexões se treinarmos ser mais positivos e descansar a mente. A decisão é pessoal e exige foco, que é investimento de tempo e energia. Seu cérebro ocupa apenas 2% da sua massa corporal, mas gasta 30% de sua energia. Por isso, é preciso aprender a desacelerar o pensamento. Às vezes, um tratamento psiquiátrico adequado é necessário sim, com medicações que não mitigam a doença, mas ajudam a reequilibrar os neurotransmissores. Mas para além disso, é preciso entender o que está levando o ser humano a ficar mais ansioso, mais vigilante e numa vida multitarefas. Aí mora nossa solução. É importante viver de forma mais simples.”



Leia mais sobre pensamento acelerado l PÁGinas 3 e 4




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