(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

O que é preciso e o que é esperado para o ''pior emprego do mundo''

O futuro ministro da Fazenda é advogado, fez mestrado em economia e sua dissertação foi uma crítica contundente ao regime soviético na década de 80


12/12/2022 04:00

Fernando Haddad pode ser um fiador de que não existe possibilidade de erro na área econômica do governo Lula
Fernando Haddad pode ser um fiador de que não existe possibilidade de erro na área econômica do governo Lula (foto: Ricardo Stuckert/Divulgação - 9/7/22)

A indicação de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda é sim o indicativo da preferência de Lula para a sua sucessão daqui a quatro anos. No entanto, se esse é mesmo o plano, parece arriscado Haddad assumir o que Thomas Traumann chamou de “O pior emprego do mundo”, já no primeiro ano do novo governo petista.

O livro, que tem o mesmo nome da qualificação que Traumann dá ao cargo de ministro da Fazenda, é leitura obrigatória para quem quer entender a forma como decisões relevantes para a vida das pessoas foram tomadas desde Antônio Delfim Netto, no auge do regime militar, até a passagem de Henrique Meirelles, já no governo Temer.

Dá para entender perfeitamente a hesitação de Lula em colocar Haddad nessa cadeira, no que tem tudo para ser um período de ajustes desgastantes politicamente. A chance de queimar o sucessor não é pequena.

O Brasil, no ano que vem, precisará de ajustes próprios de um mundo em recessão, com China, Europa e Estados Unidos enfrentando seus próprios desafios. O cenário externo não vai sustentar uma gastança desenfreada, como ocorreu no passado. Não precisa ser nenhum gênio da economia para saber disso, o que Haddad nunca se propôs a ser, aliás.

O futuro ministro da Fazenda é advogado, fez mestrado em economia e sua dissertação foi uma crítica contundente ao regime soviético na década de 80, uma época que a esquerda idolatrava aquele modelo. Haddad chamou de “destópico” e por diversas vezes comparou com o escravismo. Não se tratava propriamente de um trabalho sobre economia, mas sobre política econômica.

Quando foi prefeito de São Paulo – entre 2013 e 2016 – Haddad também não parecia afeito a ideias mais ligadas à esquerda clássica na gestão da economia. Reduziu a dívida da cidade com a União por meio de uma renegociação que substituiu o indexador da dívida paulista.

Por toda sua “ortodoxia” no tratamento da economia, o ex-prefeito de São Paulo está longe de ser um nome de consenso dentro do Partido dos Trabalhadores (PT). Críticas à sua formação superficial em economia começam a surgir mesmo dentro do seu partido.

A verdade é que – voltando à obra de Traumann – não é mesmo necessário ser um super economista para ser um bom Ministro da Fazenda. Aliás, os mais bem-avaliados não foram, com destaque para Antonio Palocci e Fernando Henrique Cardoso.

Não é difícil se cercar dos melhores técnicos para propor políticas inovadoras e eficientes, exatamente como fez Fernando Henrique, quando trouxe Pérsio Arida e André Lara Resende para criar o Plano Real.

Não deixa de ser irônico que os mesmos Lara Resende e Arida estejam hoje apoiando a transição na área econômica de Lula. O PT fez oposição ferrenha ao Plano Real. Lula, em 1998, afirmou que “o povo tem que aprender que ninguém pode viver de fantasia o tempo inteiro” e que “é essa estabilidade monetária, que causa instabilidade social”.

Lula foi esperto o suficiente para reconhecer o sucesso do Plano Real e do tripé macroeconômico nos governos tucanos e aproveitou o momento auspicioso da economia mundial para se eleger duas vezes e ainda fazer sua sucessora.

A ex-presidente Dilma Rousseff buscou outro caminho, menos ortodoxo, e terminou levando o Brasil para bancarrota. Seu ministro da Fazenda tinha pouca autonomia ou força para se contrapor às ideias da presidente. Guido Mantega parecia mais um burocrata que estava ali para cumprir ordens e eventualmente levar a culpa.

Ter um burocrata técnico no cargo que possa tomar medidas mais impopulares no curto prazo para só então alçar o sucessor quando o país já estivesse estabilizado seria uma ideia. Certamente isso passou pela cabeça de Lula.

Voltar a ancorar a expectativa da dívida pública em patamares razoáveis vai exigir medidas drásticas, como redução de subsídios e gastos em áreas sociais. Não existe milagre: o investidor vai exigir juros cada vez mais altos de um país irresponsável fiscalmente. Nesse cenário, para um político experiente mesmo sem qualquer formação em economia, só existe um desfecho possível: o impeachment.

Interessante que Haddad, no final das contas, pode ser um fiador de que não existe possibilidade de erro na área econômica desse governo. O novo ministro, se quiser mesmo ser o sucessor de Lula, terá que acertar a fragilidade fiscal deixada por Bolsonaro já no ano que vem.

O pior emprego do mundo será ocupado por um político de esquerda que criticou o modelo soviético nos anos 80. Se fez isso, tem condições de isolar alguns segmentos dentro do seu partido que ainda acredita que só gasto público gera crescimento econômico.
 

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)