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Estado de Minas MÍDIA E PODER

Sete grupos de lunáticos que não estão à porta dos quartéis

São parte do nós que isolamos um grupo para chamar de lunáticos, na ilusão, um tanto fanática, de que somos os sãos, embora à espera de um disco voador


22/12/2022 09:38 - atualizado 22/12/2022 10:00

disco voador
Estamos todos esperando nosso disco voador? (foto: Public Domain Pictures)


Virou esporte nacional chamar lunáticos os bolsonaristas plantados nas portas dos quartéis, sob sol e chuva, à espera do disco voador da intervenção militar que virá evitar a posse de Lula.

Da parte da maioria que votou no próprio e mesmo de grande parcela do outro lado do espectro ideológico, que não vê consequência em ficar berrando para carros e militares surdos chavões dos anos 60 a respeito de pátria, família e propriedade.

Pode-se dizer que formam uma grande maioria que os isola num feudo de insanidade, como se proclamassem que o resto da sociedade longe dos quartéis — nós, os modernos, limpinhos e sãos — é a normalidade.
Mas andam esquecendo, andamos, os lunáticos em série espalhados pelo país, das mais baixas às mais altas escalas de poder, para os quais não se dá o devido crédito e atenção. A saber:

1. Tem um enorme grupo de lunáticos no partido que elegeu o novo presidente da República achando que ganhou a eleição sem apoio da centro-direita diante da qual se ajoelhou na campanha, e agora quer governar como se a outra parte não existisse. Revertem a grande máxima que compara a tomada do poder a tocar violino: toma-se com a esquerda e toca-se com a direita. Tomaram com a direita e vão tocar com a esquerda.

2. Outra grande parte de lunáticos do mesmo grupo quer escantear dos ministérios, não só nomes da direita, mas os de técnicos de alto nível, para atender à sua esquizofrenia partidária. Se não for nome do PT, não serve.

3. Outra grande parte, igualmente lunática, acha que o mercado financeiro é culpado pelo seu presidente querer gastar sem saber o que vai arrecadar. Como seus colegas das portas dos quartéis, parecem acreditar num disco voador que despeja dinheiro independente dos esforços para produzi-lo.

4. Como seu presidente, que volta e meia revela suas tendências lunáticas, o grupo como um todo acha que criar ministério resolve tudo e, quanto mais tiver, melhor. Vai ter um para índio, população menor que a de dentistas ou jornalistas, que não ganharão ministério. O país que já teve 14 no governo Collor, como países civilizados e racionais, chegou a mais de 40 com Lula e Dilma. Caiu para pouco mais de 20 nos governos Temer e Bolsonaro, mas voltará a beirar os 40 com o novo capitão do lunatismo.

5. Fora do âmbito do Executivo, tem uma multidão de lunáticos do outro lado da Praça dos Três Poderes, debaixo das duas cúpulas do Congresso que serviriam bem a telhado de hospício. Em grande parte, eles acham sinceramente que quem administra o orçamento público são eles e nem quem foi eleito para gerir o país com base numa proposta de receitas e despesas. E cobram alto para mudar de ideia, como quem reza para as Forças Armadas.

6. Ainda na mesma praça, tem outro grupo de lunáticos, vestidos de toga preta à falta de uma indumentária mais apropriada às suas alucinações, que acha perfeitamente natural confraternizar com um ex-condenado por eles, de quem deveriam manter segura distância. Numa festa de advogados igualmente lunáticos que já presentearam esse ex-condenado com uma beca, símbolo da justiça, quatro deles brindaram a um novo tempo de insanidade.

7. Fora a grande parte acantonada nas redações da imprensa tradicional que, à espera do disco voador da racionalidade, faz vista grossa para o que essa turma da capa preta vem cometendo para colocar na camisa de força de multas e prisões pessoas e parlamentares. Como se fossem os médicos do hospício, que sabem muito bem fazer conchavos, insanos, para escolher quem calam e proteger quem ajudaram a eleger.

O principal capa preta desses me lembra Simão Bacamarte, de O Alienista, de Machado de Assis, o médico que foi recolhendo todo mundo da pequena Itaguaí que decretava como louco.

Até pelo menos o final do livro, quando enfim chega à conclusão de que o louco é ele, tinha amplo apoio de uma sociedade totalmente lunatizada. 

Que é mais ou menos o estágio em que estamos. Escolhemos um grupo para chamar de lunáticos, na ilusão, um tanto fanática, de que somos — e apoiamos — os certinhos. Isolamos um grupo de degenerados para nos iludir com a ideia de que pertencemos à parte sã.

Mas também estamos esperando um disco voador.

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