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Amar de verdade é tolerar a diferença e respeitar o desejo do outro

Amor não quer dizer concordar em tudo, aceitar tudo e obedecer pelo medo e pressão alheia daqueles que acreditamos ser nossos pilares


17/01/2021 04:00

(foto: Quadro Narcissus/Caravaggio)
(foto: Quadro Narcissus/Caravaggio)

Há poucos dias, escrevi um artigo intitulado Resta um e nele disse que o sujeito analisado deixa cair identificações com as figuras parentais, a empáfia narcísica que o mantivera por tantos anos de sua vida sentindo-se ofendido quando não atendido e arrogante em relação a seus caprichos e demandas. Perguntei então o que ficava depois da análise e respondi: resta um sujeito capaz de dizer não.

E é a isso que hoje volto. A vida que recebemos é uma dádiva e devemos aproveitá-la da melhor maneira possível, embora não saibamos precisamente o que isso possa significar. Na clínica, porém, me parece cada vez mais claro que aproveitar a vida é ter a posse dela. Saber separar o que fazemos para atender expectativas das pessoas que amamos e o que fazemos porque é o nosso desejo fazer.

Falando assim parece óbvio, claríssimo, fácil de resolver. Mas não é. Os que adoecem e sofrem acreditando que a vida não vale a pena, pois sofrem muito, precisam repensar os porquês deste sentimento.

Acredito que não seja simples contrariar os que dizem nos amar e, em nome desse amor e da união incondicional, exigem que abramos mão do que desejamos e nunca são capazes, de fato, de nos escutar.

Não deixar uma pessoa falar ou desconsiderar tudo o que ela diz é um ato de violência. Uma anulação terrível da alteridade. O amor que não tolera diferenças, que não considera o outro e seu desejo é como o amor de Narciso por sua própria imagem no lago. Ele morreu por se apaixonar por si mesmo, não admitiu outro em sua vida.

Assim, quando precisamos insistir em ser escutados, repetidamente nos negam esse direito e sem a coragem de romper com chantagens e estratégias constrangedoras, compungidos a acatar, caímos na impotência, na desistência, na covardia moral, até o ponto de declararmos, por sentirmos de fato: a vida não vale a pena.

Concordo. A vida que não é sua, e deve ser doada para servir aos propósitos do outro – a menos que seja a intenção e o desejo do sujeito, como fizeram muitos santos e caridosos –, realmente não vale a pena, porque não é de fato sua. Muitos decidem morrer para então – e só assim – conseguir a separação e o livramento que em vida são incapazes de realizar, tamanho é o próprio medo de ficarem sozinhos e abandonados pela perda de amor do outro.

Mas amor não quer dizer concordar em tudo, aceitar tudo e obedecer pelo medo e pela pressão alheia daqueles que acreditamos ser nossos únicos pilares. O amor e o laço consistem no respeito pelo outro como sujeito e em compreender quando ele diz não.

Quando não estamos conosco do nosso lado, caímos no equívoco de acreditar que fazendo aquilo que esperam de nós podemos ser amados e ter companhia garantida. Porém, estamos bem acompanhados o suficiente quando estamos com o nosso desejo e podemos, sem aprovação externa, ficar contentes.

Ninguém será melhor. O outro quer o melhor para ele. Muitas vezes é preciso insistir, repetir e dizer bem alto, em bom som, o que não concordamos e não queremos. Nunca discuta sobre seu desejo com alguém além de si mesmo, até que esteja certo do que é. Depois, apenas comunique, converse, mas não deixe decisões sobre sua vida em mãos que não as suas.

Basta dizer sobre o seu desejo com tranquilidade e sem ofensas, mesmo que o outro recuse, não escute ou discuta. Aí é com ele. O que te concerne é seu desejo. Teu corpo é um templo, é sagrado, e não deve ser invadido como um campo sem defesas.

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