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Estado de Minas COLUNA PSI

Uma releitura contemporânea da simbólica fábula 'A cigarra e a formiga'

Entre os seres humanos, o julgamento moral e o castigo às vezes são bastante duros, impiedosos


07/02/2021 04:00


Esta é uma das fábulas atribuídas a Esopo e recontada por Jean de La Fontaine em francês. Fábula é uma história que tem sempre ao final uma lição. É uma forma lúdico-pedagógica de ensinar o certo e o errado para crianças e também adultos, por meio de exemplos utilizando animais e mostrando que quem faz o certo vai bem, quem faz errado vai mal. 

A cigarra vivia cantando, enquanto a formiguinha não parava de trabalhar fazendo seu estoque para os dias de inverno, quando a natureza não oferece o alimento na mesma prodigalidade das outras estações. Andava pra lá e pra cá, e a cigarra só cantando... Muito folgada, só queria o prazer.

Na fábula, chegando o inverno, como era de esperar, a cigarra bate à porta da formiguinha. Com estoque suficiente para o formigueiro passar o inverno sem miséria, a formiguinha nega o pedido da cigarra, que, por ser pouco trabalhadeira, morre de fome. Quer dizer que a formiguinha não curtia o fundo musical oferecido pela cigarra. Há mesmo quem não suporte seu canto, anunciando a chuva e quase enlouquecendo com o barulhão.

É sempre assim, o que afeta um não afeta o outro. E o estilo de vida de cada um é realmente diferente, alguns singulares. Na natureza, cada um está condenado a continuar fazendo o que o instinto lhe dita. A etologia mostra que os animais fazem sempre o mesmo e nunca mudam seus hábitos. A cigarra sempre cantará e a formiga sempre estará ocupada.

Entre humanos, o julgamento moral e o castigo às vezes são bastante duros, impiedosos até. É como se quem passou a vida alegre a cantar, buscando o prazer e a alegria sem pensar no amanhã, incomodasse os trabalhadores, que, não suportando a diferença e ressentidos por trabalhar tanto enquanto outros curtiam, querem que o outro sofra, que se dê muito mal.

A inveja tem sua base nesse tipo de situação. A pessoa abre mão de viver de maneira mais leve, de se divertir e de ter prazer escolhendo uma forma dura que a obriga a renúncias maiores do que as necessárias. Ao constatar que outros viveram sem tantas renúncias, fica muito irritada se o destino, ainda por cima, favorece os folgados.

Estender a mão? Nem morta!!

Mas as pessoas que escolheram bem suas vidas, sabendo distribuir bem seu tempo entre prazer e dever, não são tão ressentidas, porque conseguiram também suas alegrias e poderão, sem tanto esforço, oferecer um pouco de solidariedade ao próximo, tendo ele feito certo ou errado.

Quem nunca errou que atire a primeira pedra, anunciou Jesus diante do apedrejamento de Maria Madalena. E dela fez sua companheira e amiga de toda a vida. Mesmo sendo pecadora. Quem nunca?

Ainda hoje, com tantas campanhas pela tolerância e a favor das diferenças, não deveríamos entender que cada um se arranja como pode? Não estou descartando as perversões, os exploradores, os folgados e mal-intencionados. A esses devemos dar cortes e nem gastar nosso latim. Mas há os que têm reais dificuldades em se adaptar ao que a educação de nosso tempo e os ditames do politicamente correto impõem, encontrando um modo singular de lidar com a realidade a partir de sintomas peculiares. Ou de não suportar a vida como ela é e viver em negação e alienação. Há quem precise, mesmo, de algo que lhe dê suporte. Há quem precise de uma mão, uma escuta, um empurrãozinho.

Afinal, nós que trabalhamos com a psicanálise sabemos da inverdade daquele ditado “pau que nasce torto morre torto”. O amor de transferência e a confiança depositada no analista permitem soltar a palavra em livre associação, apostando no inconsciente, o que produz importantes mudanças. Nunca é tarde para redistribuir a libido entre cantar e trabalhar!!! Disse Freud que o que o homem precisa é estar em condições de trabalhar e amar.

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