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Estado de Minas COLUNA

Guerra, inflação e juros desafiam o Brasil e o mundo

'A dependência dos combustíveis e fertilizantes importados é herança maldita que não podemos deixar para nossos filhos'


15/03/2022 04:00 - atualizado 15/03/2022 07:24

Movimento em supermercado do Bairro Funcionários, em BH
Para conter a inflação ao consumidor, os bancos centrais do Brasil, EUA e Inglaterra definem esta semana o rumo das taxas de juros (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 21/6/21)

Depois de uma semana inteira de más notícias patrocinadas pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, as economias do Brasil, dos Estados Unidos e do Reino Unido vão poder sentir, a partir de amanhã, quão amargos serão os remédios adotados para enfrentar uma das primeiras e inevitáveis consequências do conflito: a inflação. O Banco Central do Brasil (BC) e a Reserva Federal (Fed) dos EUA terão de tomar amanhã as decisões de política econômica mais importantes dos últimos tempos. Na quinta-feira, será a vez da diretoria do Banco da Inglaterra.
 
Foi pura coincidência, já que essas agendas são definidas com muita antecedência. Coincidência maior é a situação em que essas economias se encontram. Desde o início da invasão da Ucrânia, ninguém escapou da alta generalizada dos preços dos combustíveis e de várias commodities alimentares.
 
Antes pressionados pelo desarranjo das cadeias de suprimentos - consequência das paralisações provocadas pela pandemia da COVID-19 - os preços em geral mal começavam a voltar à normalidade quando ganharam esse novo e avassalador impulso. Nos Estados Unidos, país pouco acostumado a enfrentar disparadas de preços, a inflação chegou a impensáveis 7% ao ano no primeiro mês de 2022 e continuou subindo. Fevereiro fechou com um recorde histórico de 40 anos, ao registrar alta anual acumulada de 7,9%.
 
Para o mercado americano, esse patamar de inflação tem impacto insustentável na taxa básica de juros que, até então, oscilava entre zero e 0,50% ao ano. Ou seja, o investidor passou a pagar caro demais para os bancos ou o governo guardarem o dinheiro dele. Não foi à toa, portanto, que o Fed já tinha decidido aumentar 25 pontos-base (0,25%) na reunião de março. Vai ficar só nisso?
 
Essa é a dúvida que preocupa as autoridades monetárias de todo o mundo. Ocorre que o que mais pesou na inflação de fevereiro nos Estados Unidos foi o preço da gasolina. Em fevereiro, o galão de 3,8 litros passou a custar ao consumidor US$ 4,43, uma alta de assustadores 22% em poucas semanas.
 
Há, então, duas razões para essa dúvida. A primeira é saber até que ponto esse aumento do custo de um insumo básico como o combustível vai se espalhar pela economia. A segunda é a incerteza quanto à duração da disparada das cotações internacionais do petróleo, já que se trata da consequência de uma guerra envolvendo um dos grandes fornecedores mundiais.
 
Qualquer semelhança com o que o ocorre no Brasil não é mera coincidência. Mais vulnerável às crises internacionais, a economia brasileira já vinha enfrentando inflação mais acelerada no período pós-pandemia. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou elevação de 1,01 em fevereiro, empurrando a inflação acumulada em 12 meses para 10,54%.
 

Mais juros

A única "vantagem" - se é que se pode chamar assim essa diferença - é que, ao contrário do Fed americano, a autoridade brasileira já vinha apertando sua política monetária, com aumentos em série da taxa básica (Selic) de até 1,5 ponto percentual por vez. Com isso, o Banco Central procurou correr no mesmo passo ou um pouco à frente da curva de inflação.
 
Ou seja, mesmo que reduza o próximo aumento na quarta-feira para "apenas" um ponto percentual, elevando a Selic para 11,75% ao ano, ainda estará à frente da curva inflacionária. Contudo, voltando às coincidências com os demais países, permanece a dúvida quanto à duração da guerra e ao nível de contaminação dos demais setores da economia pelo aumento dos combustíveis. O detalhe é que os reajustes de 18,7% nos preços da gasolina e de 24,9% nos do diesel, praticados na semana passada pela Petrobras, refletem apenas em parte os efeitos da guerra sobre os derivados de petróleo. Novos efeitos virão e vão se somar aos novos preços dos fertilizantes, quase totalmente importados.
 
O momento é delicado. Exige sensibilidade das autoridades, mas também julgamento técnico para não tomarem a medida errada, para mais ou para menos. Afinal, os juros elevados em excesso inibem o investimento produtivo de que tanto o país precisa.
 

Conversa fiada

Igual prudência e responsabilidade não podem faltar no esforço para mitigar os efeitos do preço dos combustíveis e dos alimentos. Alguns passos já foram dados no Congresso, com referência à nova fórmula de incidência do imposto estadual sobre os combustíveis. Os tributos federais PIS e Cofins serão reduzidos simultaneamente à entrada em vigor desse novo ICMS.
 
Outras ideias andaram circulando por Brasília. Felizmente, a pior delas parece descartada: a do congelamento dos preços dos combustíveis. Menos intervencionista e, portanto, menos ruim, pode ser a criação de uma bolsa-caminhoneiro, transitória e de valor limitado à capacidade do Tesouro Nacional. No curto prazo, a vontade de ajudar os que mais precisam é louvável, mas não pode se transformar em dano fiscal para a sociedade.
 
Quanto ao futuro próximo, precisamos entender que a dependência dos combustíveis e de fertilizantes importados deveria envergonhar os governos passados. É herança maldita que não podemos deixar para nossos filhos, já que temos os insumos primários. O resto é água turva para encobrir outros interesses.

O jornalista Pedro Lobato escreve quinzenalmente às terças-feiras 

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