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Psicanalistas devem se posicionar contra discurso fascista

Em seu novo livro, Antonio Quinet aponta nova ordem mundial no comando das subjetividades e na ameaça não só à psicanálise como à própria humanidade


11/04/2021 04:00


Dizia Jacques Lacan, importante freudiano francês, que o psicanalista deve alcançar a subjetividade de sua época. A psicanálise não é uma terapêutica como as outras. Seu rigor ético exige uma formalização teórica.

O livro recém-lançado por Antonio Quinet, “A política do psicanalista – do divã para a polis” (Editora Atos e Divãs, do Rio de Janeiro), é bastante esclarecedor e oportuno.

Em 1967, Jacques Lacan propôs aos analistas de sua escola que a escuta do paciente, que chamou psicanálise em intenção, se estendesse às vozes do mundo, os discursos – a saber: do mestre, do universitário, da histérica, do analista e do capitalista – e aos tipos de laços sociais produzidos por eles.

Pontuou três linhas de facticidade que correspondem aos três registros frente aos quais os analistas – em sua extraterritorialidade da escola, do mundo em que vivem – deveriam estar atentos: o simbólico, o imaginário e o real.

O simbólico refere-se ao complexo de Édipo, ao outro que nos introduz na linguagem, nos ideais da cultura, incluindo neles preconceitos, misoginia, machismo, racismo.

Quanto ao imaginário, referiu-se às psicologias de massa, identificações verticais, isto é, aos líderes (Jesus, Martin Luther King, Gandhi, Hitler, Bolsonaro) e horizontais (aos semelhantes, irmãos de sangue e em Cristo). Também às rivalidades mortíferas, guerras, disputas narcísicas, etc.

E, finalmente, o real das guerras mundiais, do Holocausto, dos campos de concentração que prenunciavam todo tipo de segregações com a chegada do avassalador discurso capitalista.

Estes três registros enlaçados, enodados e tendo em seu centro a cloaca da civilização precisam, sob risco do caos, da desagregação e do fim do mundo, serem amarrados por uma ordenação, um nomeador que aponte, intervenha como legislador dos gozos desregrados de um sobre o outro. Pois quem mais?

Em 1975, nas Conferências Americanas, Lacan aponta a “cloaca máxima da civilização”, termo com o qual se referiu ao que, sob o discurso capitalista, ela produz e ao que rejeita, descarta: objetos, dejetos e abjetos. Sim, a abjeção em relação a índios, pretos, mulheres, LGBTs, pobres.

A psicanálise tem política própria que vai além da questão curativa. A cura é um benefício adicional que advém de uma visão de mundo que adota a ética do não-todo, não-tudo e da castração e disto resulta sua extraterritorialidade aos discursos totalitários.

É anticapitalista na medida em que denuncia o pseudo laço social que nega a falta constitutiva da subjetividade, preenchendo os vazios com porcarias, transformando tudo em mercadorias que despeja no mercado como bens de consumo, promovendo a degradação do desejo em consumismo. Induzindo o sujeito a abandonar a subjetividade e tornar-se consumidor idiotizado pelo marketing, que o faz pensar que é o seu “bem” que lhe atribui algum valor. A pretensão de eliminar diferenças segrega e torna todos proletários a serviço do gozo de alguns.

Em seu livro, Quinet discute tudo isso e muito mais numa crítica bem fundamentada sobre a situação política brasileira diante da guerra biológica atual, a posição do Estado,  que não só se omitiu em regular, legislar e governar, como também atrapalhou naquilo que diz respeito à preservação da vida.

Aponta uma nova ordem mundial no comando das subjetividades e na ameaça não só à psicanálise como à própria humanidade. Frente a isso, devem os psicanalistas se posicionar. Contra um discurso fascista que assola o país sem pudor, escancarando sua misoginia, homofobia, racismo.

A psicanálise é pacifista e não favorável ao gozo destrutivo. Sua ética, cito o autor, não é a vontade de poder e sim a do desejo e do bem-dizer. Sua aposta é no tratamento do real pela palavra para poder bem-dizer o que faz sintoma, como uma pedra no meio do caminho à espera de um chute da palavra para liberar um sujeito caminhante, falante, cantante e dançante. A vitória é da apalavra.

É o que faz nesta escrita primorosa e bem articulada, lembrando aos analistas que nossas armas são a interpretação e o ato, e não balas e fuzis.

Aos interessados em adquirir o livro: www.antonioquinet.com.

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