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Estado de Minas REGINA tEIXEIRA DA COSTA

Verdades esquecidas batem à porta da consciência e perturbam nosso sossego

A descoberta de Freud questiona a verdade, mas ela nunca é toda, plena, completa, porque o inconsciente nunca será totalmente decifrado ou desvelado


29/05/2022 04:00 - atualizado 28/05/2022 01:06

Ilustração mostra várias mãos com dedos apontando para o mesmo lugar

Disse Freud a Jung quando desembarcavam no porto de Nova York para uma conferência: “Eles não sabem que lhes estamos trazendo a peste.” Ele sabia claramente a subversão da qual era portador e o que causaria na Universidade Clark, que o convidara. Já enfrentara a crítica acirrada da comunidade médica vienense antes. A mensagem trazia um brilho perturbador.

É certo que a coisa freudiana não era fácil por tratar-se de descentrar o homem de si mesmo, de seu domínio próprio e de suas certezas, situando-o como dividido por um inconsciente ativo até mesmo enquanto dorme e que guarda tudo aquilo que na consciência não é suportado e, portanto, fica ali esquecido.

Mas este esquecido não nos esquece e insiste em pressionar para retornar, devendo a censura trabalhar dia e noite para demovê-lo desta missão. O melhor exemplo é o do professor que para conseguir dar sua aula pede silêncio à turma do fundão sempre barulhenta e dispersa. Depois de várias tentativas, pede que se retirem. Os expulsos, inconformados, tentam voltar, sendo necessário um reforço na porta para que se possa realizar o ensino.

Assim também nossas verdades esquecidas batem à porta da consciência pedindo passagem e perturbando nosso sossego de dia, e não satisfeitas ou atendidas fazem sonhos enquanto a censura cochila.

De fato, a descoberta de Freud questiona a verdade e não há ninguém que não seja pessoalmente afetado pela verdade. No cerne, a experiência analítica está sempre presente e refaz a descoberta do poder da verdade em nós e até em nossa carne.

Lacan em certo momento se pergunta: “De onde provém esta paz que se estabelece ao se reconhecer a tendência inconsciente, se ela não é mais verdadeira que o que a cerceava no conflito?”.

Uma paz que se revela fraca, pois, apesar de reconhecermos o inconsciente, as defesas a serem atribuídas ao eu são sempre reconhecidas tais como mecanismos de deslocamento quanto ao objeto, inversão contra o sujeito, regressão da forma. E tudo isto para que o sujeito não se reconheça, a ponto de confundir o rosto com a máscara.

Numa análise, tudo parte de um desvelamento que faz com que a realidade já não seja como antes para nós, e é disso que não mais conseguimos nos livrar. Uma verdade não é fácil reconhecer depois de ter sido aceita uma vez.

A algumas, o homem jamais terá acesso. Parte das acessíveis ele insiste em não saber, não querer saber. E esta cegueira é causada porque nem sempre é bela quando nua. A poesia nos auxilia na sublimação dos nossos insuportáveis. A arte, a escrita e tudo aquilo que apreciamos dão alento à nossa dor existencial irredutível em certo ponto.

É preciso se fazer um pouco de bobo para fingir não saber nada do que acontece depois disso. Mas para isso contamos com defesas contra elas que nos permitem esquecer, ignorar, recalcar, negar... Mas quanto mais nos defendemos, mais apontamos que ali tem...

Uma questão frequente no trabalho do psicanalista é como ultrapassar as defesas que impedem nosso trabalho e em que medida elas são necessárias para que o sujeito suporte a vida como ela é. Não podemos nos livrar totalmente delas sem sofrer abalos sísmicos.

Apenas acessamos meias-verdades. A verdade nunca é toda, plena, completa, porque o inconsciente nunca será totalmente decifrado ou desvelado. Mas uma pitada que seja pode nos ajudar a decifrar um bocado do sujeito que somos. Eu recomendo! 

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