(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Não estávamos preparados para o isolamento que a COVID nos impôs

Embora racionalmente concordemos com isso para nossa proteção e do outro, causou-nos tristeza e sofrimento. Não poder abraçar é uma privação


23/05/2021 04:00

 
Nascemos do corpo de nossas mães e deve ter sido muito estranho cair no mundo depois de ficar numa bolsa líquida e quente, alimentados e protegidos. Nunca saberemos tudo sobre a vida psíquica intrauterina, mas especialistas afirmam que cair na atmosfera e respirar causa um impacto traumático. Como cair no vácuo e se não somos acolhidos afetivamente, as dificuldades são maiores.

Nascemos ainda prematuros e não estamos prontos. Nossa preparação se conclui depois do nascimento, por ex exemplo, a maturidade neurológica: motora, cognitiva, discursiva é tardia. E até que estejamos aptos a viver por conta própria, são muitos anos. De todas as espécies do mundo, somos os mais incompletos ao nascer. Certamente, o aspecto afetivo é de grande relevância para o desenvolvimento humano.

Por isso, a presença da mãe ou de uma cuidadora ou cuidador são imprescindíveis quando nascemos. Ainda bebês, estranhamos qualquer pessoa que se aproxime que não nos seja familiar, só queremos aqueles que conhecemos e sofremos quando separados.

Freud descreveu o jogo do carretel de seu netinho para demonstrar o que lhe acontecia toda vez que a mãe se ausentava: sentado no chão, ao lançar o carretel, ele dizia foi e, ao recolhê-lo, veio. Freud compreendia aquilo como sendo a elaboração da separação e aproximação da ausência da mãe.

Deste familiar herdamos valores e ideais da cultura e nos adequamos a tudo que nos ensinam, a começar da linguagem. Isto significa que nós herdamos suas crenças e opiniões, assim como seu desejo é a matriz do nosso.

Lacan dizia que desejo é desejo do outro e a análise é um percurso em que aprendemos a nos separar desta alienação em que vivemos anos nesse outro.

Crianças perguntam às suas mães quando veem uma comida nova: “Mãe eu gosto disto?” E o que a mãe disser resolve. Até certo ponto. Até certa idade... e para alguns pelo resto da vida. Para os que não conseguem fazer a separação.

A adolescência é a travessia da infância para a vida adulta e é quando devemos fazer separações importantes para que nos tornemos sujeitos de nosso desejo, que pode ser outro, quando deixamos cair parte das identificações com a família. As partes do outro que são nossas e nos tornaram o que somos e, neste momento, podemos nos reconfigurar.

Para alguns, esta separação é dramática, pois é sentida como traição, abandono e solidão. O perigo da perda de amor. Negar qualquer coisa a quem nos deu tudo é um problema para os envolvidos e traz sofrimento e culpa. Mas é desejável e saudável. E nos prepara para uma vida cheia de separações que sempre se fazem necessárias.

Como podemos deduzir, a separação causa medo, sofrimento e luto, porém são processos comuns e positivos. Não viemos à vida para sermos felizes, viemos viver e isto implica processos de superação, resistência, realização e momentos felizes e de alegria também.

Mas a COVID provocou o isolamento. Felizmente, temos hoje os espaços virtuais amenizando um pouco. Não estávamos preparados para o isolamento e a consequente separação nos afastando dos amigos, parentes e pessoas queridas. Esta será temporária, mas teremos de fazer concessões, aceitar a castração e gratos! Mas não deixa de ser penosa.

E embora racionalmente concordemos com isso para nossa proteção e do outro, causou-nos muita tristeza e sofrimento. Não poder abraçar é uma privação. Enfim, vivemos hoje lutando para que este vírus seja exterminado e já vemos isso no horizonte de alguns países. Que nós também, brasileiros, apesar das trapalhadas e incompetências políticas, possamos recobrar a normalidade, de preferência com bastantes aglomerações! E abraços mil!!! 

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)