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Estado de Minas MÍDIA E PODER

Sete sinais de que Bolsonaro não está morto politicamente

Quais as condições que mantém o presidente competitivo e suas estratégias para incendiar seu público fiel de 25% do eleitorado, antes e depois da eleição


22/02/2022 07:29 - atualizado 22/02/2022 10:31

Bolsonaro discursa na Hungria
(foto: Attila KISBENEDEK / AFP)


Temos nos habituado a decretar a morte de Jair Bolsonaro, a cada uma de suas trapalhadas, que fortalecem nossa convicção de que nunca deveria ter passado de síndico de prédio. Com restrições.

Ou:
- a cada vez que os índices da economia pioram;
- Lula faz movimentos de realpolitik para armar uma frente de centro-direita-e-esquerda; e
- os candidatos da terceira via dão sinais de que seria melhor que tivessem saído candidatos a síndicos de seus respectivos prédios.

É difícil imaginar que a maior parte de seus eleitores decepcionados, determinantes em sua campanha, sejam re-convertidos para dar-lhe uma segunda chance de colocar o país em mais quatro anos de tensão, mesmo que a única alternativa seja Lula.

Contra todas as evidências, porém, ele está mais firme que nunca. Aquele moribundo em torno de quem há uma multidão de gente rezando para que se levante e conjunturas ambientais favoráveis para que volte a respirar sem ajuda de aparelhos.

A saber:

1) Apesar de todos os seus descalabros e da pandemia que lhe comeu dois anos de governo, resistiu e mantém fiéis 25% do eleitorado.

2) A economia dá sinais de recuperação, dólar em baixa, bolsa e emprego em alta.

3) O Auxilio Brasil de R$ 400,00 lhe dará um empurrão como deu no meio do primeiro ano da pandemia, entre junho e julho, quando o mundo desabava.

4) Está muito mais estruturado nas redes sociais que todos os outros candidatos, chegando ao dobro ou triplo de seguidores, interações e capacidade de tumulto em relação a seu polo, Lula, dependendo da plataforma.

5) Vai fazer uma campanha de TV exuberante, com as obras do competente ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, como Dilma Rousseff fez na campanha de 2014 e derrubou sua então alta rejeição. Tem dinheiro e tempo de TV.

6) Pesquisas mais recentes indicam uma congelada no crescimento de Lula, com algum recuo, e na queda de Bolsonaro, com algum avanço.

7) Terá candidatos competitivos ao Senado e a governos estaduais importantes. Últimas pesquisas do Ibespe em São Paulo e do F5 Atualiza Dados em Minas indicaram como a vida de Lula poderá não ser fácil em estados estratégicos: diferença de apenas 8% nas estimuladas e empate técnico nas espontâneas.

A essa altura, faz tudo certo para  manter esse patrimônio: fala menos bobagens, articula as candidaturas de seus ministros e planta memes como o de que salvou a Ucrânia.

Que o mantém em evidência e atiça os instintos mais primitivos que fazem sua marca, a favor e contra, com a ajuda inestimável de seus críticos, seus ex-eleitores e da grande imprensa, que manipula com rara competência.

Ao mesmo tempo, planeja o dia seguinte a uma derrota, como também uma forma de campanha, prévia e posterior. Serve para assustar o establishment agora e ressuscitar-se no dia seguinte, quando denunciar que foi fraudado.

Não para "capitolizar" a derrota à moda Trump e derrubar o regime, como se prega, mas para ter uma boa desculpa de derrotado para manter o patrimônio eleitoral sob controle.

Como Lula, que vendeu com muita competência a embromação de que teria vencido as eleições de 2018 se não tivessem lhe proibido de disputá-las, quando se sabe que estava inelegível após duas condenações de segunda instância.

Bolsonaro repete a velha direita que amedrontava o eleitorado com o esquerdismo de Lula. Não podendo dizer agora que o esquerdista de centro vai implantar o comunismo e nem garantir que roubará ou deixará roubar, se eleito, ataca o sistema eleitoral.

O que também faz o maior sucesso entre seus seguidores, diga-se.

Mesmo depois de ter feito um pacto de não agressão, falar mal de Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, à frente do TSE hoje e amanhã, tem sido suas estratégias preferidas para animar a base militante.

Sempre que pode, os acusa de terem soltado seu adversário, no tipo de bravata seletiva de quem sabe em quem bater. Fosse mais honesto, incluiria no pacote Gilmar Mendes, o grande mentor da desmoralização de Sergio Moro e da anulação da Lava Jato e de todos os processos do petista.

Mas Gilmar, como se sabe, é um ministro que se deve ter por perto e com quem se deve tomar um café de vez em quando, não fossem apenas por afinidade e interesses em comum contra o ex juiz. Vai que possa precisar também de ser solto…

De forma que, somando tudo, o moribundo tem um passado ruim meio superado, um presente cheio de carpideiras lhe injetando ânimo e um futuro de espantalho chutando a tumba se insistirem em sepultá-lo vivo.

Não o subestimem. Mesmo — e se — derrotado, pairará como uma assombração sobre as próximas eleições. Como Trump nos EUA, também equivocadamente tratado como defunto antes da hora.

Moribundo, espantalho ou assombração, em política, não é algo que orna com a ideia de morto.

> Aqui, artigos anteriores da coluna.

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