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Estado de Minas COLUNA

É preciso colocar o dedo na ferida do risco de apagão de energia

A sociedade brasileira está pagando um preço caro por não ter construído usinas hidrelétricas com reservatórios nos últimos anos


14/09/2021 04:00 - atualizado 14/09/2021 07:19

Lago formado pela usina de Furnas
Lago formado pela usina de Furnas (foto: Fao Tavares/Folha da Manha - 30/1/15)
Com a nossa velha mania de apontar culpados, o brasileiro logo se lembra da dobradinha governo/São Pedro, ao enfrentar mais uma crise hídrica. O primeiro, por não ter feito chover no tempo certo, “como deveria ser sua obrigação”; o segundo, por não ter vindo em nosso socorro, “já que tanto merecemos”.

Toda crise deveria servir para a sociedade evoluir, identificar seus erros e buscar corrigi-los. Mas parece que quase nada aprendemos com as várias crises hídricas que tivemos, desde o famoso racionamento de energia de 2001 – popularmente apelidado de apagão.

Nas contas do governo e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), é bem possível que a medida drástica do racionamento seja evitada este ano, graças ao aporte suplementar da geração eólica e, principalmente, ao acionamento de usinas termelétricas movidas a óleo, dispendiosas e poluentes.
 
É devido ao elevado custo operacional dessas termelétricas que, nos últimos anos, aprendemos a conviver com as tais bandeiras nas cores tradicionalmente usadas nos semáforos do trânsito. O que a maioria dos consumidores ainda não sabe é que essa convivência pode se estender por mais tempo. E o mais intrigante é que será difícil negar o acerto dessa medida.

Ocorre que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) está formatando um modelo de contratação de energia termelétrica que antecipa as eventuais crises hídricas dos próximos cinco anos. Em princípio, esses contratos pretendem cobrir o período compreendido entre abril de 2022 a dezembro de 2025. Assim, com ou sem chuvas, as usinas termelétricas poderão ser acionadas com um propósito diferente do atual durante todo esse prazo.

Hoje, elas suprem a falta de água nos reservatórios; no período proposto, elas evitarão que se gaste a água acumulada, até que os reservatórios recuperem suas capacidades máximas perdidas nos últimos anos. Não vai custar barato. Em compensação, ninguém vai deixar de investir na expansão da capacidade de produção do país, seja no campo, seja na indústria ou nos serviços, temendo a escassez desse insumo básico.

A verdade é que o aumento da demanda por energia tem crescido mais rápido do que a oferta hidroelétrica, ao mesmo tempo em que as fontes alternativas ainda não conseguem dispensar o acionamento das termelétricas. De fato, a combinação de pouca chuva com a operação intensa dos geradores acabou por afetar perigosamente a capacidade das represas.

Prevenção


Portanto, a contratação por prazos mais longos das termelétricas atende à necessidade de se reencherem os reservatórios, contando não mais só com as chuvas de um ano, mas com a economia da água represada e não turbinada em sua totalidade. Para isso, o plano inclui o uso de todas as fontes. alternativas de energia, incluindo a térmica, mesmo com chuvas.

A essa altura, são inevitáveis as perguntas: Por que chegamos a essa situação? Após o quase colapso de 2001, as decisões tomadas no país foram adequadas ao crescimento do setor elétrico?. As respostas podem não ser agradáveis.

O Brasil tem um potencial hidroenergético invejável. Grandes rios e uma geografia favorável em vários pontos do nosso território indicam a capacidade de geração de até 246GW de energia limpa, renovável e barata. O país pode se orgulhar do que fez, nesse campo, entre o fim dos anos 1950 e a virada do século, período em que construiu uma sequência de usinas de elevada capacidade de geração, garantidas por grandes reservatórios de água.

Mesmo com todo esse esforço, estima-se que, hoje, apenas um terço do potencial hidrelétrico com que nos presenteou a natureza é explorado. Está claro, então, que, nos últimos 20 anos, não conseguimos avançar satisfatoriamente na ampliação da capacidade de geração e, hoje, somos reféns da boa vontade do guardião das chaves do céu.


Inteligência


Passa da hora de refletirmos com maturidade e patriotismo sobre essa falha cometida contra o desenvolvimento econômico do país e a melhora da qualidade de vida da população. No último sábado, na inauguração de uma linha de transmissão elétrica em Janaúba, o diretor-geral da Aneel, André Pepitoni da Nóbrega, ao comentar a importância e a racionalidade dos leilões de contratos de cinco anos, colocou o dedo na ferida: “A sociedade brasileira está pagando um preço caro por não ter construído usinas com reservatórios nos últimos anos”.

A ideia de construir usinas “a fio d’água”, isto é, sem reservatório, sujeitou a geração hidrelétrica às incertezas do regime de chuvas. O elementar princípio da regularização do fluxo dos rios, em que se economiza a água que sobra hoje para que ela não falte amanhã, vazou pelos vertedouros das barragens mais recentes. Mesmo nós, mineiros, esquecemos o papel que cumpriram os lagos de Três Marias, no Rio São Francisco, e o de Furnas, no Rio Grande.

Espaço não nos falta para abrigar legítimos interesses indígenas, bem como a preservação ambiental, mas, nos últimos 20 anos, não só impedimos que nossa inteligência criasse soluções, como nos faltou honestidade e habilidade política para negociarmos o que era melhor para o país.

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