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Estado de Minas CRISE HÍDRICA

Risco de apagão pode ser tão danoso para o Brasil quanto o de 2001

Até agora foi possível adiar a medida radical graças ao acionamento das térmicas, mas se as chuvas não vierem, a situação ficará crítica


31/08/2021 04:00 - atualizado 31/08/2021 07:21

País terá de ampliar geração de eletricidade, com desafio de fazer isso sem passar pelo caminho fácil dos derivados de petróleo(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 4/2/20)
País terá de ampliar geração de eletricidade, com desafio de fazer isso sem passar pelo caminho fácil dos derivados de petróleo (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 4/2/20)


O mês de setembro, que se inicia amanhã, volta ser decisivo quanto ao fornecimento de algo absolutamente fundamental para o funcionamento da economia e para o dia e a noite dos brasileiros. Trata-se da energia elétrica, insumo que vem se tornando, há mais de um século, tão presente em nossas vidas que, muitas vezes, nem notamos mais a sua presença.

Um exemplo é a organização do trânsito de veículos e de pedestres nas cidades. Basta um defeito temporário na sinalização luminosa de uma avenida para provocar confusão e, não raro, acidentes e muita irritação. Nem é preciso falar nas geladeiras, indispensáveis mesmo nas casas mais modestas e, no momento, nos postos de vacinação. Não menos ruim é o desconforto de elevadores parados, às vezes entre um andar e outro.

O que dizer então da informática, das telecomunicações, da economia e dos empregos? A indústria, cada vez mais automatizada, simplesmente não opera sem eletricidade. E já vai longe o tempo do lampião, quando a atividade produtiva no campo contava apenas com o braço forte do sertanejo. A produtividade de nossa agropecuária não é fruto só da ciência, mas também da tecnologia e da eletrificação.

Tudo isso para ficarmos apenas no presente. Para o futuro, a eletricidade deve ganhar papel ainda mais importante em nossas vidas, a começar pelos automóveis, ônibus e caminhões. Ou seja, a expectativa para os próximos anos é de que será necessário ampliar a geração de eletricidade. O desafio será fazer isso sem passar pelo caminho fácil dos derivados de petróleo.

Por enquanto, temos que nos preocupar com o presente, isto é, com o dever de casa que, há 20 anos, temos deixado de fazer. Ao longo das próximas duas semanas vamos saber se vai se confirmar a pior seca dos últimos anos nas regiões de maior consumo de energia: Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

Estamos correndo o risco de um racionamento de energia, que pode ser tão danoso como o ocorrido em 2001. Até agora, foi possível adiar essa medida radical, graças ao acionamento das usinas térmicas – poluentes, mais caras, movidas a óleo combustível. Mas, se as chuvas não vierem, a situação ficará crítica.

Tecnicamente, considera-se operacional para usinas hidrelétricas o nível mínimo de 10% da capacidade do reservatório de água. Ocorre que exatamente nas regiões que mais demandam energia, tanto para a população quanto para as atividades produtivas, o volume disponível nas represas vem baixando rapidamente, sem a reposição pelas chuvas.

RESERVATÓRIOS

Uma rápida conferida no mapa que mais conhecemos, o do nosso estado natal, vemos que os dois rios que formam o famoso nariz do Triângulo Mineiro são cruciais para a geração hidrelétrica das regiões Sudeste e Centro-Oeste.

O rio que corre na parte de cima do nariz mineiro é o Paranaíba e o de baixo é o Grande. Esses dois rios respondem pela maior parte das águas que geram energia para o Subsistema Sudeste/Centro-Oeste. Esse subsistema conta ainda com parte da geração da Usina de Serra da Mesa, instalada no Rio Tocantins. Ocorre que todos os reservatórios que atendem ao subsistema fecharam a semana passada com apenas 21,93% de sua capacidade média, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Na bacia do Rio Grande, que responde por um quarto de toda a geração do subsistema, sua maior unidade, a Hidrelétrica de Furnas, estava com volume de água equivalente a 17,47% da sua capacidade. Já a bacia do Rio Paranaíba (parte de cima do nariz mineiro) tem capacidade de geração maior (38,42% do subsistema). Mas a situação dos seus seis reservatórios é ainda mais preocupante. Nos três maiores, Nova Ponte, Emborcação e Itumbiara, o nível das águas estava entre 11% e 12%, ou seja, muito perto do mínimo operacional.

É certo que a situação dos reservatórios do Norte e do Nordeste do país estão com níveis mais altos. Além disso, o Nordeste conta com cerca de 80% das unidades de geração eólica (cataventos) do país, capazes de suprir até 20% da demanda local e de parte do Sudeste. Mas tudo isso e as usinas térmicas já acionadas podem ser insuficientes se as chuvas não vierem a tempo.

MEDIDAS

Não é, portanto, sem motivo que o governo anunciou na semana passada as primeiras medidas de contenção do consumo, antes mesmo de se confirmar a continuidade da seca. A primeira delas é dirigida ao maior consumidor, o setor industrial, que poderá ter compensação financeira por economizar pelo menos 5 megawatts médios por período de 4 a 7 horas.

O consumidor residencial também terá compensação financeira, na forma de desconto na conta de luz, que pode chegar até a 15%. Além disso, o governo baixou uma orientação para que todas as repartições do serviço público federal (são mais 23 mil prédios) economizem entre 10% e 20% de eletricidade, em relação ao consumido em igual período anterior à pandemia.

Mesmo que isso funcione agora, não podemos continuar ignorando a lição de 2001 de que o Brasil é grande demais para depender tanto da chuva para gerar energia. A natureza nos legou os ventos e o sol. Aproveitá-los bem tem tudo a ver com nosso futuro.

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