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Estado de Minas

O poder da escrita em tempos de pandemia

Escritores têm compartilhado ideias sobre o mundo antes, durante e depois da COVID-19


postado em 24/05/2020 09:40 / atualizado em 24/05/2020 09:42

Muitos comentaristas, artistas e escritores têm compartilhado suas ideias sobre o mundo antes, durante e depois da pandemia do coronavírus. São tantos vídeos, lives e mensagens que precisamos priorizar ou ficaríamos o dia todo ocupados. E, às vezes, nem quero ver mais telejornais ou
 escutar opiniões, a não ser aquelas de pessoas que realmente têm conteúdo e sabedoria ou estudo para saber do que estão falando.

Não é preconceito, mas hoje a chuva de declarações, opiniões e exibicionistas na internet nos obriga a fazer seleção de quem nos alcança ou não. Aliás, nem é por causa da época. Acredito que, desde que a comunicação virtual surgiu, mudou o mundo, dando espaço para todos democraticamente. Isto é bom e ruim.

Nos obriga ao exercício do discernimento: é preciso duvidar, confirmar, para saber se determinadas notícias e declarações são realmente verdadeiras, porque hoje se declara publicamente o que der na cabeça, sem medir consequências ou a relevância.  Ou mesmo se mede muito bem como enganar os ingênuos e desavisados e contar mentiras para favorecer ou degradar alguém ou algum negócio.

Sou habituada com a associação livre no divã e, por uma questão clínica, ela é preciosa. Mas não me agrada este tanto de gente querendo declarar coisa nenhuma e se mostrar sem atributos ou saber que acrescente algo; é besteirol ou fake news, sabe-se lá com que intenções.

Então, convém saber de onde vem a opinião antes de sair disseminando e passando para frente, seja compartilhando, seja em grupos. Recentemente, li muitas opiniões interessantes, mas algumas me chamaram atenção por se tratarem de escritores que aprecio e acompanho, e suas declarações têm peso pelo que são.

Um deles, Leonardo Padura, escritor cubano, em matéria neste mesmo caderno Cultura do Estado de Minas. O título: “Somos o coronavírus do mundo”. Segundo ele, o ser humano foi vencedor na luta biológica, histórica e natural do planeta e um bichinho microscópico é capaz de nos derrotar e, por isso, precisamos de um pouquinho mais de modéstia.

O homem foi injusto com o planeta, com desmatamentos, queimadas, poluição e com outras espécies agimos da mesma forma que o coronavírus age conosco. Chegamos dominando e exterminando como o vírus, e hoje é como se estivéssemos nos cobrando o que fizemos contra o mundo. Seu novo livro vai falar sobre um detetive protagonista de seus romances policiais na pandemia e o fato de que éramos felizes e não sabíamos; podíamos abraçar, beijar, falando de afetividade.

Outra opinião interessante, também publicada também neste jornal, difere do otimismo dos que apregoam um mundo melhor. É a do escritor francês Michel Houellebecq. Para ele, o mundo pós-coronavírus não será melhor. Ao contrário, será um pouco pior. Segundo o escritor, esta coisa de nada será como antes, não cola. Poderá haver uma aceleração de algumas mudanças em curso, em particular, a diminuição do contato humano.

E ainda a crise oferece uma magnífica razão de ser para esta tendência acentuada: uma certa obsolescência que parece afetar as relações humanas. Hoje, mortes são números e a idade é um risco, pois se questiona se deveriam ocupar leitos. Nunca havíamos expressado uma indecência tão serena de que a vida não tem valor.

Ainda o moçambicano, escritor e biólogo Mia Couto, para quem a literatura tem força para ajudar as pessoas a continuarem sonhando, porém neste momento em que acompanha como biólogo o que se passa com vírus pelo mundo, gostaria de acreditar que despertaremos nossa consciência e os governos sobre a importância da saúde pública e da educação, um ideal da cooperação solidária em vez da competição e exclusão. Gostaria que a falência neoliberal ficasse clara e que a solidariedade que agora se vê deveria ser uma constante na história da humanidade.

São opiniões que nos fazem pensar. Isto é bom, porque o nosso mundo só poderá piorar, melhorar ou mudar se a humanidade que nele habita tiver força para outra guerra... forte, porém uma guerra pacífica. Quem sabe tudo isso agora vai nos ensinar mais sobre nossa própria falta de modéstia?




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