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Estado de Minas

Noz de macadâmia é a nova aposta do agronegócio

Produto originário da Austrália ganha mercado nos setores alimentício e cosmético no país. Segmento de castanhas e nozes já representa 18% do total das exportações brasileiras


03/02/2020 04:00 - atualizado 03/02/2020 09:34

Plantação de macadâmia na Zona da Mata. Colheita do fruto é feita depois que ele cai da árvore (foto: PEDRO SABINO/DIVULGAÇÃO)
Plantação de macadâmia na Zona da Mata. Colheita do fruto é feita depois que ele cai da árvore (foto: PEDRO SABINO/DIVULGAÇÃO)
Ainda pouco conhecida dos agricultores brasileiros, a macadâmia, uma noz originária da Austrália, chama a atenção de pesquisadores no setor alimentício e indústria de cosméticos e higiene apontando para um futuro promissor. Seu consumo e uso estão em crescimento nos mercados brasileiro e internacional. De acordo com o International Nut Council (INC) o consumo de castanhas e nozes no mundo vem apresentando crescimento de 6% ao ano. O segmento representa 18% do total de exportações brasileiras.
 
De acordo com José Eduardo Mendes de Camargo, presidente da Associação Brasileira de Nozes e Castanhas (ABNC), entre 2017 e 2018 o volume exportado subiu 41%, e houve um incremento de 78% nas receitas provenientes da venda a outros países de variadas qualidades de nozes e castanhas produzidas no Brasil, sendo enviados 21 mil toneladas do produto, uma receita de US$ 190 milhões.
 
A macadâmia é uma árvore que, sendo plantada em mudas enxertadas, começa a produzir no quarto ano e existem registros de pomares produzindo razoavelmente até os 70 anos. O investimento inicial é alto, tanto no preço das mudas dos poucos viveiros que existem no Brasil, como na preparação da terra e os tratos culturais. Existem vários implementos agrícolas aplicados tanto na lavoura quanto na pós-colheita, além de tratores.


''Posso afirmar com certeza de que o que mais pesa no nosso orçamento é a mão de obra, seguido pelos adubos, impostos, defensivos e combustível para os tratores''

Pedro Sabino, produtor de noz de macadâmia




“Posso afirmar com certeza de que o que mais pesa no nosso orçamento é a mão de obra, seguido pelos adubos, impostos, defensivos e combustível para os tratores. No caso dos impostos, apesar de em Minas Gerais os produtos hortifrutigranjeiros não pagarem ICMS, existe uma exceção, na minha opinião sem nenhuma justificativa plausível, para as nozes, sejam elas quais forem, produzidas no Brasil ou importadas”, constata o produtor de macadâmia Pedro Sabino, que vende sua produção para processador no Espírito Santo, segundo maior produtor depois de São Paulo.
 
Sabino fala do interesse em começar um processo de exportação, uma vez que é isenta de ICMS e “cujos preços são bem maiores dos que os praticados pelas processadoras nacionais. Aliás, este é um outro ponto a ser mencionado. Na minha opinião, um dos gargalos para o produtor de noz de macadâmias é o pequeno número de processadoras. Pelo que me consta, daquelas que compram e processam nozes de terceiros, só existem quatro, sendo que uma delas é uma cooperativa capixaba que só processa as nozes de seus poucos cooperados”.

Acordos internacionais


O presidente da ABNC chama a atenção do governo para os acordos internacionais, “fundamentais para que se possa melhorar os ganhos do agronegócio com estas culturas. Para ter uma ideia, a macadâmia australiana entra na China com alíquota zero, enquanto a brasileira é taxada em 12%; castanhas peruanas ingressam na Coreia com taxas de 3% e há negociações para isenção tarifária, enquanto as castanhas brasileiras são taxadas em 30% naquele país”.
 
A colheita dura do fim de fevereiro até o começo de maio e as nozes são apanhadas no chão, na maioria das fazendas, de forma manual e em algumas com colheitadeiras puxadas pelo trator, explica o produtor Sabino, que encontrou em São José das Três Ilhas, distrito histórico de Belmiro Braga, as condições climáticas e topográficas ideais para o cultivo. No ano passado a produção chegou a 96 toneladas “e o retorno foi excelente pois nosso lucro foi de 40% do faturamento”.
 
“Começamos a plantar depois de assistir a um encontro promovido pela Tribeca, firma que produz mudas e processa as nozes de macadâmias em Piraí, no estado do Rio de janeiro. Lá recebemos nossas primeiras informações sobre esta cultura e logo nos interessamos, partindo então para encontrar uma propriedade que se prestasse para tal fim. Tenho visto várias descrições diferentes de como seria o local ideal, mas naquela época nos foi passado que tal condição seria numa altitude em torno de 600 metros, com topografia que permitisse a mecanização.”
 
Segundo ele, “o ideal é que durante a época do florescimento a temperatura não exceda por muito tempo os 30° C, pois pode provocar queda prematura de frutos. Através do primeiro financiamento do BNDES para esta cultura, começamos o plantio em cerca de 30 hectares, há 14 anos, de modo adensado já sabendo que por volta do 12° ano teríamos que eliminar metade das plantas pois se tornaria impossível a circulação de tratores, o que de fato aconteceu e há dois anos, com a eliminação de mais ou menos 6 mil plantas”.
 
O produtor da noz explica que existem várias pragas a serem combatidas, mas aponta com a mais significativas são originárias do tripes, inseto minúsculo que ataca as flores e o percevejo que ataca os frutos, fazendo furos em sua casca.

Embrapa desenvolve estudo de combate a doenças


A Embrapa Meio Ambiente, em conjunto com produtores brasileiros de macadâmia vem desenvolvendo estudos tanto na identificação de agentes causais de doenças de alto impacto no produto, coordenadas pelo pesquisador Bernardo Halfeld Vieira, quanto na direcionada à avaliação da entomofauna associada a pomares de macadâmia e de pragas exóticas, coordenada pela pesquisadora Jeanne Prado.
 
"A identificação de patógenos nas plantações de macadâmia e o conhecimento da relação entre as estações e o aumento da incidência de doenças permitem uma definição precisa das medidas a serem tomadas para controlar cada doença. Esses dados podem ser usados para se precaver de possíveis problemas fitossanitários em outras áreas de expansão. Além disso, a identificação correta de agentes causais dará suporte a estratégias mais adequadas de manejo de doenças em plantações de macadâmia", explica Bernardo.
 
Produtor “por acaso”, o médico Wenceslau de Araújo Miranda plantou quatro mil árvores em 20 hectares na fazenda da Laje, em Lima Duarte, Zona da Mata mineira e espera colher 80 toneladas do fruto ao ano. “Não conhecia a lavoura e na verdade meus amigos de cavalgada me convenceram a adquirir a fazenda que estava a venda e meio abandonada”. Há cinco anos, Lau, como é conhecido, vem restaurando as lavouras, as edificações e equipamentos. Neste ano contratou uma consultoria de engenheiro agrônomo especialista em macadâmias e a recuperação tem apresentado “bons resultados”. Até então os resultados eram insatisfatórios por “falta de trato cultural, fitossanitário de nutrientes, entre outras coisas”, explica o produtor. “Trata-se de uma cultura subtropical que se adapta bem na Zona da Mata, tanto na quantidade de insolação quanto na precipitação pluviométrica”.
 
Lau conta que já existem espécies desenvolvidas e melhoradas geneticamente que inciam a produção após cinco anos e chegam à plenitude de frutificação em torno dos 10 a 12 anos, sendo que cada árvore adulta pode produzir anualmente entre 25 e 28 quilos. “De modo geral, varia conforme a espécie. Algumas florescem o ano todo, mas de modo geral o ciclo seria floração entre agosto e setembro, inicio de outubro, fase de maturação e crescimento e a colheita entre fevereiro e junho”.
 
Wenceslau Araújo destaca as propriedades nutricionais da noz que é empregada principalmente no setor alimentício e pode ser consumida in natura, torrada e salgada, ou triturada em bolos, pães, sorvetes, balinhas confete. Também muito utilizada pela indústria cosmética por ser oleoginosa e presença de ômega 3.

Estudante ganha prêmio


O processamento da noz de macadâmia gera 75% de resíduos, que acabam indo para os aterros sanitários orgânicos ou são queimados para produção de energia. Em maio do ano passado, a estudante gaúcha Juliana Estradioto, do campus de Osório, do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (Ifrs) venceu o Science and Engineering Fair, em Phoenix, Estados Unidos, na categoria Ciência dos Materiais, ao apresentar alternativas rentáveis e sustentáveis para o aproveitamento dos resíduos descartados pela indústria. A feira contou com a participação de mais de 1.800 estudantes de ensino médio de 80 países.
 
Juliana transformou a casca da noz macadâmia em farinha. Essa farinha, em meio de cultivo com outros nutrientes, serviu de alimento para microorganismos, os quais produziram as membranas. Essas são compostas de celulose e possuem características (como flexibilidade e resistência) que permitem a utilização em curativos para pele queimada ou para machucado. Outro uso possível é na elaboração de embalagens para o recolhimento de fezes de cachorro, em substituição ao plástico.
 
Juliana concorreu com a pesquisa sobre o aproveitamento da casca da noz macadâmia para confeccionar uma membrana biodegradável, que pode ser utilizada em curativos de pele ou em embalagens, substituindo o material sintético. Além de ecologicamente correta, a membrana tem um custo mais baixo do que o material sintético, sendo também mais econômica. O trabalho foi desenvolvido enquanto Juliana era aluna do curso Técnico de Administração Integrado ao Ensino Médio do Campus Osório do IFRS, tendo orientação da professora Flávia Twardowski e coorientação do professor Thiago Maduro.





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