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Estado de Minas COLUNA

Guerra política e matança silenciosa predominam sobre a necessária união

Enquanto o coronavírus ceifa vidas, país vive cenário de conflitos e atitudes radicais, em lugar do entendimento para a superação da crise


08/05/2021 04:00 - atualizado 08/05/2021 00:41

Avanço da contaminação e das mortes provocadas pelo coronavírus deveria ser motivo de união nacional para busca de soluções(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Avanço da contaminação e das mortes provocadas pelo coronavírus deveria ser motivo de união nacional para busca de soluções (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

A data de hoje, 8 de maio, é significativa. Lembra o dia em que os sinos dobraram para comemorar o fim da carnificina da 2ª Guerra Mundial na Europa. Nesse dia, em 1945, muitas mães, que amanhã homenageamos, choraram lágrimas de alegria pelo retorno de seus filhos, sãos e salvos do horror e da matança. Vivemos, no Brasil atual, uma matança silenciosa que nos consome por dentro porque estamos todos dentro de uma guerra de sobrevivência individual e coletiva contra um ceifador de vidas cruel, o COVID 19. Passará. Mas ficará o aprendizado de respeito e sensibilidade à “pessoa da casa ao lado”? Pelo encaminhamento tortuoso das questões mais relevantes do nosso país hoje, pelas atitudes sectárias das principais lideranças, pela estupidez de muitas “soluções” apresentadas, temo que a escalada de conflitos está longe de cessar no nosso teatro de guerra fratricida.

Por Quem os Sinos Dobram é o título de um clássico americano, de Ernest Hemingway. Recomendo. O romance se passa na guerra civil espanhola, onde todos se matam entre irmãos, parentes e vizinhos. Visto em retrospectiva histórica, o conflito é de uma burrice inútil e sangrenta que, no entanto, arrastou milhões de espanhóis a uma posição de total radicalismo, só resolvido pelo sangue. No Brasil atual, sobram exemplos de atitudes radicais, mais perigosas e letais do que o próprio coronavírus.

Onde falta a leitura correta da realidade, despontam as paixões cegas, alimento dos conflitos e da destruição mútua. Não é sintoma exclusivo nosso, brasileiro, porque corresponde a um desdobramento mundial do vírus sobre as economias e as sociedades: a explosão das desigualdades e suas sequelas. Entre estas, a morte é a principal: por que se foi uma notável pessoa como Paulo Gustavo e não eu? As desigualdades só começam por ai. Avançam por amplos campos de injustiça social. Por que, nesse ano de crise extrema, o caixa e a liquidez das grandes empresas e bancos aumentou (dados de balanços e das bolsas) enquanto pequenos e médios empresários são dizimados?

Por que uns poucos milhões têm empregos públicos e ganhos assegurados em casa, enquanto muitos milhões penam a perda de emprego ou cortes salariais nos setores diretamente produtivos? Por que o inimigo comum – o COVID - vira guerra política e espetáculo de CPI, quando deveria ser o motivo de união nacional e gerar programa de superação desta e de outras mazelas?

A vizinha Colômbia, país cheio de riquezas e grande povo, nos oferece pista para nossas indagações. Semana passada eclodiu violento conflito de rua, com 19 mortos entre agentes da ordem e manifestantes. Em várias cidades e na capital, Bogotá, o povo se insurgiu contra o que o governo chamava, ladinamente, de “reforma tributária”. Aqui temos o mesmo problema: há gente, dentro e fora do governo, que defende uma reforma tributária com aspas, porque voltada – por mais estúpido que seja – a querer extrair uma renda extra dos MENOS capazes de pagar para favorecer os que podem mais na sociedade.

Em plena pandemia de desigualdades gritantes, na Colômbia e no Brasil os políticos se dedicam a debater projetos para agravar a vida dos mais pobres e para desonerar os que não perderam nada na crise. O contraditório já se evidenciou de modo sangrento nas ruas da Colômbia. Aqui, um relator da “reforma tributária” dos ricos, chamada de PEC 45, insistia, ainda esta semana numa comissão da Câmara, em onerar as alíquotas de alimentos, de escolas, de assistência médica. O presidente da Câmara sustou a iniciativa, mas haverá grupos de interesse tentando retomar a proposta dentro do próprio governo, com outro nome e outra sigla de tributo.

O Brasil já fez reformas tributárias dignas desse nome pomposo. Antes de reformar sobre o bolso da população, lideranças políticas deveriam olhar para o que elas mesmas autorizam os governos a gastar, pois é no controle do gasto que nasce qualquer boa reforma tributária. A boa reforma atende a princípios de bom senso: vou pagar menos? Vai ser mais simples pagar? Será mais justo para os mais pobres? Tornará nossas empresas mais fortes e o governo menos inchado? Se as respostas forem todas positivas, vamos em frente. Como não são, melhor não insistir, pois podemos parar na Colômbia.

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