(none) || (none)
UAI

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Circuito revive a saga dos tropeiros em Minas

Evento no Vale do Jequitinhonha ressalta a herança deixada pelos homens que percorriam com suas tropas quilômetros para transportar alimentos a regiões distantes do estado


postado em 11/11/2019 04:00 / atualizado em 11/11/2019 08:10

Entre o século 17 e a metade do século 20 o transporte de quase toda a produção agrícola do interior de Minas e do Brasil era feito em lombo de mulas e burros, pelos tropeiros(foto: Felipe Ribeiro/Divulgação)
Entre o século 17 e a metade do século 20 o transporte de quase toda a produção agrícola do interior de Minas e do Brasil era feito em lombo de mulas e burros, pelos tropeiros (foto: Felipe Ribeiro/Divulgação)

Nos dias atuais, as mercadorias produzidas no campo são transportadas em caminhões, passando por rodovias asfaltadas, de trem ou navio. Também chegam rápido ao destino, levadas por avião. Mas houve um tempo, entre o século 17 e a metade do século 20, quando mal existiam estradas, o transporte de quase toda a produção agrícola do interior de Minas e do Brasil era feito em lombo de mulas e burros, pelos tropeiros. Esse sistema de transporte será lembrado em Couto de Magalhães de Minas, na região de Diamantina, no Circulo Tropeiragem, que começa nesta terça-feira (12) e prossegue até a segunda-feira (17).
 
De acordo com os organizadores, o evento deverá reunir 400 participantes. O objetivo é 'voltar no tempo e mostrar como era a vida dos corajosos homens do passado, que contribuíam para que os produtos da agricultura pudessem chegar aos consumidores de lugares distantes'. Por dias seguidos, eles se deslocavam por grandes distâncias, em terrenos íngremes, levando toucinho, feijão, farinha, café, fubá, cachaça e outros produtos da roça. Deixaram heranças na nossa cultura e na gastronomia, como o famoso "feijão-tropeiro".

Na programação estão previstos cortejos e arrancadas de tropas pela cidade, de 4,2 mil habitantes, distante 30 quilômetros de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha. A população poderá aprender como era montada uma tropa para o transporte dos produtos. No sábado, será ministrada a oficina aberta “Composição e arreação de uma tropa no território dos diamantes”.

No mesmo dia, o público também vai poder aprender como era o funcionamento de uma trempe, chapa de ferro usada pelos tropeiros para sustentar as panelas e preparar as refeições durante as longas viagens. Acontecerá a “trempe na praça”. Além disso, haverá prova “carga rápida”, uma série de apresentações culturais e rodas de conversa.

A primeira edição do Circuito Tropeiragem é realizada pela Prefeitura de Couto de Magalhães de Minas, por intermédio da Secretaria de Cultura e Turismo do Município, com o apoio da coordenação do curso de Turismo da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

"As tropas faziam o transporte de todo tipo de carga que chegava e saía da região. Os tropeiros uniam localidades, geravam conhecimento e trocas culturais"

Felipe Ribeiro, organizador do Circuito Tropeiragem



O organizador do evento, Felipe Ribeiro, ressalta que a “tropeiragem” teve uma grande importância na região de Diamantina durante mais de três séculos. “As tropas faziam o transporte de todo tipo de carga que chegava e saía da região. Os tropeiros uniam localidades, geravam conhecimento e trocas culturais”, afirma Ribeiro.

Ele salienta que o “tropeirismo” foi um movimento se iniciou na região praticamente junto com a mineração no século 18 e teve sua decadência no século 20, com a abertura de estradas e a chegada de veículos e caminhões.

Entre esta terça-feira e quinta-feira haverá a “pré-tropa”, com reuniões e palestras sobre o movimento dos tropeiros e o turismo na região. Na quarta-feira, acontecerá o evento “Queijo minas artesanal e a produção associada ao turismo”. Será ministrada a palestra “Caracterização da região produtora de Diamantina”, coordenada pela Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG).

Felipe Ribeiro afirma que os tropeiros transportavam em cima do lombo de animais os mais diversos gêneros alimentícios consumidos pela população garimpeira, destacando carne de sol, toucinho de porco, queijo, feijão, milho, arroz, rapadura e farinha. “Alguns relatos registraram a passagem de algodão e produtos em couro vindos do Norte de Minas e Bahia”, explica o coordenador.

O Circuito Tropeiragem também contará com feiras, com destaque para produtos típicos da região diamantinense, como queijos, doces, farinhas, biscoitos, mel, café e cachaça. Também estarão à venda trabalhos manuais como cestarias, trabalhos em madeira e couro, que lembram a época das viagens das tropas.

Couto de Magalhães de Minas espera cerca de 400 participantes para o Circuito da Tropeiragem(foto: Felipe Ribeiro/Divulgação )
Couto de Magalhães de Minas espera cerca de 400 participantes para o Circuito da Tropeiragem (foto: Felipe Ribeiro/Divulgação )


Produção agrícola viajava sobre lombo dos animais

A importância dos tropeiros ao longo de séculos no transporte e na comercialização de diferentes produtos agrícolas é ressaltada pelo antropólogo e professor João Batista Almeida Costa, da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Ele lembra que existia um grande movimento dos tropeiros entre as regiões voltadas para agricultura e pecuária, como o Norte de Minas, e as regiões mineradoras, casos de Diamantina e Ouro Preto.

“Os tropeiros de Minas Gerais tinham como base localidades com sistemas de produção agrícola e pecuário que forneciam para as localidades que tinham como principal atividade produtiva a mineração, seja de ouro, seja de diamante. Desde a fundação da Capitania de Minas Gerais ocorreu o entrelaçamento das regiões dedicadas à produção mineraria (ouro e diamante) com as regiões vinculadas à produção agrícola e pastoril, sendo que as produtoras de gêneros alimentícios abasteciam as localidades mineradoras”, relata o antropólogo.
Carne de sol, toucinho, rapadura e farinha, entre outras dezenas de produtos, eram transportados por longos trajetos(foto: Felipe Ribeiro/Divulgação)
Carne de sol, toucinho, rapadura e farinha, entre outras dezenas de produtos, eram transportados por longos trajetos (foto: Felipe Ribeiro/Divulgação)

Segundo ele, os principais produtos transportados pelos tropeiros eram grãos como arroz, feijão, milho, produtos beneficiados como farinha e goma, rapadura e cachaça e, principalmente carnes como peixe salgado e carne de sol. Mas, também, eram conduzidos animais vivos para o abate nas localidades e para atendimento à necessidade de transporte da produção mineradora.

O professor João Batista relata que os tropeiros saíam de Montes Claros (Norte de Minas) e se deslocavam até Diamantina por 227 quilômetros. No caminho, eram obrigados a atravessar o Rio Jequitinhonha, no limite entre Diamantina e Bocaiuva (atualmente).

“As distâncias eram diversas. Cipriano de Medeiros Lima, posteriormente barão de Jequitaí era assíduo frequentador de Diamantina para onde levava a produção agropastoril da região de Jequitaí, Barra do Guaicuí e Várzea da Palma para a cidade dos diamantes. Nesse deslocamento, percorria 272 quilômetros. E foi nessa atividade que ele se tornou o maior fornecedor de alimentos para os mineradores em Diamantina”, descreve o antropólogo.

“No início do entrelaçamento da produção agropastoril com a mineração no início do século 18, a produção de rapadura e de cachaça feita por Antônio Gonçalves Figueira em sua fazenda Brejo Grande, localizada no atual município de Santo Antônio do Retiro, o deslocamento era de 477 quilômetros. Há que considerar a Estrada do Gado construída por Antônio Gonçalves Figueira que começava na Bahia e pelo alto da Serra do Espinhaço chegava a Diamantina”, acrescenta Almeida Costa.

Ainda de acordo com professor da Unimontes, além de garantir o abastecimento das regiões mineradoras com gêneros alimentícios, os tropeiros promoveram a comercialização de produtos importados. “Por frequentarem os principais centros de comércio da época, eles traziam produtos estrangeiros, principalmente vestuário e utensílios de mesa e cozinha, para suas próprias famílias ou para atender à demanda de outras famílias”, explica.

Serviço
Circulo Tropeiragem
De terça-feira, dia 12, a segunda-feira (17)
Couto Magalhães de Minas


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)